Por Layla Fischer

“Aqui” não exatamente aqui.
Mas aqui… no point do belo e do complexo. Onde a eternidade esbarra no tempo e habita os minutos que se passam enquanto os ouvidos estão atentos à leitura do livro sagrado.

Talvez porque seus braços acolhem todo tipo de gente. Ou porque não se trata exatamente de uma construção humana.
É um fragmento tirado da sociedade. É a sociedade fundada por Jesus.

Ah, se todos estivessem aqui para ouvir verdades que penetram o âmago da existência… Ou simplesmente para rir da mesma história…
Ou para reconhecer que as mãos que regem o glorioso coral são como as mãos de um Pai criador, que existe e se envolve.

Ah, se todas as crianças pudessem ouvir narrativas tão maravilhosas – e curiosas –, mesmo que o desvelamento do sentido se desse anos depois… Ou se pudessem aprender a canção que perdura por gerações e que acompanha a vida até o seu fim…
Se soubessem que existe algo infinitamente cheio de significado no domingo de manhã – e bem melhor do que dormir até 12h.

Mas eu sei que os traços de humanidade não passam despercebidos. Pelo contrário, se evidenciam. Aqui também é o lugar do conflito.
Conflito que separa, que deixa marcas. Conflito irrigado de muitas lágrimas.

Mas que abre caminho para o rasgar de corações – a reconciliação, a regeneração. Exatamente como a perspectiva do Fundador: nunca de destruição e fim, mas de reforma e recomeço.

E aqui se torna o lugar onde pessoas entram destruídas e saem regeneradas. Onde entram inimigas e saem reconciliadas.

É aqui onde se reúnem os piores.
Mas é entre os piores que quero estar (entre eles, eu sou apenas mais uma).

Haveria outro lugar?
Outro lugar que concentrasse tanta falibilidade a ponto de desafiar as misericórdias?
Outro lugar que apresentasse a única luz capaz de adentrar os abismos do coração?
Outro lugar onde todo o trabalho para que as essências boas do homem se evidenciem não se faz inútil?

É aqui onde a vida encontra valor quando habita a presença do outro.
A necessidade do outro. A criaturidade do outro.

“Outro” que não é apenas mais um nome de uma grande lista. Ou parte do mesmo grupo no WhatsApp.
Mas membro de um mesmo corpo.

Não pode ser apenas fonte de ensino e de atividades.
Precisa ser o refúgio para os desesperados. Auxílio para os duvidam, alimento para os que têm fome.
E um lembrete acerca das verdadeiras responsabilidades.

Muito sangue foi derramado para que o “aqui” existisse.
E o “aqui” também acontece na clandestinidade, onde talvez não haja mais nenhuma liberdade, mas abundância da fé que fundamenta a esperança.

Há quem rejeite estar nesse lugar.
É uma pena que estejam perdendo o grande banquete. E que estejam cantando outra canção que não essa, que começou dentro das molduras de um templo e que continuará a soar durante toda a eternidade.

É uma pena que tenham desistido ou sequer tentado.
Mas que, pelo menos, saibam: aqui também é o lugar dos que desistem ou ainda não tentaram.

É por isso que é aqui. Só pode ser aqui.
E eu só queria… que todos estivessem aqui.

 

  • Layla Fischer, 23 anos, é assessora jurídica e pesquisadora. Congrega na Igreja Presbiteriana Central de Curitiba, PR, e estuda teologia junto ao Invisible College.

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