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As canções natalinas são formas de reencontro

Por Lissânder Dias

Os muitos isolamentos causados pela pandemia, pelas tensões políticas e conflitos emocionais são uma dura realidade a ser reconhecida, mas também superada. O Natal e suas canções podem ser instrumentos divinos e artísticos para a promoção de reencontros significativos e amorosos. Essa foi uma das convicções dos convidados da última live de 2022 do “Diálogos de Esperança”, realizada na terça-feira, dia 13 de dezembro, às 20h: O Natal e a música: herança dos hinos natalinos. Os musicistas e regentes Helma Haller e Márcio Steuernagel conversaram com Valdir Steuernagel (na bonita sala de sua casa enfeitada com ornamentos natalinos) e compartilharam sobre suas experiências familiares e opiniões a cerca do valor estético, artístico, comunitário a espiritual das canções natalinas. Além disso, é claro, Helma e Márcio também cantaram e tocaram no piano algumas músicas como “Ao Pé da Manjedoura Estou”, “Quero Ir com os Pastores”, “Jubiloso, Venturoso” e “No Natal, a Gente Sempre Agradece”. Confira a seguir alguns trechos da conversa.

Experiências familiares
“Eu sou de origem alemã. Na minha infância, na casa dos meus pais, a família estendida se reunia, no sábado ou domingo, durante as quatro semanas que antecediam o Advento e cantávamos juntos. Íamos em várias casas cantando. Com isso, fomos criando um repertório muito rico de músicas natalinas. Nossos pais montavam a árvore de Natal no dia 24 na sala da casa e de portas fechadas. Quando nos chamavam para conhecer a árvore, nos recebiam com meu pai tocando o piano. Isso tudo marcou minha vida”, conta Helma.

“Minhas memórias são mais bagunçadas. Eu saí do Brasil com dois anos de idade e morei nos Estados Unidos até os 6 anos. Então, minhas primeiras memórias do Natal são de neve (verdadeira) e das canções em inglês. Minha mãe sempre as traduzia para o português e acrescentava algumas estrofes também em português. Da parte do meu pai, eu tinha a tradição da herança alemã (em alemão, eu me lembro de alguns fragmentos de canções). Essa mistura é um pouco de quem eu sou: filho de mãe maranhense e pai joinvilense, que gera uma convergência. Eu já nasci ‘a caminho’. Cada vez mais fui percebendo que isso é ser brasileiro. Ser brasileiro é ser ‘antropofágico’; é ter tudo em si, que acho que tem muito a ver com a história natalina”, diz Márcio.



A importância da estética
“A estética do Natal tem uma marca fundante na narrativa da nossa fé, com enfoque na tradição dos hinos natalinos e nossa convivência com eles. A tradição do canto acompanha a tradição natalina e foi inaugurada por um surpreendente coro angelical que nos ensinou a dizer ‘Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem’ (Lc 2.13-14)”, lembrou Valdir.

“A estética é uma maneira de conhecer o mundo (pelos sentidos). Em muitos momentos da Filosofia, ela está em pé de igualdade com a cognição, com o conhecimento do mundo. A gente se relaciona pela estética muito antes do que pela linguagem. A estética é mais do que um canal potente; ela tem qualidade em si. Na história da igreja cristã, a estética é uma das principais formas de linguagem; por exemplo, a liturgia. No Natal, a estética tem a ver com o ritmo, com as estações. Cantar as canções de Natal apenas no Natal, e não no ano inteiro, traz essa grande potência”, explicou Márcio.

O Brasil tem música de Natal?
Essa pergunta chegou até a Helma no período das comemorações dos 500 anos do Brasil. Ela não se conformou com a ideia errada por traz do questionamento e iniciou uma pesquisa em nosso cancioneiro nacional. “Fiquei abismada com tanta coisa que eu descobri a partir do nosso folclore. Os grandes compositores brasileiros também compuseram música natalina, mas eu descobri muita coisa preciosa no folclore nordestino, a partir dos autos de Natal, das tradições das pastorinhas que iam cantando de casa em casa e das festas dos reis. Na verdade, o Natal brasileiro é muito rico e bem evangélico: é cristocêntrico, o presépio está no centro, não se fala de papai Noel, fala-se sobre os personagens da narrativa de Natal. É uma pena que essas canções não são cantadas nas casas e nas igrejas”, falou Helma. Dessa pesquisa, ela lançou o álbum “Natal Brasileiro” [aprecie a playlist].

“Eu me lembro de alguns natais em São Luís do Maranhão. Lá, o Natal era menos liturgicamente organizado, era muito mais solto. O centro do Natal lá era a família, era estarmos juntos, sem muita frescura. Cantávamos violão a noite inteira, mas não necessariamente um repertório de Natal, mas sim músicas da igreja e até canções populares. Era bem diferente da tradição que eu tinha, e isso me trouxe um quadro múltiplo, a inclusão do diferente, que eu trago para minha vida até hoje, para minha visão de mundo, para minha teologia”, relembrou Márcio.

O Natal e a música: caminho de encontros e reencontros

A narrativa bíblica do Natal é de encontros: de Cristo com a humanidade, da família de Jesus com os reis magos, dos anjos com a terra. Hoje em dia, após meses difíceis de isolamento social, o Natal também pode ser se reencontros: de amigos, de integrantes familiares, de famílias em suas igrejas e até da sociedade como um todo.

“Vivemos um tempo em que há muita tensão relacional, ‘cultura de cancelamento’, conflito familiar e divisões políticas. As posições políticas são importantes, mas queremos acentuar a importância do Natal como um tempo de reencontro, de reconciliação, em que o canto e a experiência com ele podem gestar possibilidades de reencontro, de começar a cantar junto de novo. Em torno dessa presença de Deus na manjedoura se forma uma outra comunidade, uma comunidade dos diferentes (os pastores estrangeiros que visitam Jesus, por exemplo). O Natal é o lugar onde unimos essa comunidade e essa comunidade acolhe o outro, o diferente. No Natal, praticamos a hospitalidade, porque celebramos o reencontro na presença de Deus”, disse Valdir.

Nesse sentido, Helma enfatiza que mais importante do que o repertório, é o que se faz em conjunto. “Procure cantar com alguém. Cantar sozinho às vezes é mais difícil, mas o cantar junto é uma forma de comunhão. Podemos cantar em um coro, em família, com amigos... o importante é cantar. Cante no Natal, cante durante o ano inteiro. Cante!”.
“Cantar é um esforço que vale a pena. Em certo sentido, a arte vem naturalmente, mas ela também precisa ser cultivada”, ressaltou Márcio.

Participação do público
A live também teve uma boa participação, via chat, do público que acompanhava a conversa. A Margareth Andrade disse: “Cantar em família é muito gratificante. E o Natal ajuda a entrar em contato com o Cristo que está nascendo!”. O Alejandro Mercado expressou sua alegria: “Cantar hinos sempre animam e fortalecem nosso coração. Os hinos de Natal, então, são maravilhosos! Boas lembranças que vocês nos propiciam nesta noite! Obrigadoooo”. “Que alegria essa celebração!”, exclamou Tonica Van Der Meer.

Oração final
Valdir encerrou o episódio n˚ 67 em forma de oração:
“Nossa oração é que Deus cuide de você e te dê paz. Que você encontre espaços de encontro e que seja agraciado pela voz dos anjos que cantam sobre a presença de Deus. Que você encontre comunidades nas quais possa experimentar o acolhimento e também possa exercer acolhimento – especialmente, a acolhimento daqueles que Deus acolhe de forma tão particular, que é a criança (o órfão), a viúva e o peregrino dos quais a Bíblia nos fala. Assim nós expressamos cuidado e amor de Deus no tempo em que vivemos!”.

Playlist do Diálogos de Esperança
Assista a todas as lives já realizadas aqui.


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Lissânder Dias do Amaral é jornalista, blogueiro, poeta e editor de livros. Integra o Conselho Nacional da Interserve Brasil e o Conselho da Unimissional. É autor de “O Cotidiano Extraordinário – a vida em pequenas crônicas” e responsável pelo blog Fatos e Correlatos do Portal Ultimato. É um dos fundadores do Movimento Vocare e ajudou a criar as organizações cristãs de cooperação Rede Mãos Dadas e Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS).

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