Opinião
- 06 de agosto de 2019
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A devoção do coração a Deus
Por Luiz Fernando dos Santos
“O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo” (2Co 11.3).
“O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo” (2Co 11.3).
A palavra devoção vem do latim “devotio”, derivado do verbo “devovere” que significa “prometer solenemente, dedicar-se através de um voto, sacrificar-se, dar-se incondicionalmente”. Ter devoção, na prática, significa apegar-se com fervorosa afeição a Deus. É um movimento consciente, deleitante e pleno de gozo na consideração e contemplação dos excelentíssimos atributos divinos.
Devoção implica o oferecimento voluntário dos afetos do coração, como o fez João Calvino: “ofereço, Senhor, o meu coração, pronta e sinceramente”, ou reconhecer que nada é o bastante para preencher o vazio do coração, até que o Senhor o ocupe, como perfeitamente intuiu Agostinho: “Fomos feitos para Ti, Senhor, e inquieto estará sempre o nosso coração, enquanto em Ti não descansar”.
A Bíblia nos ensina a guardar bem o nosso coração: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (Pv 4.23); ensina o que fazer para protegê-lo efetivamente: “Guardei no coração a tua palavra para não pecar contra ti” (Sl 119.11); e nos convida a ‘ofertar’ o coração: “Meu filho, dê-me o seu coração; mantenha os seus olhos em meus caminhos” (Pv 23.26).
A devoção do coração a Deus é um dever de justiça e a mais alta virtude da religião. É um dever de justiça porque, além de cumprir perfeitamente o mandamento na versão sumariada de Jesus – “amar a Deus sobre todas as coisas” –, é a prova cabal da nossa gratidão em face de todos as imerecidas e incontáveis graças e bênçãos do Senhor que todos os dias alcançam a nossa vida. É a mais alta virtude de religião porque prova o quanto nós valorizamos o caráter reto e justo de Deus, o quanto apreciamos e nos encantamos com a sua santidade indefectível, o quanto anelamos e zelamos por sua reputação e glória entre todas as nações.
A devoção atesta que os afetos do nosso coração são exclusivamente dele, por ele e para ele e não há coisa alguma que amemos mais que a ele e tudo quanto amamos, é nele que amamos e por causa dele que amamos. Devoção implica em satisfação com os feitos, os caminhos, os planos e os cuidados do Eterno. Significa que estamos convencidos que a nossa história não poderia ter um enredo melhor e nem um ‘final’ mais feliz do que este que vislumbramos em suas promessas.
Ter um coração devoto nos leva a inverter a ordem de nossas prioridades e dar a devida e relativa importância aos bens dessa vida e às criaturas, pois nos convence de que ter sede e fome de Deus é mais essencial do que estar satisfeitos e empanturrados de bens. A devoção nos convence de que a prioridade do Reino de Deus e sua justiça faz com que tudo o mais desta vida seja visto e recebido como simples acréscimos, nos libertando da tirania do ter, do poder e do prazer como fins em si mesmos.
Jesus quando se apresentou para o batismo de João Batista, ante a resistência deste em batizá-lo, afirmou: "Deixe assim por enquanto; convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça" (Mt 3.15), e o Senhor não falava somente daquela cerimônia litúrgica, mas de toda a sua vida terrena, como homem. Em sua humanidade Jesus veio para ser o nosso representante perfeito que substituiu o nosso primeiro representante, Adão, que havia falhado.
Adão falhou justamente em sua devoção, não cumpriu a promessa de obediência pactual e depois dele, todo homem, e em especial Israel, falhou em entregar o coração em amorosa e incondicional obediência ao Senhor. Jesus, foi o devoto por excelência, viveu a sua vida focado em agradar e obedecer ao Pai. Entregou o seu coração sem reservas ou condições, na tentação do deserto permaneceu leal, durante as longas vigílias e as muitas orações deu provas de sua afeição e de seu prazer no Pai. No transcurso de sua paixão, durante a agonia do horto, suportando a humilhação recebida dos ímpios e no suplício da cruz, não esmoreceu o seu coração, pelo contrário, mais intensamente o consagrou para que a glória do Eterno ficasse patente aos olhos de todos.
A igreja de Cristo peregrina nesse mundo mau e apóstata, enquanto cumpre a sua missão de espalhar a palavra, não pode descuidar de sua vida devocional, não pode esfriar na sua relação com Deus, não pode correr o risco de endurecer o coração apegando-se as coisas transitórias e corrompidas desse mundo caído. A devoção é de todas as coisas que o homem nascido de novo pode fazer para agradar ao Pai, seguramente aquela que lhe dá mais prazer.
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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