Porque Thomas Shelby definitivamente não é um exemplo de masculinidade
Por Tiago Kieffer
Contém spoiler.
Algumas páginas da internet, que tem como temática principal a famigerada masculinidade bíblica, utilizam o personagem Thomas Shelby, da série “Peaky Blinders”, como um modelo para ilustrar suas postagens.
Entre as características positivas do personagem apontadas por essas páginas, se destaca sua capacidade de negociação, sua frieza, seu pensamento calculista e sua seriedade. No entanto, outras características do personagem, que se distanciam do padrão de masculinidade apresentado na Bíblia, não são analisadas nessas publicações.
É preciso dizer que não tenho nada contra o conceito de masculinidade e feminilidade bíblicas. Também não sou contra a série “Peaky Blinders”, afinal considero uma das melhores do catálogo da Netflix. A minha questão é a incompatibilidade do caráter desse personagem com o padrão de homem que a Bíblia apresenta.
Em primeiro lugar, Thomas Shelby é declaradamente um criminoso. Ele atua na ilegalidade em Birmingham. Não está preocupado em agir de acordo com as regras, pois em seu próprio jogo, as regras é ele quem faz.
A frieza, qualidade tão elogiada por essas páginas, é o que faz com que ele subverta as leis e não tenha nenhum tipo de culpa por causa disso. Ora, a Bíblia diz em Salmos 112.5 que: “Feliz é o homem que empresta com generosidade e que com honestidade conduz os seus negócios”. Em Efésios 4.28, a atitude natural do homem convertido é que “O que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo algo de útil com as mãos, para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade”.
Em segundo lugar, Thomas Shelby é um homem cheio de vícios. São raras as cenas nas seis temporadas em que o líder dos Peaky Blinders não está fumando, bebendo (o seu grande e mais devasto vício) e também usando ópio para poder dormir, em meio aos traumas que adquiriu durante a Primeira Guerra Mundial.
Não sejamos hipócritas. Há homens de verdade que lutam contra o vício e que têm esse fardo durante toda a sua vida. Aquele que não se entrega aos vícios de todas as ordens é um guerreiro. No entanto, não é esse o cenário vivido por Thomas.
Em terceiro lugar, a vida sexual de Thomas Shelby não está nem perto de um homem que represente uma masculinidade bíblica. Ele faz de tudo para se deitar com todas as mulheres. O sexo para ele, mais do que o prazer, é uma moeda de troca para conseguir o que quer. Com sua lábia consegue iludir as mulheres.
A própria imagem de mulher perfeita dessas páginas de “masculinidade e feminilidade bíblicas” entra em contradição já que a segunda mulher de Thomas é uma ex-prostituta. Mesmo assim, a ex-prostituta dá muito mais exemplo de fidelidade, de cuidado com a família e com o lar do que Thomas Shelby, o representante de uma masculinidade bíblica pervertida.
Em quarto lugar, uma palavra que define Shelby é manipulador. A política, o crime, as vendas locais – legais e ilegais – e até mesmo a sua família são manipuladas para ele chegar onde planejou.
Em uma das temporadas, me perdoem pelo spoiler, ele chega a entregar a própria família para a prisão. O quarto motivo se une ao quinto. Se Thomas Shelby é um exemplo de hombridade, ele não deveria ter firmeza de opinião? Não me refiro à dureza do coração de não estar aberto ao arrependimento.
Todos nós homens devemos reconhecer nossos erros. No entanto, me refiro à máscara construída para agradar as tendências que mais lhe são convenientes. Thomas Shelby já trabalhou para a IRA, grupo revolucionário que se levantou contra a Inglaterra, para o Partido dos Trabalhadores (progressistas) e até mesmo para os fascistas na Inglaterra.
Por fim, Thomas não tem nenhum cuidado com sua família. A morte de John, seu irmão, Polly, sua tia e de Grace, sua primeira esposa, foram causadas pela ganância e por sua vida criminosa.
Ele não puxou o gatilho, mas permitiu que o contexto de sua vida levasse seus entes queridos. A disputa com a facção italiana dos Changrettas só foi causada pelo desejo de poder de Thomas Shelby. E o que falar de seu filho, que é criado e cuidado apenas pela mãe? Seria essa a característica de um homem de acordo com os padrões bíblicos? Evidentemente que não.
A verdade é que Thomas Shelby não é um modelo de masculinidade bíblica. Nem o Rodrigo Hilbert. Nem o homem desconstruído do TikTok. O modelo de homem está em Jesus Cristo. É nele que nós, homens, devemos olhar para saber como tratar as mulheres, sejam elas nossas amigas, conhecidas, mães, filhas ou esposas.
É o amor sacrificial de Cristo que deve estar em nossa mente quando nos unimos com nossas esposas e construímos nossos lares. É a honestidade do carpinteiro de Nazaré que deve ser o nosso exemplo.
- Tiago Kieffer é doutorando em teologia pelas Faculdades EST, mestre em história e especialista em história do pentecostalismo.
Jesus Enrique
Isso é a mais pura vdd
Elias Vieira
Uma excelente resenha sobre a obra da britânica BBC, e, de quebra, essa contextualização comparativa com a hombridade de Jesus de Nazaré. Realmente, temos tudo a aprender com Jesus, sempre!