Por Débora Blair Marucci

Tenho refletido muito ultimamente sobre a brevidade dos nossos dias. É comum falarmos: “Nossa, o tempo voa! O tempo está passando cada vez mais rápido!” Mas será que realmente entendemos a profundidade disso que estamos falando? Será que sabemos “contar nossos dias, para que alcancemos corações sábios” (Salmo 90:12)?

Quem acompanha a revista Ultimato talvez tenha visto um artigo Sobre a fragilidade da vida e a esperança inabalável que escrevi na edição de setembro/outubro de 2022. Neste artigo, faço referência à grande saga de J. R .R. Tolkien, O Senhor dos Anéis, da qual sou grande fã. Pois bem, vou me referenciar ao autor novamente, desta vez tomando como ponto de partida o “título alternativo” da saga “O Hobbit”, que diz “Lá e de volta outra vez”.

O hobbit Bilbo Bolbeiro, que é um dos principais personagens fantásticos do mundo criado por Tolkien, escreveu a história de sua própria aventura vivida com os anões da Terra Média, aos quais ele ajudou a reconquistar seu Reino perdido. Ao aceitar embarcar em tal aventura, ele precisou abrir mão do conforto de seu lar, seguro e aconchegante, que ficava em uma terra chamada Condado. E quando ele volta para lá após a conclusão da missão, ele escreve o livro “O Hobbit”, e como segunda opção de título ele coloca esta frase: “Lá e de volta outra vez”.

Mas o que significa, afinal? Ela expressa o retorno (De volta outra vez) de Bilbo ao seu lar (Lá) após a árdua viagem. É interessante notar que, nesse título, ele faz alusão ao fim da aventura (o retorno), e não ao seu desenrolar. Eu acredito que, ao fazer isso, Bilbo quis deixar claro mais uma vez (assim como ao longo de toda a história) o quanto seu Lar (o Condado) era importante, por mais que toda a jornada fosse absolutamente fantástica e maravilhosa com todas suas surpresas, perigos e acontecimentos extraordinários. Nada daquilo poderia substituir o lugar do seu Lar em seu coração.

Podemos achar uma controvérsia aqui, inclusive nas próprias ideias do mestre Tolkien. Ele sempre aponta em suas histórias para o fato de que a jornada é tão importante quanto o destino, senão mais importante, e essa ideia permeia o pensamento de muitos outros pensadores em suas obras. Por que, então, Tolkien enfatiza tanto o Retorno?

Acredito que é porque todos nós precisamos de um Retorno. De um Lar. Todos nós, em algum (s) momento (s) na vida, vamos sentir que pertencemos a um lugar no qual sentiremos conforto e paz quando voltarmos a ele. Voltando ao início deste artigo: o tempo passa, a finitude da vida vai ficando cada vez mais clara, a brevidade do tempo encurta nossos dias. Em vez de sentir desespero por essa passagem tão rápida, eu gostaria que você e eu pudéssemos agradecer porque temos um Lar a voltar quando tudo isso aqui na terra passar: um Lar celestial.

>> Surpreendido pela Esperança <<

E, mais importante ainda: que esta consciência de que temos um Lar no Reino de Deus nos oriente em cada passo da jornada aqui na Terra. Quando eu era adolescente, eu ouvia um cantor gospel chamado Rodolfo Abrantes, e uma das músicas dele se chama “Até que a casa esteja cheia”. Na canção, ele expressa o desejo de que possamos viver, aqui na Terra, uma vida cheia de plenitude, “até que cada coisa esteja em seu lugar, como o Pai sonhou”. A casa cheia a que ele se refere é o Reino Celestial, e “cada coisa em seu lugar” é o fim do caos do presente mundo em que estamos. Sejamos nós um canal de cura para a confusão do mundo, até que estejamos “Lá e de volta outra vez”.

  • Débora Blair Marucci, 31 anos, mora em São Paulo e faz parte das equipes pastoral e de ensino da Igreja Metodista Livre da Saúde. Tem experiência profissional em turismo, ensino de línguas e terceiro setor (inclusão social de refugiados) e trabalha no Pacto Global da ONU Brasil. Cursou estudos orientais com foco no Islã no Seminário Teológico Servo de Cristo e estuda Resposta da Igreja à Crise Migratória no Fuller Theological Seminary.

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Saiba mais:
» Histórias de fragilidade e graça
» Na toca do Hobbit
» Tolkien: a história do criador de O Senhor dos Anéis

  1. Tânia de Medeiros Wutzki

    Que texto bom de ler Débora!!

    esta semana estou c a canção Alem Mar do João Manô – album Etéreo que me mobiliza neste sentido tbem… o refrão “não duvides ó minha lama, tudo que procura encontrará”, no “lar” naquele lugar onde o mar e o ceu se encontram e onde as ondas se adoçam… é um salmo… seu texto fortaleceu esta verdade q enche de esperança nossa jornada.

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