O meu lugar no mundo como capelão hospitalar

Por Vinicius Oliveira da Costa

“Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos são mais altos do que os pensamentos de vocês”.

Isaías 55:9

Lembro-me de que, ainda na tenra infância, assuntos relacionados à religião sempre despertaram muito interesse em mim. Nasci num lar em que o cristianismo se resumia a frequentar a igreja no natal e eventualmente ler a Bíblia, sempre que a encontrávamos guardada num antigo baú de documentos. Apesar desses poucos contatos, falávamos bastante sobre coisas ligadas à fé cristã em casa, mas sem muita estrutura.

Quando tinha dez anos, meu pai se converteu a Jesus e minha mãe, que até então caminhava distante da fé, reconciliou-se com Deus. A partir daí, em nossa casa, o Evangelho ganhou um espaço diferente. A Bíblia saiu de dentro do baú antigo e passou a estar disponível para ser facilmente acessada e lida. A frequência à igreja se tornou uma rotina interessante e os assuntos ligados à religião efervesceram entre meus familiares.

Mas foi apenas aos treze anos de idade, ouvindo uma fita cassete junto de minha avó materna, na qual o pregador falava avidamente sobre a condenação eterna, que fui despertado pelo Espírito do Senhor à minha condição de pecador e a necessidade de ter a Cristo como meu Salvador.

De repente, os conflitos trazidos pela adolescência, foram dissipados por um urgente desejo por Deus. Por estar próximo e caminhar com Ele. Por servi-Lo com toda a minha vida. Foi neste chamamento à fé e a ser nova criatura que concomitantemente me senti vocacionado para uma vida missionária. Havia em meu coração uma crescente convicção de que Deus me chamava para servi-Lo em missão.

Os anos se passaram e tornei-me alguém muito envolvido com o serviço cristão. Através da música, do evangelismo e dos cuidados com as pessoas, fui me engajando nos ministérios da igreja e construindo meu relacionamento com Jesus.

Aos dezessete anos, terminado o ensino médio, consegui uma bolsa integral em uma universidade privada da minha cidade natal. Comecei a minha graduação em psicologia. No decorrer do curso tive a oportunidade de acompanhar muitas pessoas em sofrimento e entender que a necessidade de cuidado espiritual era uma realidade inerente ao ser humano.

Depois de formado, iniciei minha prática profissional em psicologia clínica ao mesmo tempo em que ingressei na graduação em teologia. Sentia a necessidade de preparar-me para este cuidado espiritual que eu observava latente nos conflitos e sofrimentos que os indivíduos apresentavam. É evidente que na condição de psicólogo, alguns limites éticos e técnicos impossibilitavam um cuidado espiritual efetivo. Foi assim, que no ano de 2016, ao receber o convite de um querido pastor da minha cidade, Pr. Francisco Vanderlinde, para uma formação básica em capelania, descobri a missão para a qual Deus estava me preparando desde a minha conversão na adolescência.

Comecei um envolvimento profundo com a área de capelania e a atuar em um hospital geral, referência em urgência e emergência. Desse engajamento, recebi um convite para conhecer a capelania evangélica do Grupo em Defesa da Criança com Câncer – GRENDACC, um hospital pediátrico especializado em oncohematologia também em minha cidade. Conheci, então, a capelã Priscila Casareggio, que no primeiro dia que nos encontramos levou-me para um atendimento na UTI pediátrica e sinalizou que aquela era resposta de oração.

Priscila encorajou-me a realizar o curso de formação em capelania da antiga Associação de Capelania Evangélica Hospitalar (ACEH) – a atual Associação de Capelania na Saúde (ACS), presidida pela capelã Eleny Vassão. No ano de 2017 tive o imenso prazer de conversar com Eleny e compartilhar sobre o meu conflito de desejar cuidar da espiritualidade das pessoas ao mesmo tempo em que era limitado neste cuidado, pela minha profissão. Recebi dela, não apenas o incentivo, mas todo o apoio para me envolver com o ministério de capelania hospitalar. Através da ACS, recebi e tenho recebido toda a capacitação teórica e prática, para desenvolver um ministério de capelania com competência e coração.

Com o passar do tempo e com o apoio do Pr. Francisco, de Priscila e também de Eleny, fui deixando a psicologia clínica e me dedicando exclusivamente aos trabalhos da capelania. Em dezembro de 2018, recebi o apoio da Segunda Igreja Presbiteriana de Jundiaí (SIPJ), minha amada igreja, que através do Rev. Thales Martins e do Conselho de presbíteros, dispuseram-se a investir para que eu tivesse dedicação em tempo integral. A este movimento, juntaram-se também a Igreja Presbiteriana de Jundiaí, através do apoio do Rev. Luís Roberto Avelar e de seu Conselho de presbíteros, bem como do Dr. Paulo Tsai, médico radioterapeuta e presidente da Casa do Aconchego em São Paulo.

Hoje, prestes a completar cinco anos de atuação ministerial, posso testificar que eu jamais imaginaria ocupar o lugar no qual me encontro. Deus mostrou-me que apesar das nossas muitas limitações, quando Ele nos chama, Ele nos capacita e provê todos os recursos necessários para que realizemos Seus propósitos perfeitos.

Em meu dia a dia, imerso em contextos de profundo sofrimento, nos quais diagnósticos de doenças graves e ameaçadoras da vida cruzam o horizonte existencial das pessoas e colocam-nas frente à condição de finitude – na qual somos obrigados a romper com o automatismo de um cotidiano perfeitamente planejado e conhecido para um cenário em que a incerteza é companheira presente e a nossa vulnerabilidade é fortemente exposta – que vejo a Palavra de Deus fazer nascer uma esperança que está para além desta vida; que assisto a pequenos milagres que evidenciam o cuidado minucioso de Deus pelos Seus pequeninos; que acompanho a fé genuína romper com o medo e fazer tornar as águas turbulentas um chão firme para os pés, porque à sua frente está Jesus, cujo amor incondicional e inesgotável lhes assegura presença constante aqui e na eternidade.

Assim, afirmo com toda a convicção que há no meu coração: meu lugar no mundo só é possível e só tem real sentido, por causa de Jesus, meu amado Salvador. A Ele o meu fôlego por todos os dias que aqui Ele me permitir viver, e a minha existência em adoração ao Seu nome, nas moradas eternas que Ele de antemão já preparou, para todos os que O amam.

  • Vinicius Oliveira da Costa, capelão hospitalar.

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