Misericórdia, até na morte
Por Julia Gomes
A alma se contorce quando a palavra é pronunciada, o coração aperta, e até os pulmões tentam segurar o ar para que ele não escape quando ela é dita. Morte. O ser humano, em seu narcisismo e desespero, busca se imortalizar, porém, não consegue; o pecado impregnou-o, dessa maneira, recebeu seu salário.
Quando a morte bate à porta de nossas casas, levando um amado consigo, tamanha dor não pode ser mensurada. A angústia toma conta, e simplesmente parece inaceitável que a pessoa se foi, nos deixando com a sensação de que tal separação não é natural. Não é mesmo, por isso tanto nos machuca e aflige, tentamos evitar até mesmo falar nela como quem teme atraí-la.
Mas, pode a morte ser usada como instrumento de misericórdia? Na alvorada do tempo, o princípio dos dias, havia uma árvore singular no jardim de Deus, a Árvore da Vida. O relato da gênese conta que, após a Queda, o Senhor, em sua santidade, se retirou e expulsou Adão e Eva do Éden, colocando querubins com uma espada flamejante para guardar o caminho até a árvore da vida. Naquele momento, a Graça já era manifesta. Tanto nos amou, que a guardou de nós, para que não vivêssemos eternamente no pecado. Penso que se nos deixasse à mercê, com acesso a tal poder, a Terra seria transformada no próprio inferno, e o mal a tudo iria dominar. Jamais morreríamos, e assim, iríamos viver para sempre numa maldade sem fim.
Isso não faz da morte algo natural, pelo contrário, o ser humano foi criado para viver eternamente, ela veio depois da criação da natureza. Todavia, ao olharmos pela perspectiva da Graça, vemos a bondade e agir de Deus para nos livrar do pecado desde os tempos longínquos. Vai além, não somente nos liberta do mal, como em Cristo, nos faz ter acesso à árvore da vida novamente; nos ligando à vida eterna e ao Eterno, pois ele é a videira, e nós os seus ramos.
Posso encarar a morte e não vacilar, porque não há nada a temer. Ela nunca teve a palavra final, nem mesmo quando o homem comeu do fruto proibido. O plano de salvação é a história de amor que Jesus contou ao morrer em meu lugar, sair vitorioso, me dar vida em abundância e reinar sobre seu trono de direito. Portanto, nós, que pertencemos ao Autor da Vida, podemos descansar, e não nos assustarmos com a presença inevitável da morte. Somos capacitados a olhar para ela e encontrar paz, esperança, vida.
“Sem culpa na vida, sem medo na morte
Este é o poder de Cristo em mim
Do primeiro choro da vida ao último suspiro
Jesus comanda meu destino
Nenhum poder do inferno, nenhum plano do homem
Podem jamais me arrancar de Sua mão
Até que Ele volte ou me chame para o Lar
Aqui no poder de Cristo vou permanecer”
STUART TOWNEND. In Christ Alone.
- Julia Oliveira Gomes, 18 anos, estudante de ciências biológicas na UFSCar, leitora voraz. Ama C. S. Lewis e é fã de Star Wars. Gosta de música e fotografia.