Por Lucas Gonçalves

Nós temos uma tendência infeliz de vivermos em pêndulos, isto é, nos extremos opostos da vida. Essa inclinação também se faz presente entre os cristãos, além de muitas outras manifestações, em nossa relação com a eternidade.

 

Se somos peregrinos, não deveríamos fixar residência aqui. Assim, muitos cristãos vivem alienados do mundo, como extraterrestres, aguardando que esses Antigos Céus e essa Antiga Terra dêem lugar aos tão aguardados Novos Céus e Nova Terra. Para estes, inclusive, quanto pior estiver o mundo, melhor, pois supostamente estaríamos mais próximos da Segunda Vinda de Cristo.

Por outro lado, a fé cristã é uma fé encarnada, ela se dá e se manifesta em nossa vida tangível. O nosso amor por Deus, segundo a primeira carta de João, se manifesta em amor ao próximo. Logo, muitos cristãos vivem de forma extremamente ativas, buscando trazer o Reino dos Céus à terra com a própria militância. Elas tendem a se preocupar demais com o cuidado do vulnerável e se esquecem de nossa maior esperança.

 

A tensão entre esses dois extremos aparenta ser irreconciliável. Elas nos soam mutuamente excludentes e diametralmente contraditórias. Como sermos peregrinos a caminho de nossa Pátria Celestial ao mesmo tempo em que amamos e servimos ao mundo, do qual fomos salvos?

C.S. Lewis, com a sua capacidade única, nos oferece uma solução a esse conflito, conforme lemos em Cristianismo Puro e Simples: “Se você estudar a história, verá que os cristãos que mais trabalharam por este mundo eram exatamente os que mais pensavam no outro mundo”.

 

O ponto dele é bastante rico e nos mostra que esse aparente pêndulo polarizado não é verdadeiro. Sermos peregrinos não pressupõe que devemos ser alienados, ao passo que sermos engajados não deveria nos tornar negligentes com a nossa esperança eterna. A questão é justamente o oposto: conhecermos o destino de nossa Jornada deveria nos fazer trilhá-la de um modo mais coerente.

Nem faria sentido sermos diferentes. Nós conhecemos o início e o final da História. Sabemos que o amor prático, generoso, promotor de bem estar e vida, era o padrão no Éden e será transbordante na Nova Jerusalém. Assim, porque viveríamos diferentes aqui enquanto caminhamos para o nosso destino eterno. O que nos influencia é a nossa identidade, a nossa origem e o nosso destino; não o nosso contexto histórico-geográfico momentâneo.

 

  • Lucas Gonçalves, 34 anos. Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e pós-graduado em Plantação e Revitalização de Igrejas pelo CTPI-FATEV. Ama histórias, comida e estar com sua esposa.

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