Por Stela Portes

Há pouco tempo comprei uma mesa. Uma amiga precisava vender e vi ali uma boa oportunidade de adquirir esse móvel tão desejado por mim. Sempre sonhei em receber os amigos e ter a mesa cheia. Aqui em casa bate um solzinho bem gostoso na sala, então já decidi logo colocá-la bem ali, embaixo da janela. Pegaria sol e ainda iria me proporcionar a vista da janela. Não podia imaginar o quanto essa pequena vista (que não é nada muito extraordinária rs) poderia me ensinar. Mas o que vejo, afinal? Sentada à mesa avisto a ponta de uma goiabeira e uma boa parte do céu.

Diariamente pego meu café e sento por alguns minutos a observar… Nesse pequeno ecossistema da goiabeira, muita coisa acontece. Casais de maritacas fazem festa, já vi beija-flor e vários tipos de pássaros que infelizmente não sei identificar. Eles estão ali, comendo, vivendo e fazendo barulho a cada dia sob o sol. Não trabalham nem fiam e Deus os sustenta a cada sol que nasce e se põe. Não é assim também conosco? O Criador que sustenta o beija-flor promete me sustentar, me vestir mais lindamente que as flores do campo, mas eu teimosa que sou, corro atrás do vento para buscar o meu sustento. Corro, corro e corro. Sempre apressada.

Sentar à mesa e olhar pela janela me fez refletir o quão apressado e até desesperado tem sido meu cotidiano. Aquele lugar comum onde Deus quer me encontrar todos os dias enquanto repito para mim mesma que não tenho tempo, pois preciso trabalhar e estudar. Ainda assim, ele insiste em me buscar porque ele me ama, e eu preciso respondê-lo, ir ao seu encontro. Ele me oferece a melhor parte, e eu deveria recebê-la assim como Maria, sentando aos pés de Jesus como se nada mais no mundo importasse. Mas a verdade é que tenho vivido agitada, de um lado para outro, como Marta. Não me entenda mal aqui. Marta é uma personagem com a qual me identifico muito e sei o quão valioso era seu serviço, mas naquele momento ela não fez a melhor escolha. Quero escolher estar aos pés do meu Senhor, mesmo no ordinário momento em que tomo meu café e olho pela janela.

Sentada à minha mesa, também observo o céu de um azul intenso e belo. Ele me lembra todos os dias que o Pai me vê de sua morada eterna. Um lugar para onde também irei. Ele virá me buscar e essa será a última vez. Sem pressa, sem correria e com o desfrutar eterno da sua presença. Neste lugar não haverá mais dor, nem sofrimento, nem morte. A minha mesa me ensinou a enxergar que a eternidade é logo ali. Mas enquanto ela não chegar, não preciso ter pressa, pois meu Pai está comigo, me sustentando, assim como faz com as maritacas que agitam minhas manhãs. Enquanto espero meu salvador voltar, quero minha mesa cheia de amigos, cafés demorados, o andar sem pressa, até o dia em que sentarei aos seus pés para sempre.

 

  • Stela Portes é membro da Igreja Presbiteriana de Viçosa, graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e estudante do programa de tutoria no Invisible College.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *