Opinião
- 17 de julho de 2013
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As faces da corrupção (Painel, versão completa)
Os jovens são tão corruptos quanto os adultos? Por que (não) ou (sim)?
Taís Machado: Nossa natureza caída é corrupta, sim, ela se afastou do original, ela decompõe-se, ela perde a noção de como era para ser. Em Cristo é que podemos ganhar ou começar a enxergar o quão longe estamos do que era para ser, isto é, a noção maior do quão corruptos somos.
A corrupção, me parece, vai amadurecendo em nós naturalmente, a menos que se experimente um novo nascimento – aquele que Cristo diz ser necessário.
Os jovens, apesar do pouco tempo de vida, tem a oportunidade de irem se aprimorando através de formas criativas e inovadoras em relação à corrupção. Os anos só acumulam e ampliam essa ferida em nós. Portanto, talvez sejam menos corruptos tão somente por uma questão de tempo.
Entretanto, se a superação da corrupção pode passar principalmente pelo resgate do interesse público, ou, em uma linguagem mais próxima do cristianismo, na aprendizagem ou reeducação do olhar comunitário, então, as gerações mais jovens têm o potencial de serem mais corruptas, uma vez que nascem num contexto onde o individualismo, em seu pior sentido, é cada vez maior. Sendo assim, os jovens tendem a se especializar em pensar apenas em si mesmos, aprisionados no “cada um por si”, e alguns ainda se esconderem responsabilizando Deus, que deveria ser por todos. Quando o evangelho de Jesus ensina a cada um pensar no todo. Deus é por nós e não por mim, então, passo a ser moldada por um Deus comunitário, que me convida a romper com minha corrupção. A vantagem da juventude é que, ao menos em tese, tem mais tempo para se arrepender, para tomar outro rumo, para com Jesus aprender a pensar melhor no todo, na comunidade.
Com a expansão das novas tecnologias e redes sociais, você é otimista ou pessimista quanto à diminuição da “cultura da corrupção” entre os jovens?
Taís Machado: Eu gostaria de ser apenas realista, mas meu pessimismo ou otimismo pode ser sempre minha realidade provisória.
Por agora ainda há várias incógnitas quantos aos efeitos das novas tecnologias e redes sociais entre os jovens em especial. Há estudos ditos mais otimistas e outros nem tanto. As influências em termos da “cultura da corrupção”, por um lado, facilitam algumas denúncias e mobilizações, por outro, favorece superficialidade e posturas devassas e perversas cuidadosamente manipuladas.
Há oportunidades para o bem e para o mal, cabe atentarmos para as decisões. O diálogo aberto sobre as potencialidades é fundamental, para que ilusões e inocências não sejam armadilhas ainda mais eficazes.
A salvação de Cristo santifica a sua igreja, mas não a tira da sociedade. E isso nos coloca em uma tensão constante entre o que somos em Cristo e o que somos em sociedade. Que elementos são chaves para a igreja de Cristo não se render – e enfrentar - à corrupção da sociedade?
Martin Weingaertner: Não somos chamados a dar moralinas, mas de sermos luz e sal. O discurso moral contra a corrupção é deveras enganoso, pois ele aponta o erro dos outros sem se dar conta que alimenta o mesmo mal em si mesmo. O evangelho de Jesus, antes de tudo, nos leva a reconhecer que também estamos contaminados pelo verme da corrupção e que precisamos de ajuda para enfrentá-lo. O segundo secretário-geral da ONU, Dag Hammarskjöld, escreveu em seu diário: “Quem não quiser corromper-se na diplomacia e na política, precisa estar disposto a morrer pela verdade!” Só que se expõe assim poderá dar exemplo no ambiente em que vive. Para pastores seria um bom começo resistir à tentação de administrar a igreja em benefício próprio e para a igreja evangélica no geral de empenhar-se para que suas finanças sejam transparentes e públicas. O Brasil carece de exemplos reais.
Muitos dizem que a corrupção é cultural. Como mudar uma cultura? E quem deve mudá-la?
Guilherme de Carvalho: A cultura muda pela intervenção de pessoas e grupos dotados de poder histórico, ou poder formativo-cultural. Essas introduzem novos bens ou artefatos culturais, impulsionam eventos, ou comunicam uma nova interpretação das coisas com alto poder de persuasão.
Considere por exemplo a nova lei sobre o casamento homossexual na Inglaterra. O ministro David Cameron declarou publicamente que sua coalizão de liberais e conservadores “estava comprometida tanto com a mudança da lei quanto [...] também da cultura”. No que foi logo acusado por vários "Tories"1 de adotar táticas Orwelianas. Seja como for, é fascinante e assustador constatar que Cameron quer mais que assegurar direitos; ele quer reformar a cultura – e a moral sexual.
O fato é que há pessoas atuando intencionalmente para mudar culturas. E a cultura muda aonde há um protagonista cultural – seja na política, ou na academia, ou nas artes, ou na economia. Creio que os Cristãos deveriam agir como formadores culturais, mas isso não pode ser feito meramente “tomando os montes da cultura”, como alguns andam dizendo. Não se trata de tentar “tomar o controle”, mas de servir à cultura de forma criativa e renovadora.
Colocar o problema da corrupção na conta da cultura não é torna o problema mais turvo e de difícil solução?
Guilherme de Carvalho: Mas nada pode complicar mais um problema do que interpretá-lo erroneamente, especialmente para vender uma solução fácil. Se for possível mostrar que há conexões internas entre aspectos da cultura e a corrupção na esfera pública, soluções baseadas unilateralmente na mudança política ou econômica se revelarão insustentáveis. Não teremos uma solução pronta, mas ao menos não seríamos mais iludidos por utopias farisaicas.
Qual o custo da corrupção?
Eduardo Nunes: Corrupção é todo desvio de finalidade de um recurso e/ou direito. Logo, há corrupções. E acontecem em distintas esferas (Estado, Empresas, Igrejas, Associações) e formas (diretas, quando os recursos são usados ilegalmente; ou indiretas, quando são aplicados contrariamente aos princípios de seu uso).
As corrupções diretas (superfaturamentos, concorrências viciadas, etc.) são evidentes e as únicas passíveis de punição. Nas indiretas, mais sutis e impuníveis, o recurso é usado para beneficiar poucos e/ou ineficiente-displicentemente. Cabem aqui as organizações religiosas e civis que alavancam agendas de poder ou negócio; as empresas que geram demandas de bens desnecessários e/ou influenciam leis por lucro; as políticas/práticas públicas preferenciais para não pobres, tais como incentivos fiscais excludentes, aparato policial priorizado em proteger a classe média; a Justiça que garante direitos só aos com recursos para reclamá-los; as normas que priorizam o controle à vida; negar acesso a uma tecnologia que salva vidas aos que não podem pagar; o orçamento destinado à guerra e não à paz ou à infraestrutura e não às pessoas. E muitos mais et ceteras.
Há também corrupções individuais, de todos os tipos. A sonegação de impostos, ativa ou através de compras ilegais ou descontos indevidos, é roubo. Estacionar em uma área indevida é desviar a finalidade do uso de um espaço. Conduzir depois de beber ou acima da velocidade corrompe um direito. Priorizar interesses adultos aos das crianças rouba a prioridade delas ao desenvolvimento. Poderia estender a lista com as corrupções no uso de recursos naturais.
As estimativas sobre custos das corrupções são imprecisas porque cada uma delas desencadeia prejuízos sociais e/ou impede ganhos. Mas, é possível deduzir o custo mínimo, através de um caminho metodológico, semelhante ao usado em Astrofísica para encontrar corpos celestes, pelas distorções. Se assumirmos o pressuposto de que os recursos e capacidade da sociedade são suficientes para garantir os Direitos (alimentação, moradia, saúde, educação, paz social, participação, etc.), toda não realização destes (exceto as decorrentes de opção individual) pode ser considerada nos custos das corrupções.
Mais importante do que cifras e rankings subjetivos, as corrupções têm enormes custos humanos. Números? Cito um: mais de 165.000 mortes anuais evitáveis de crianças e adolescentes, no Brasil, só para contar as geradas por falta de saneamento, atendimento em saúde, violências e poluição atmosférica (agravadas pelo modelo de transporte individual movido a incentivo fiscal).
Para reduzir os custos das corrupções é necessária uma intolerância moral que rejeite maniqueísmos, exerça crítica/autocrítica traduzida em participação para promover a transparência e reorientar as ações, segundo o princípio da mordomia cristã: “tudo o que querei que os homens vos façam, fazei vós também a eles”.
A mídia brasileira tem exercido um papel de denunciar a corrupção, principalmente nas relações Governo e Sociedade. Por outro lado, ela também é, repetidamente, acusada de tendenciosa, interesseira e suscetível à corrupção. A mídia é aliada ou inimiga da corrupção?
Rubem Amorese: Entendo que a mídia pode ser aliada ou inimiga da corrupção, dependendo de seus interesses. Ou seja, a mídia é tão interesseira e suscetível à corrupção quanto qualquer órgão governamental.
Dou um exemplo: no blog “Diário do Centro do Mundo”, o jornalista Paulo Nogueira explica por que a Presidente Dilma escolheu o jurista Luís Roberto Barroso para a cadeira vaga do Supremo Tribunal Federal — STF2. De acordo com Nogueira, “Barroso resolve o problema do mensalão. Sua chegada ao Supremo muda o cenário no momento fundamental dos recursos. Desfaz-se o estado de espírito anti-réus que dominou o STF, e que por um momento pareceu que levaria Zé Dirceu à cadeia”. Nogueira se explica: "Joaquim Barbosa, o grande derrotado na nomeação, agora é minoritário. A segunda etapa do julgamento – aquela, sabemos agora – quase que começa do zero. Dirceu pode desfazer a mala, se já não desfez. As sentenças extraordinariamente rigorosas comandadas por Barbosa, e alinhadas com a mídia, vão sofrer uma enorme redução.”
Mas o que tem a nomeação de um juiz para o supremo com o tema da mídia? O próprio Paulo Nogueira explica, em seu artigo. Ainda referindo-se à Presidente:
“Ela poderia enfrentar muitas críticas da mídia com a indicação. Com Barroso, ela neutralizou o maior foco das críticas: as Organizações Globo. Monopolista como a Globo é, você ganha a aprovação dela e o resto está feito no capítulo das relações com a mídia”.
“Barroso é amigo da Globo. Foi advogado da Abert, a associação que defende os interesses da Globo", diz Nogueira. E acrescenta: "Portanto, você não vai ver Jabor, Merval, Ali Kamel, Míriam Leitão ou quem quer que seja na Globo atacando Barroso agora ou, um pouco depois, em suas intervenções no julgamento do recurso”.
Bem, aí está uma ideia de como a mídia e a Justiça podem sofrer influência de interesses, do mesmo modo que o Executivo ou o Legislativo. Não sei se esse comportamento pode ser chamado de corrupção. Mas o exemplo mostra como a “isenção jornalística”, assim como decisões em prol do interesse público praticamente não existem. Nem no âmbito governamental, nem no privado. E nem começamos a falar de propina, ainda.
Notas:
1. Como são conhecidos os membros e eleitores do Tory, antigo partido conservador que deu origem ao atual Partido Conversador e Unionista do Reino Unido.
2. http://diariodocentrodomundo.com.br/por-que-dilma-ficou-com-barroso/
Entrevistados:
Taís Machado: Nossa natureza caída é corrupta, sim, ela se afastou do original, ela decompõe-se, ela perde a noção de como era para ser. Em Cristo é que podemos ganhar ou começar a enxergar o quão longe estamos do que era para ser, isto é, a noção maior do quão corruptos somos.
A corrupção, me parece, vai amadurecendo em nós naturalmente, a menos que se experimente um novo nascimento – aquele que Cristo diz ser necessário.
Os jovens, apesar do pouco tempo de vida, tem a oportunidade de irem se aprimorando através de formas criativas e inovadoras em relação à corrupção. Os anos só acumulam e ampliam essa ferida em nós. Portanto, talvez sejam menos corruptos tão somente por uma questão de tempo.
Entretanto, se a superação da corrupção pode passar principalmente pelo resgate do interesse público, ou, em uma linguagem mais próxima do cristianismo, na aprendizagem ou reeducação do olhar comunitário, então, as gerações mais jovens têm o potencial de serem mais corruptas, uma vez que nascem num contexto onde o individualismo, em seu pior sentido, é cada vez maior. Sendo assim, os jovens tendem a se especializar em pensar apenas em si mesmos, aprisionados no “cada um por si”, e alguns ainda se esconderem responsabilizando Deus, que deveria ser por todos. Quando o evangelho de Jesus ensina a cada um pensar no todo. Deus é por nós e não por mim, então, passo a ser moldada por um Deus comunitário, que me convida a romper com minha corrupção. A vantagem da juventude é que, ao menos em tese, tem mais tempo para se arrepender, para tomar outro rumo, para com Jesus aprender a pensar melhor no todo, na comunidade.
Com a expansão das novas tecnologias e redes sociais, você é otimista ou pessimista quanto à diminuição da “cultura da corrupção” entre os jovens?
Taís Machado: Eu gostaria de ser apenas realista, mas meu pessimismo ou otimismo pode ser sempre minha realidade provisória.
Por agora ainda há várias incógnitas quantos aos efeitos das novas tecnologias e redes sociais entre os jovens em especial. Há estudos ditos mais otimistas e outros nem tanto. As influências em termos da “cultura da corrupção”, por um lado, facilitam algumas denúncias e mobilizações, por outro, favorece superficialidade e posturas devassas e perversas cuidadosamente manipuladas.
Há oportunidades para o bem e para o mal, cabe atentarmos para as decisões. O diálogo aberto sobre as potencialidades é fundamental, para que ilusões e inocências não sejam armadilhas ainda mais eficazes.
A salvação de Cristo santifica a sua igreja, mas não a tira da sociedade. E isso nos coloca em uma tensão constante entre o que somos em Cristo e o que somos em sociedade. Que elementos são chaves para a igreja de Cristo não se render – e enfrentar - à corrupção da sociedade?
Martin Weingaertner: Não somos chamados a dar moralinas, mas de sermos luz e sal. O discurso moral contra a corrupção é deveras enganoso, pois ele aponta o erro dos outros sem se dar conta que alimenta o mesmo mal em si mesmo. O evangelho de Jesus, antes de tudo, nos leva a reconhecer que também estamos contaminados pelo verme da corrupção e que precisamos de ajuda para enfrentá-lo. O segundo secretário-geral da ONU, Dag Hammarskjöld, escreveu em seu diário: “Quem não quiser corromper-se na diplomacia e na política, precisa estar disposto a morrer pela verdade!” Só que se expõe assim poderá dar exemplo no ambiente em que vive. Para pastores seria um bom começo resistir à tentação de administrar a igreja em benefício próprio e para a igreja evangélica no geral de empenhar-se para que suas finanças sejam transparentes e públicas. O Brasil carece de exemplos reais.
Muitos dizem que a corrupção é cultural. Como mudar uma cultura? E quem deve mudá-la?
Guilherme de Carvalho: A cultura muda pela intervenção de pessoas e grupos dotados de poder histórico, ou poder formativo-cultural. Essas introduzem novos bens ou artefatos culturais, impulsionam eventos, ou comunicam uma nova interpretação das coisas com alto poder de persuasão.
Considere por exemplo a nova lei sobre o casamento homossexual na Inglaterra. O ministro David Cameron declarou publicamente que sua coalizão de liberais e conservadores “estava comprometida tanto com a mudança da lei quanto [...] também da cultura”. No que foi logo acusado por vários "Tories"1 de adotar táticas Orwelianas. Seja como for, é fascinante e assustador constatar que Cameron quer mais que assegurar direitos; ele quer reformar a cultura – e a moral sexual.
O fato é que há pessoas atuando intencionalmente para mudar culturas. E a cultura muda aonde há um protagonista cultural – seja na política, ou na academia, ou nas artes, ou na economia. Creio que os Cristãos deveriam agir como formadores culturais, mas isso não pode ser feito meramente “tomando os montes da cultura”, como alguns andam dizendo. Não se trata de tentar “tomar o controle”, mas de servir à cultura de forma criativa e renovadora.
Colocar o problema da corrupção na conta da cultura não é torna o problema mais turvo e de difícil solução?
Guilherme de Carvalho: Mas nada pode complicar mais um problema do que interpretá-lo erroneamente, especialmente para vender uma solução fácil. Se for possível mostrar que há conexões internas entre aspectos da cultura e a corrupção na esfera pública, soluções baseadas unilateralmente na mudança política ou econômica se revelarão insustentáveis. Não teremos uma solução pronta, mas ao menos não seríamos mais iludidos por utopias farisaicas.
Qual o custo da corrupção?
Eduardo Nunes: Corrupção é todo desvio de finalidade de um recurso e/ou direito. Logo, há corrupções. E acontecem em distintas esferas (Estado, Empresas, Igrejas, Associações) e formas (diretas, quando os recursos são usados ilegalmente; ou indiretas, quando são aplicados contrariamente aos princípios de seu uso).
As corrupções diretas (superfaturamentos, concorrências viciadas, etc.) são evidentes e as únicas passíveis de punição. Nas indiretas, mais sutis e impuníveis, o recurso é usado para beneficiar poucos e/ou ineficiente-displicentemente. Cabem aqui as organizações religiosas e civis que alavancam agendas de poder ou negócio; as empresas que geram demandas de bens desnecessários e/ou influenciam leis por lucro; as políticas/práticas públicas preferenciais para não pobres, tais como incentivos fiscais excludentes, aparato policial priorizado em proteger a classe média; a Justiça que garante direitos só aos com recursos para reclamá-los; as normas que priorizam o controle à vida; negar acesso a uma tecnologia que salva vidas aos que não podem pagar; o orçamento destinado à guerra e não à paz ou à infraestrutura e não às pessoas. E muitos mais et ceteras.
Há também corrupções individuais, de todos os tipos. A sonegação de impostos, ativa ou através de compras ilegais ou descontos indevidos, é roubo. Estacionar em uma área indevida é desviar a finalidade do uso de um espaço. Conduzir depois de beber ou acima da velocidade corrompe um direito. Priorizar interesses adultos aos das crianças rouba a prioridade delas ao desenvolvimento. Poderia estender a lista com as corrupções no uso de recursos naturais.
As estimativas sobre custos das corrupções são imprecisas porque cada uma delas desencadeia prejuízos sociais e/ou impede ganhos. Mas, é possível deduzir o custo mínimo, através de um caminho metodológico, semelhante ao usado em Astrofísica para encontrar corpos celestes, pelas distorções. Se assumirmos o pressuposto de que os recursos e capacidade da sociedade são suficientes para garantir os Direitos (alimentação, moradia, saúde, educação, paz social, participação, etc.), toda não realização destes (exceto as decorrentes de opção individual) pode ser considerada nos custos das corrupções.
Mais importante do que cifras e rankings subjetivos, as corrupções têm enormes custos humanos. Números? Cito um: mais de 165.000 mortes anuais evitáveis de crianças e adolescentes, no Brasil, só para contar as geradas por falta de saneamento, atendimento em saúde, violências e poluição atmosférica (agravadas pelo modelo de transporte individual movido a incentivo fiscal).
Para reduzir os custos das corrupções é necessária uma intolerância moral que rejeite maniqueísmos, exerça crítica/autocrítica traduzida em participação para promover a transparência e reorientar as ações, segundo o princípio da mordomia cristã: “tudo o que querei que os homens vos façam, fazei vós também a eles”.
A mídia brasileira tem exercido um papel de denunciar a corrupção, principalmente nas relações Governo e Sociedade. Por outro lado, ela também é, repetidamente, acusada de tendenciosa, interesseira e suscetível à corrupção. A mídia é aliada ou inimiga da corrupção?
Rubem Amorese: Entendo que a mídia pode ser aliada ou inimiga da corrupção, dependendo de seus interesses. Ou seja, a mídia é tão interesseira e suscetível à corrupção quanto qualquer órgão governamental.
Dou um exemplo: no blog “Diário do Centro do Mundo”, o jornalista Paulo Nogueira explica por que a Presidente Dilma escolheu o jurista Luís Roberto Barroso para a cadeira vaga do Supremo Tribunal Federal — STF2. De acordo com Nogueira, “Barroso resolve o problema do mensalão. Sua chegada ao Supremo muda o cenário no momento fundamental dos recursos. Desfaz-se o estado de espírito anti-réus que dominou o STF, e que por um momento pareceu que levaria Zé Dirceu à cadeia”. Nogueira se explica: "Joaquim Barbosa, o grande derrotado na nomeação, agora é minoritário. A segunda etapa do julgamento – aquela, sabemos agora – quase que começa do zero. Dirceu pode desfazer a mala, se já não desfez. As sentenças extraordinariamente rigorosas comandadas por Barbosa, e alinhadas com a mídia, vão sofrer uma enorme redução.”
Mas o que tem a nomeação de um juiz para o supremo com o tema da mídia? O próprio Paulo Nogueira explica, em seu artigo. Ainda referindo-se à Presidente:
“Ela poderia enfrentar muitas críticas da mídia com a indicação. Com Barroso, ela neutralizou o maior foco das críticas: as Organizações Globo. Monopolista como a Globo é, você ganha a aprovação dela e o resto está feito no capítulo das relações com a mídia”.
“Barroso é amigo da Globo. Foi advogado da Abert, a associação que defende os interesses da Globo", diz Nogueira. E acrescenta: "Portanto, você não vai ver Jabor, Merval, Ali Kamel, Míriam Leitão ou quem quer que seja na Globo atacando Barroso agora ou, um pouco depois, em suas intervenções no julgamento do recurso”.
Bem, aí está uma ideia de como a mídia e a Justiça podem sofrer influência de interesses, do mesmo modo que o Executivo ou o Legislativo. Não sei se esse comportamento pode ser chamado de corrupção. Mas o exemplo mostra como a “isenção jornalística”, assim como decisões em prol do interesse público praticamente não existem. Nem no âmbito governamental, nem no privado. E nem começamos a falar de propina, ainda.
Notas:
1. Como são conhecidos os membros e eleitores do Tory, antigo partido conservador que deu origem ao atual Partido Conversador e Unionista do Reino Unido.
2. http://diariodocentrodomundo.com.br/por-que-dilma-ficou-com-barroso/
Entrevistados:
- Taís Machado é psicóloga clínica, professora em seminários teológicos, secretária nacional de capacitação da Aliança Bíblica Universitária do Brasil e blogueira do portal Ultimato.
- Martin Weingaertner é historiador luterano do Centro de Pastoral e Missão, em Curitiba
- Guilherme de Carvalho é pastor da Igreja Esperança em Belo Horizonte, diretor de L’Abri Fellowship Brasil e blogueiro do portal Ultimato.
- Eduardo Nunes é diretor de Programas e Ministério Integrado da Visão Mundial na América Latina e Caribe.
- Rubem Amorese é jornalista aposentado e colunista da revista Ultimato. Autor de, entre outros, Icabode e Fábrica de Missionários, e blogueiro do portal Ultimato.
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