Por Vitória Maria

O avanço do Social Commerce é uma realidade inescapável. A junção entre o e-commerce e as mídias sociais digitais se tornou ainda mais evidente com a pandemia da Covid-19. De acordo com uma pesquisa realizada pela All iN | Social Miner, em parceria com a Etus e a Opinion Box, 86% dos brasileiros fazem do consumo online um hábito. Assim, 37% visitam as lojas digitais pelo menos uma vez por mês e 23% acessam as redes sociais semanalmente para fazer compras.¹

Preço, rapidez, informação e facilidade de busca são critérios que fazem das mídias sociais uma ferramenta de procura por novos produtos. Não obstante, estes apresentam-se como facilitadores para o consumo. Entretanto, em um mundo onde o ‘ter’ ocupa grande relevância na existência, qual espaço o ‘ser’ ocupa nas atribuições reais da vida? Precisamos discutir as raízes dos nossos hábitos de consumo.

Consumir: uma necessidade real ou inventada?

Bob Goudzwaard, nos apresenta uma publicidade que muda ao longo do desenvolvimento do capitalismo. Essa também molda a percepção do progresso. Em dado momento, as necessidades dos clientes determinavam a produção. Com a inserção da tecnologia na influência do gosto do consumidor², essa lógica se inverte e a publicidade passa a ser determinante nos hábitos de consumo.

Desta forma, a publicidade atua no despertamento de necessidades reais ou inventadas? Em diálogo com Goudzwaard, localizamos essa atividade na decisão sobre “quais produtos deverão estar disponíveis na sociedade em vez de quais “necessidades” deverão ser atendidas”³. Assim, “de acordo com as leis da evolução social, o consumo enquanto uma entidade maleável e dependente deve ser ajustado ao sistema existente de progresso econômico”.4

Um exemplo disso são os lançamentos anuais de novos modelos de smartphones. Vemos na prática a defasagem dos produtos, que desencadeia uma nova necessidade desnecessária. Nos deparamos, portanto, com “a ilusão de que o consumidor se sentirá melhor e mais feliz depois que tiver adquirido um determinado artigo”.5

Abertura para consciência

É importante que encontremos parâmetros para nortear nosso modo de consumir. Nesse momento, somos recordados acerca da vida coram Deo, onde até “mesmo na vida econômica, o homem trabalha e vive perante a face do Deus vivo”.6

Ao adotarmos um modelo guiado pelos aspectos do progresso, colocamos em risco alguns aspectos da nossa experiência humana.

Dentre elas, podemos apontar a tentativa de satisfação no consumo e a possibilidade de estarmos progressivamente mais presos em nós mesmos, recaindo no processo de individualização. Por isso, é fundamental entendermos que uma “vida econômica que não considera a natureza de Deus, que não se preocupa com as demais criaturas, sem solidariedade e sem equidade’ (…) se desvia da resposta amorosa a Deus e ao próximo que também é esperada na vida financeira”.7

Em vista disso, é correto resgatarmos aqui o conceito de abertura defendido por Bob Goudzwaard. Esse é um processo sobre a recuperação da validade das “normas para a vida humana — como justiça, confiança e verdade”.8

Esses aspectos devem estar presentes também nos nossos hábitos de consumo. O ter não pode ser determinante para o nosso ser. Afinal é finito nos consome e insuficiente para nos suprir. É fundamental que consigamos olhar para fora de nós mesmos.


Notas:

1. REDAÇÃO. Social Commerce: 74% dos brasileiros usam redes sociais para compras. Disponível em: <https://tiinside.com.br/28/06/2021/social-commerce-74-dos-brasileiros-usam-redes-sociais-para-compras/>. Acesso em: 3 out. 2022.
2. Ibid, p. 117.
3. Ibid, p. 118.
4. Ibid.
5. Ibid, p. 168.
6. Ibid, p. 88-89.
7. Ibid, p. 89.
8. Ibid, p. 202.


Referências:

[1] GOUDZWAARD, Bob. Capitalismo e progresso: Um diagnóstico da sociedade ocidental. Trad. Leonardo Ramos. 1a ed. Viçosa: Ultimato, 2019. 280p.

[2] REDAÇÃO. Social Commerce: 74% dos brasileiros usam redes sociais para compras. Disponível em: <https://tiinside.com.br/28/06/2021/social-commerce-74-dos-brasileiros-usam-redes-sociais-para-compras/>. Acesso em: 3 out. 2022.

[3] Uso das redes sociais pela população brasileira deve crescer nos próximos cinco anos. Disponível em: <https://www.mtitecnologia.com.br/uso-das-redes-sociais-pela-populacao-brasileira-deve-crescer-nos-proximos-cinco-anos/>. Acesso em: 3 out. 2022.


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