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Opinião

Agradecer tudo e sempre

Por Maria Luiza Rückert
 
É difícil falar em gratidão numa época dessas. Mas se você está lendo estas linhas, é sinal de que está vivo. E, convenhamos, estar vivo numa época dessas já é um motivo de gratidão.
 
A nossa gratidão poderia ser mais completa se não houvesse tantas pessoas morrendo diariamente. Nem coloco números, pois hoje à noite eles já estão ultrapassados. Poderíamos nos sentir mais agradecidos se tivéssemos um governo que assumisse a responsabilidade perante a pandemia, pois uma nação que continua sem ministro da saúde causa perplexidade na comunidade internacional.
 
Em meio a tantas crises, esforcemo-nos para exercitar a gratidão. Está difícil? Está. Mas sejamos sensatos, para não deixar as coisas ainda mais difíceis.
 
Escrevendo à igreja de Éfeso, Paulo salientou que todos os acontecimentos são um motivo de gratidão permanente: “dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 5.20). Com a mesma ênfase, o apóstolo escreveu aos tessalonicenses: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Ts 5.18).
 
Nós não estamos habituados a proceder desse modo. Costumamos selecionar os acontecimentos que dão ensejo à nossa gratidão. Esforçamo-nos, inclusive, para esquecer certos episódios. Somos gratos por aquilo que nos proporciona alegria.
 
Essas duas declarações de Paulo são bem coerentes com todo seu modo de viver. À igreja em Roma ele escreveu: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito“ (Rm 8.28). Para aqueles que amam a Deus e foram chamados de acordo com o propósito divino, tudo contribui para o seu crescimento pessoal. Aqueles que amam a Deus são os chamados para integrarem o plano de salvação. “Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele” (1 Co 8.3). O plano de salvação se realiza em meio às dificuldades do tempo presente. Tudo aconteceu para a realização do propósito de Deus, que tem suas raízes no amor divino.
 
Vejamos algumas adversidades, que podem se tornar motivo de gratidão:
 
Como filhos de Deus, o Pai celeste quer nos educar (Hb 12.1-13). A educação requer uma disciplina rigorosa e até certas renúncias (Pv 15.32).
 
Deus quer nos aprovar (2 Tm 2.15). A aprovação acontece na medida em que nós superamos as adversidades (Tt 2.7-8).
 
O ramo da videira que não produz fruto é cortado, e o que produz é podado – para produzir ainda mais (Jo 15.1-8). Ora, a poda é um processo dolorido. Mais tarde, quando se vê o resultado, há motivo de alegria.
 
Devemos aprender a suportar o sofrimento injusto (1 Pe 2.18-25). Aliás, devemos aprender a lidar com o sofrimento como tal (1 Co 1.3-6; Fp 1.29-30).
 
Crescemos em meio às provações e tentações (Tg 1 e Mt 4.1). Superamos os nossos pontos fracos em meio às dificuldades existenciais (Ef 6.10-20).
 
Precisamos aprender a nos exercitar na paciência e na perseverança (Cl 1.9-12; Hb 10.36-39).
 
No entanto, em meio à tribulação, nós podemos ficar desorientados. Com sua franqueza, Paulo relata que, em meio ao perigo, ele chegou a desesperar da própria vida (2 Co 1.8), pois a adversidade foi além de suas forças. Ele só tinha ainda um recurso: confiar em Deus, que ressuscita os mortos.
 
Agradecer tudo e sempre significa dizer “sim” para aquilo que Deus nos envia. É a disposição para pronunciar “sim” para a vida. É aceitar a vida, assim como ela é.
 
• Maria Luiza Rückert, autora de Capelania Hospitalar e Ética do Cuidado, cursou teologia na Escola Superior de Teologia (EST), em São Leopoldo, RS, e aprofundou seus estudos em clínica pastoral no hospital da Universidade de Minnesota, EUA. Pós-graduada em ética, subjetividade e cidadania, atuou como capelã no Hospital Evangélico de Vila Velha, ES, durante vinte anos. Conheça o site da autora.

 

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