Por Júlia Gomes

A palavra universidade é capaz de despertar diversos sentimentos e uma cascata de pensamentos nas pessoas, dada à fama que as instituições acadêmicas possuem, seja elas de farra ou mesmo ceticismo. Bom, é preciso dizer que nada recebe fama ao acaso. Mas isso não é tudo, tampouco deveria desencadear medo no jovem seguidor de Cristo.

A faculdade tem sido, pela graça de Deus, uma experiência maravilhosa para mim, e faço questão de dizer isso aos calouros cristãos, para que se sintam encorajados a viver em santidade, amor e empenho nesse período tão singular da vida. Louvo aquele que tudo fez por me fazer conhecê-lo e amá-lo ainda mais através de meus estudos. Mas se o conhecimento não nos afasta de Deus, então qual seria o problema com as universidades?

Frequentemente jovens que abandonam a fé ao adentrar nas faculdades querem se pagar de intelectuais e justificam sua apostasia com argumentos racionais; mas o buraco é mais fundo, eles não souberam lidar com o que chamo de a “situação Jesus”, uma espécie de dualidade, cujas universidades tanto intensificam esse cenário.

Quero deixar posto logo de início que todo cristão presencia tal realidade, a diferença é que nas instituições acadêmicas isso é acentuado.

Ser cristão no campus é algo marcado por uma profunda ambiguidade. Isso é fruto do que eu acredito ser a religião mais difícil para crer e praticar, o cristianismo. Porque está escrito que não devemos nos isolar do mundo (Jo 17:15, 18) nem nos moldarmos conforme seus padrões (Rm 12:2); antes, somos chamados como povo santo para amarmos nossos companheiros de jornada acadêmica. Cabe ao cristão em questão saber identificar qual extremo é sua fraqueza: isolamento ou moldagem.

Não somos nativos da Babilônia, mas não iremos sair como forasteiros até que Ele venha. Posso contar com o Santo Espírito para agir, contudo, ainda tenho minhas responsabilidades em minhas ações. Percebe a ambiguidade? Entretanto, mesmo neste louco e constante deslocamento, Deus nos chama a encontrar equilíbrio (2Tm 1:7).

Assim nasce a Situação Jesus. Aquele que, ao encarnar, foi terreno e celestial. Santidade em carne, o todo poderoso caminhando como criatura mortal. O filho de carpinteiro, a salvação para a humanidade. A justiça do Senhor teve mãos de um homem que irritou muita gente, com a face que multidões aguardavam – Ele os amou. Certamente o Messias é a pessoa mais ambígua de todas. O Deus dos deslocados.

Como miniatura de Cristo, nós podemos viver, embora de maneira imprecisa (por isso as crises), a “situação Jesus”. Uma forma não totalmente compreendida, porém, completa, de viver a vida, sendo apenas possível quando o próprio Cristo passa a viver através de nós. O engraçado nesta história é que Ele nos avisou acerca desta dupla e integral realidade (ler João 17).

Aparentemente não sabemos lidar com a nossa natureza humana. Então, o que podemos fazer? Nós pedimos para aquele que soube viver sem pecar, inteira e intensamente, para que nos ajude. O salmista escreveu “Ensina-me como viver, ó Senhor” (Sl 27:11). Eu amo esse verso. Deveríamos orá-lo todos os dias ao despertar.

Cristo não é só o Divino, mas também o Humano. Nós, não Ele, somos a sua imagem. O universo todo existe para que Ele, a Palavra, pudesse encarnar. Apenas o Cordeiro de Deus pode nos ensinar a ser, pois nEle o próprio Criador abraçou a Criação quando se tornou parte dela, uma criatura, uma pessoa.

Portanto, o jovem cristão, enquanto universitário, deve aprender a se equilibrar numa identificação profunda marcada por uma diferença radical, como o Mestre fez – intencionalmente.

Isso significa que você deve conversar com os outros estudantes, sentar-se para comer junto com eles, ouvir música boa, consolar quando a nota ruim vier, abraçar ao saber que seu colega levou um fora, ouvir os desabafos e aconselhar e, acima de tudo, ame-os; ao passo que seu caráter é firme aos princípios do Reino e sólido em seus valores atemporais. Esteja certo de que, como o Messias, irritará alguns,mas será agradável a outros. Faz parte da “situação Jesus”.

Viver como um aluno comum, do mesmo modo que Jesus viveu como um homem comum; porém, com uma divergência, que foi o suficiente para alterar a eternidade – viver o Evangelho.

Enquanto estivermos aqui, Cristo prometeu tornar essa vida mais leve e suave (Mt 11:28-30). Nós não temos um sacerdote que não tem noção da nossa situação, mas sim um bom pastor que presenciou todo esse cenário paradoxal e ainda mais. Além disso, Jesus nos chamou para sermos seus discípulos, isso implica seus ensinamentos em nós – sua maneira de viver. E porque somos seus seguidores, Ele está conosco.

  • Julia Oliveira Gomes, 20 anos, discípula do Cristo. Estudante de ciências biológicas na UFSCar, leitora voraz. Ama C. S. Lewis e é fã de Star Wars. Gosta de música e fotografia. Instagram: @prosasprosaicas

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