Opinião
- 06 de agosto de 2019
- Visualizações: 9088
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
A devoção do coração a Deus
Por Luiz Fernando dos Santos
“O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo” (2Co 11.3).
“O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo” (2Co 11.3).
A palavra devoção vem do latim “devotio”, derivado do verbo “devovere” que significa “prometer solenemente, dedicar-se através de um voto, sacrificar-se, dar-se incondicionalmente”. Ter devoção, na prática, significa apegar-se com fervorosa afeição a Deus. É um movimento consciente, deleitante e pleno de gozo na consideração e contemplação dos excelentíssimos atributos divinos.
Devoção implica o oferecimento voluntário dos afetos do coração, como o fez João Calvino: “ofereço, Senhor, o meu coração, pronta e sinceramente”, ou reconhecer que nada é o bastante para preencher o vazio do coração, até que o Senhor o ocupe, como perfeitamente intuiu Agostinho: “Fomos feitos para Ti, Senhor, e inquieto estará sempre o nosso coração, enquanto em Ti não descansar”.
A Bíblia nos ensina a guardar bem o nosso coração: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (Pv 4.23); ensina o que fazer para protegê-lo efetivamente: “Guardei no coração a tua palavra para não pecar contra ti” (Sl 119.11); e nos convida a ‘ofertar’ o coração: “Meu filho, dê-me o seu coração; mantenha os seus olhos em meus caminhos” (Pv 23.26).
A devoção do coração a Deus é um dever de justiça e a mais alta virtude da religião. É um dever de justiça porque, além de cumprir perfeitamente o mandamento na versão sumariada de Jesus – “amar a Deus sobre todas as coisas” –, é a prova cabal da nossa gratidão em face de todos as imerecidas e incontáveis graças e bênçãos do Senhor que todos os dias alcançam a nossa vida. É a mais alta virtude de religião porque prova o quanto nós valorizamos o caráter reto e justo de Deus, o quanto apreciamos e nos encantamos com a sua santidade indefectível, o quanto anelamos e zelamos por sua reputação e glória entre todas as nações.
A devoção atesta que os afetos do nosso coração são exclusivamente dele, por ele e para ele e não há coisa alguma que amemos mais que a ele e tudo quanto amamos, é nele que amamos e por causa dele que amamos. Devoção implica em satisfação com os feitos, os caminhos, os planos e os cuidados do Eterno. Significa que estamos convencidos que a nossa história não poderia ter um enredo melhor e nem um ‘final’ mais feliz do que este que vislumbramos em suas promessas.
Ter um coração devoto nos leva a inverter a ordem de nossas prioridades e dar a devida e relativa importância aos bens dessa vida e às criaturas, pois nos convence de que ter sede e fome de Deus é mais essencial do que estar satisfeitos e empanturrados de bens. A devoção nos convence de que a prioridade do Reino de Deus e sua justiça faz com que tudo o mais desta vida seja visto e recebido como simples acréscimos, nos libertando da tirania do ter, do poder e do prazer como fins em si mesmos.
Jesus quando se apresentou para o batismo de João Batista, ante a resistência deste em batizá-lo, afirmou: "Deixe assim por enquanto; convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça" (Mt 3.15), e o Senhor não falava somente daquela cerimônia litúrgica, mas de toda a sua vida terrena, como homem. Em sua humanidade Jesus veio para ser o nosso representante perfeito que substituiu o nosso primeiro representante, Adão, que havia falhado.
Adão falhou justamente em sua devoção, não cumpriu a promessa de obediência pactual e depois dele, todo homem, e em especial Israel, falhou em entregar o coração em amorosa e incondicional obediência ao Senhor. Jesus, foi o devoto por excelência, viveu a sua vida focado em agradar e obedecer ao Pai. Entregou o seu coração sem reservas ou condições, na tentação do deserto permaneceu leal, durante as longas vigílias e as muitas orações deu provas de sua afeição e de seu prazer no Pai. No transcurso de sua paixão, durante a agonia do horto, suportando a humilhação recebida dos ímpios e no suplício da cruz, não esmoreceu o seu coração, pelo contrário, mais intensamente o consagrou para que a glória do Eterno ficasse patente aos olhos de todos.
A igreja de Cristo peregrina nesse mundo mau e apóstata, enquanto cumpre a sua missão de espalhar a palavra, não pode descuidar de sua vida devocional, não pode esfriar na sua relação com Deus, não pode correr o risco de endurecer o coração apegando-se as coisas transitórias e corrompidas desse mundo caído. A devoção é de todas as coisas que o homem nascido de novo pode fazer para agradar ao Pai, seguramente aquela que lhe dá mais prazer.
>> Conheça o livro O Caminho do Coração, de Ricardo Barbosa de Sousa.
Leia mais
» Mente, devoção e esforço
» O estranho hábito de sufocar a piedade e diminuir a devoção a Deus
» Mente, devoção e esforço
» O estranho hábito de sufocar a piedade e diminuir a devoção a Deus
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
- Textos publicados: 105 [ver]
- 06 de agosto de 2019
- Visualizações: 9088
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Pesquisa Força Missionária Brasileira 2025 quer saber como e onde estão os missionários brasileiros
- Perigo à vista ! - Vulnerabilidades que tornam filhos de missionários mais suscetíveis ao abuso e ao silêncio
- As 97 teses de Martinho Lutero
- Lutar pelos sonhos é possível após os 60. Sempre pela bondade do Senhor
- A urgência da reconciliação: Reflexões a partir do 4º Congresso de Lausanne, um ano após o 7 de outubro
- Para fissurados por controle, cancelamento é saída fácil
- A última revista do ano
- Diálogos de Esperança: nova temporada conversa sobre a Igreja e Lausanne 4
- Vem aí "The Connect Faith 2024"