A participação dos universitários na Igreja
Por Maurício Jaccoud
Este texto é a parte 2 de “O Universitário e a Igreja Local“
A Bíblia é clara afirmando para ninguém deixar de se reunir como Igreja (Hebreus 10.25). Interessante que as pesquisas mostram que os jovens gostam de ir à igreja. Em uma pesquisa realizada pela UNESCO com a juventude brasileira, foi perguntado aos jovens: “O que você mais gosta de fazer no seu tempo livre, mesmo que você só faça de vez em quando?”. Dentre tantas respostas, chamou a atenção o fato de “ir à igreja/culto” ser a resposta mais alta junto com “ir à praia” e “ir dançar/baile”, ficando à frente de “ir ao shopping” (16%) ou “ir à festa na casa de amigos” (15%). Isso mostra que jovem brasileiro gosta de participar das atividades da igreja.
Com tantos jovens na população brasileira, com o aumento do número de evangélicos, juntamente com o fato do jovem gostar de ir à igreja, era de se esperar que o número de jovens nas igrejas evangélicas também aumentasse significativamente. Porém, várias são as razões que podem levar os universitários a não se reunirem mais como Igreja.
(1). Vivemos hoje em uma sociedade fortemente marcada pelo consumo, e o jovem acaba pensando na Igreja como mais uma dessas formas. O pensamento é “o que posso ganhar lá? O que posso consumir?”. Mas, esta ideia é totalmente contrária ao Evangelho de Cristo. O universitário precisa pensar onde pode servir e não naquilo que pode consumir. Jesus não veio para ser servido, mas para servir (Mateus 20.28), e a espiritualidade cristã é uma espiritualidade do serviço, e não do consumo.
(2). Em segundo lugar, existe a questão do hedonismo, de uma cultura do prazer. A questão não é negar totalmente o prazer ou a alegria, mas o jovem precisa entender que seguir a Cristo exige renúncia, sacrifício, negar o próprio eu, tomar a cruz diariamente e segui-lo. Ou, como diz Walter Kasper, “é preciso amar a igreja com todas as suas manchas e rugas, assim como Cristo amou a igreja e se entregou por ela (Efésios 5:25)”.
(3). Outra questão importante é o problema da falta de tempo. Sabe-se que a rotina de um universitário é bastante intensa. Tantas atividades como aulas, estágios, iniciação científica, dentre outras coisas, fazem com que o universitário evangélico acabe, por muitas vezes, não priorizando sua participação na Igreja. Porém, apesar das inúmeras tarefas realizadas pelo universitário, o que determina seu tempo é a sua prioridade. Não existe falta de tempo. Trata-se de prioridade. Para as realidades a que atribuímos importância, temos tempo. À medida que a deslocamos para grau de menor relevância, então o tempo disponível não alcança. Não se pode fugir de tamanha responsabilidade apelando para falta de tempo.
O grande desafio para esta juventude universitária é entender como ser Igreja dentro do ambiente estudantil. O jovem precisa vivenciar sua fé em Cristo neste ambiente universitário. E os movimentos estudantis cristãos que atuam nas universidades preparando e auxiliando estes jovens cristãos a vivenciarem a fé dentro deste ambiente acadêmico podem servir de grande ajuda, especialmente aqueles que possuem adultos que se dispõem a ajudar os jovens. De acordo com Libânio, “Faz-se sempre importante a presença de adultos dedicados e com qualidades para trabalhar com jovens. É ela que garante a constância. Os grupos de jovens entregues a eles mesmos costumam nascer como cogumelo depois de chuva e fenecer como erva no final de dia ensolarado”.
A Cru Campus tem contribuído para o fortalecimento da fé destes jovens evangélicos e, consequentemente, têm favorecido o engajamento destes na Missio Dei. A fé se fortalece no anúncio do Evangelho. Porém, “a capacidade de falar e testemunhar da maioria dos cristãos chegou a um nível muito baixo”. Diante disso, é muito importante a presença de movimentos que ajudem os jovens universitários a vivenciarem sua fé.
A Cru Campus é um movimento dirigido pelos próprios estudantes. Os jovens, principalmente os universitários, não se percebem como uma categoria desfavorecida e não querem ser passivos de programas pastorais. Esses estudantes querem ter voz ativa e participar dos processos de mudanças. Na Cru Campus, os jovens universitários são os protagonistas, mas também existem missionários adultos ajudando a esses jovens universitários a vivenciarem sua fé dentro dos seus campi. As pessoas que trabalham com juventude percebem que os jovens necessitam do apoio dos adultos e que é necessária uma atuação voltada para fora da igreja. Com tudo isso, percebe-se a enorme importância de movimentos estudantis que atuam dentro das universidades públicas e privadas de nosso país ao contribuírem na formação da mente e coração desses estudantes.
Porém, o engajamento destes jovens universitários nesses movimentos não pode servir de justificativa para se ausentarem de suas igrejas. A Cru Campus é uma comunidade acolhedora de estudantes apaixonados por conectarem pessoas a Jesus, e a Cru trabalha sempre junto com a Igreja. Nenhum missionário da Cru pode estar desvinculado de uma igreja. Muitas vezes, na ânsia de estabelecerem movimentos em todos os lugares, os missionários desconsideram as igrejas e contribuem para a ausência destes universitários nas igrejas, causando um desserviço ao Reino. A Cru não pode se transformar num feliz e autossuficiente gueto cristão, à margem da Igreja, sem nenhum compromisso com ela, pois o que acontecerá a estes universitários após a conclusão de seus cursos?
Os universitários se achegam a esses movimentos por causa das redes de afinidades que possuem. Todos são jovens, universitários, vivem muitos dilemas parecidos, mesmos gostos, há muitas afinidades. Já nas igrejas locais há muitas diferenças: de idades, de gerações, hierarquias, pensamentos, problemas. Mesmo assim, ao aderirem a esses movimentos estudantis, os jovens evangélicos não podem desvincular-se de suas igrejas de origens ou deixar de frequentar uma igreja local.
Na igreja ouve-se a Palavra de Deus, tendo a convicção de que é a mensagem que o Senhor enviou. Na igreja os irmãos e irmãs encontram-se com o Senhor. Na igreja se aprende a viver em comunhão, principalmente com quem é diferente, a exercer o principal dom de Deus, o amor que provém dele. A beleza da igreja está no fato de cada um poder oferecer o que é seu para o enriquecimento dos demais. As igrejas locais devem incentivar seus jovens universitários a participarem dos movimentos estudantis dentro das universidades, e os movimentos estudantis devem incentivar e ensinar a importância da igreja local para a vivência da fé deste jovem e sua participação na Missio Dei.
- Maurício Jaccoud da Costa, pastor e missionário da Cru Brasil desde 2002.
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