Contar nossos dias para alcançar sabedoria
Por Débora Blair Marucci
“Contei meus anos e descobri que tenho menos tempo para viver a partir daqui, do que o que eu vivi até agora. […] Meu tempo é muito curto para discutir títulos. Eu quero a essência, minha alma está com pressa”. (Trecho do texto “Minha alma está em brisa”, de Mário de Andrade).
Este texto belíssimo acima me traz intensas reflexões sobre a passagem da vida. Somos jovens. Temos o vigor, a energia, os sonhos e a vibração da juventude. Nos dedicamos à nossa carreira profissional em construção e à nossa formação intelectual. Nos dedicamos aos nossos amigos, à nossa família, e muitos de nós começam a construir a própria família (casam-se e/ou têm filhos) desde a tenra juventude. Nos dedicamos a nós mesmos, aos nossos prazeres, desejos e interesses. Já temos uma personalidade e um caráter formados. E agora, só precisamos viver intensamente, buscar a felicidade e construir coisas na vida.
Eu amo textos como este de Mário de Andrade e também alguns textos bíblicos que nos ensinam sobre a brevidade da vida, nos ajudando a pensar sobre questões profundas da juventude. Toda a dedicação e entrega que citei acima são válidos, necessários, fundamentais. Dão sentido à vida, sentimento de completude, de realização e de satisfação. Podemos e devemos buscar tudo isso enquanto somos jovens, pois na idade avançada já não mais teremos vigor e energia para realizar nossos sonhos. Será tempo de colheita, e não de plantio.
É neste ponto que eu gostaria de aprofundar esta conversa: uma das leis mais fundamentais da Vida é a Lei da Semeadura e da Colheita: tudo que eu planto, eu irei colher. E por isso, voltamos ao título deste artigo, que é inspirado no versículo a seguir: “Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria” (Salmos 90:12). A juventude parece antagônica à sabedoria. Frequentemente ouvimos dos mais velhos: “Jovens não pensam muito, só fazem. Jovens não têm maturidade, eles só aprendem errando”.
E, de fato, entendo que a maturidade, a capacidade de tomar boas decisões e fazer boas escolhas, só vem com a experiência. Erramos, erramos e erramos, até que entendemos o que está acontecendo, analisamos, observamos, e por fim aprendemos. Quando aprendemos, começamos a qualificar a forma como enxergamos a vida e, consequentemente, fazemos melhores escolhas. Mas eu acredito que é possível conciliar juventude e sabedoria; o ensinamento deste versículo é simples, claro e conciso: “contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria”.
O que vou falar vai parecer muito “clichê”, mas é a pura verdade: a vida passa num piscar de olhos. Quando menos nos damos conta, já estamos na casa dos 30 (meu caso), 40, 50 anos. Quando olhamos para trás, fazemos uma retrospectiva e enxergamos altos e baixos, erros e acertos, conquistas e derrotas. Mas algumas das más escolhas podem ser evitadas se pensarmos que não temos muito tempo para viver.
Como está seu relacionamento com você mesmo? E com Deus? E com sua família, seus amigos? Que decisões têm norteado seus estudos e seu trabalho? Quais suas prioridades e preferências? De que forma você tem buscado o tão sonhado “equilíbrio” na vida, que parece tão utópico, mas tão necessário? Como está sua saúde física, mental e espiritual? Onde você tem colocado sua energia, suas forças, sua dedicação?
São inúmeras perguntas, talvez sem resposta agora. Mas acredito que vale a pena tentarmos fazê-las diariamente, como um exercício de cuidar melhor de nós mesmos e dos preciosos dias que o Criador nos deu. Sigamos nesta jornada, que não terminará até o último dia de nossas vidas!
- Débora Blair Marucci, 31 anos, mora em São Paulo e faz parte das equipes pastoral e de ensino da Igreja Metodista Livre da Saúde. Tem experiência profissional em turismo, ensino de línguas e terceiro setor (inclusão social de refugiados) e trabalha no Pacto Global da ONU Brasil. Cursou estudos orientais com foco no Islã no Seminário Teológico Servo de Cristo e estuda Resposta da Igreja à Crise Migratória no Fuller Theological Seminary.
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