Por Lucas Gonçalves

Sendo objetivo, o Orgulho é uma declaração aberta de independência e de autonomia em relação à Deus. John Piper(1) percebe este vício assim: “Orgulho é um afastamento de Deus, especificamente para obter satisfação em si mesmo”. Podemos dizer que o Orgulho é uma declaração pública de inimizade e guerra contra o Criador, já que o orgulhoso contraria a Lei de Deus(2), que é derivada dEle próprio.

Começando o texto desta forma, espero chamar a sua atenção para a necessidade de lutarmos contra este inimigo invisível, que se aloja dentro de nós. Pensando nesta luta contra o Orgulho, pretendo compartilhar o que tenho crido ser a raiz deste vício, que é o pai de todos os demais vícios. Acho que se nos atentarmos à tentação de Adão e Eva, conseguiremos ter alguns relances que podem nos ajudar nessa questão.

Cavando o alicerce

Quando construímos uma casa, precisamos de alicerces firmes, o mesmo vale para as reflexões. Nesta primeira parte, apresentarei o que considero ser o alicerce bíblico e o contexto ideal, como as coisas deveriam ser. Então teremos como perceber a origem do Orgulho na tentação de Adão e Eva.

Ainda em Gênesis 1, lemos que a humanidade foi feita segundo os padrões do próprio Deus, ou seja, há algo da natureza divina que se desdobra em quem somos. Isto quer dizer que para entendermos melhor quem somos e para que tipo de vida fomos feitos, precisamos entender melhor quem Deus é e como Ele vive. A Bíblia nos apresenta um Deus trino: três pessoas distintas, iguais em poder e glória, em um único Deus(3).

Dentre tantas coisas, a Trindade nos ensina que, ao longo de toda a eternidade, havia três pessoas perfeitas vivendo um relacionamento perfeito, um relacionamento generoso, santo e compromissado. É com base nessa natureza relacional que fomos criados. É dessa natureza relacional que toda a Lei surge — segundo Jesus, a Lei pode ser resumida em amar a Deus em primeiro lugar e ao nosso próximo como a nós mesmos. Por isso, se relacionar com Deus de forma dependente e amorosa é bom e justo, enquanto buscar satisfação alienada do Senhor, ser orgulhoso, é mau e injusto.

Ouvidos tapados

Vejamos como o Orgulho surgiu, no relato da Queda, em Gênesis 3. A Serpente inicia sua tentação com uma pergunta que põe em dúvida a orientação divina: “Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’?”. Eva responde: “Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’.”.

O início do diálogo entre a Serpente e Eva nos mostra um claro afastamento da Palavra de Deus. Sua ordem fora simples, direta e objetiva: E o Senhor Deus ordenou ao homem: ‘Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá’.”. (Gênesis 2.16-17). Ele não havia dito, nem sequer sugerido, que não poderia comer nenhum fruto do jardim, tampouco havia dito que o simples tocar do Fruto Proibido mataria o ser humano.

Olhos fechados

A primeira etapa da tentação foi separar a humanidade da Palavra de Deus. Em seguida, uma vez que Eva respondeu errado à primeira onda de ataque, a Serpente teve uma fresta para confundir seu alvo: “Disse a serpente à mulher: ‘Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal’.” (v. 4-5).

Em sua fala, a Serpente reduz toda a perfeição divina a um simples conhecimento do bem e do mal. Deus, que é santo, infinito, eterno, amor, misericórdia, justiça, onipotente, onisciente, onipresente, Criador e incontáveis outras coisas maravilhosas, foi reduzido a apenas um conhecedor do bem e do mal, segundo a descrição da tentadora.

Com essa visão distorcida sobre Deus, lemos que Eva olhou para o fruto com outros olhos: “Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também”. (v. 6).

Nasce o Orgulho

Após um distanciamento da Palavra de Deus, uma distorção da imagem de Deus corrompeu os amores, antes sadios, de Adão e Eva. Então, declarando sua autonomia, o primeiro casal rompeu sua aliança com o Criador. É importante percebermos isso de forma enfática: os nossos pais não desejaram o fruto até que tivessem uma visão deturpada, desconectada da realidade, sobre Deus e seu caráter.

Concluindo…

Portanto, o oposto do vício do Orgulho não é a simples humildade, mas sim a virtude da Fé, isto é, conhecer quem Deus é a partir do que Ele se apresenta a nós — ou seja, a partir da Bíblia. Não seremos orgulhosos apenas quando estivermos realmente satisfeitos em Deus. Não tentaremos usurpar Seu trono apenas quando reconhecermos o quão elevado Ele é. Tentar ser humilde é uma obra nossa, portanto, é vã. Crer que Deus é Deus é um efeito natural da Graça divina sobre nós, segundo Efésios 2.8.

Sendo assim, para combatermos o Orgulho, inerente à nossa natureza caída, precisamos ser expostos à Glória de Deus, manifesta em sua Palavra. Então, o Espírito produzirá a imagem de Cristo em nós de forma progressiva, conforme 2 Coríntios 3.18. Por isso, conheça e ame a Deus. Uma vez que você ver a grandeza do Criador, não haverá um único milimetro do seu Ser que desejará olhar para qualquer outra coisa, nem mesmo para o teu próprio umbigo.

 

(1) PIPER, John. Lutando Contra A Incredulidade. São José dos Campos: Fiel, 2014. 1
(2) Conforme lemos em Mateus 22.36-40
(3) Para uma melhor compreensão da Doutrina da Trindade, se presenteie com a leitura do Credo de Atanásio.

  • Lucas Gonçalves, 30 anos. Formado em Publicidade e Propaganda e em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Se dedica ao estudo de cosmovisão cristã aplicada à literatura fantástica.

 

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