Por Vinícius Vargas

Sempre morei na cidade em que nasci, sendo membro de uma igreja a 300 metros da minha casa. Na adolescência, tive uma banda com os amigos. Tocávamos na nossa igreja e nas igrejas ao redor. Conhecemos muita gente nesse tempo. Durante o período que fiz seminário me envolvi com o pessoal da juventude batista da cidade. Foi um tempo bom de muito aprendizado.

Já formado, fui pastorear em outra cidade, embora continuasse morando no mesmo lugar. Fiquei lá por seis anos. Quando deu o tempo de encerrar o ministério naquela igreja, voltei para minha igreja de origem. Lá, fui ajudar a líder de juventude fazendo a ponte com o pessoal das juventudes das outras igrejas da cidade. No primeiro evento que eu fui, encontrei com um cara que não me era estranho. Nas conversas com ele descobri que ele era filho do pastor de uma daquelas igrejas onde a gente ia tocar anos antes. Mas eu era adolescente, e ele era criança. Na época não dava para sermos amigos. Agora, já era possível ser amigo do Amnom.

Naquele dia, em junho de 2012, começamos a caminhar juntos e a ajudar as juventudes das igrejas batistas da nossa cidade. Ele era o vice-presidente e eu ajudava com a capacitação dos líderes de juventudes. Foi assim em 2013 e 2014. Ao final de 2014, ele se candidatou à presidência da Juventude Batista da cidade, mas me pediu para ser vice junto com ele. Eu não queria. Relutei. Mas aceitei. Fomos eleitos por três anos seguidos. Nesse meio tempo, ele foi também eleito presidente da juventude batista do estado todo.

O senso de urgência, a correria, a velocidade com que tudo acontecia me impressionavam. Especialmente porque Amnom não era o cara que queria aparecer, nem ficar famoso. Ele só queria cumprir seu chamado. Ele sabia o que Deus queria dele e fazia todo o possível para cumprir com aquilo que havia sido orientado por Deus.

Ele era quase onipresente. Estava em muitos lugares quase ao mesmo tempo. Percorria grandes distâncias pelo menos para dar um abraço nos amigos, saindo de um evento para outro. Seus fins de semana eram de muitos quilômetros rodados. Participei de algumas de suas aventuras, mas não dava para acompanhar tudo. Era muita coisa, quase tudo ao mesmo tempo, e de um jeito ou de outro, sempre conseguia dar conta de tudo.

Apesar da correria, sempre tinha um tempo para os amigos, para se divertir, para refletir e para tocar seu violão. Junto dele sempre estava sua mochila, na qual carregava muitos papeis, uma caneta, sua Bíblia, umas roupas e às vezes o notebook. Aliás eu estava junto quando uma vez ele esqueceu a mochila do lado de fora do carro, e passou com o carro por cima da mochila. O notebook estava dentro!

Tanto fez em tão pouco tempo que aos 25 anos era o responsável pela coordenação das juventudes batistas do Brasil inteiro. Organizou grandes eventos, enfrentou uma enormidade de desafios e problemas que apareceram no caminho, mas sempre sorrindo, cercado de amigos e contagiando todo mundo com seu entusiasmo por servir as juventudes do Brasil e de fora; esteve no Paraguai e fazia parte da equipe que organizou a Assembleia da Aliança Batista Mundial, além de outros eventos internacionais.

Era, de fato, um cara com uma vocação. E sua paixão por cumprir seu chamado fez com que muita gente se unisse a ele no mesmo propósito. Juntou uma bela equipe que chamava de família. Uma equipe de apaixonados como ele. Que tinha (e tem) a juventude como sua causa.

Em maio de 2021, menos de quatro anos depois de assumir a coordenadoria nacional das juventudes batistas, contraiu a Covid-19. Foi hospitalizado. Fez aniversário de 29 anos no hospital e no dia 18 de maio nos deixou. Foi para o céu. Voou.

Viveu sua vocação plenamente, e eu pude estar bem perto nos últimos nove anos. Havia muita coisa para fazer ainda. Muitos sonhos, muitos projetos. A conclusão do curso de bacharel em teologia no fim desse ano seria só uma dessas coisas que ficaram por fazer.

A sua paixão pelas juventudes não deixará que o trabalho acabe. Daremos sequência ao seu legado, continuaremos a fazer aquilo que ele já tinha começado. Sua missão, ainda que curta, foi cumprida (e comprida também). Fez muita coisa e deixa um grande legado de alguém apaixonado por uma causa e por sua vocação. Não viu o resultado de tudo que plantou. Nós colheremos os frutos das sementes que ele lançou. E o faremos lembrando dele, agradecendo a Deus por sua vida e por ter vivido por sua vocação. Que apesar de tudo, vivamos a nossa vocação também.

Até breve, Amnom!

 

  • Vinícius Vargas é marido da Izabela e pai do Eduardo e da Eliza. Pastor da Missão Batista em Jardim América – RJ, membro do comitê de capacitação de líderes da Juventude Batista Brasileira, mestre e doutorando em Teologia Sistemático-Pastoral pela PUC-RJ.

 

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  1. Raquel Miranda dos Santos Theophilo

    Meu maninho e seu senso de urgência e compaixão queria estar perto de todos e ao invés de ensinar, parava pra ouvir e refletir sobre os diversos mundos que encontrou pelo caminho. Com isso ele me mostrou na prática que o Evangelho pode entrar em qualquer lugar desde que a gente desapareça pra Jesus aparecer. Olhar pra Amnom era ver Jesus em ação. Menino simples que viveu intensamente sem luxo mas foi extremamente feliz e realizado. Meu maninho, “neguinho” como eu sinto sua falta! :*

  2. Marcos Porto Freitas da Rocha

    Maravilhoso ter feito parte dessa geração, Amnom sempre foi um exemplo. Um líder que inspirava.
    Ver a obra realizada por ele, Vinícius, Wagner, Marcel, Marvio e tantos outros jovens que se permitiram ser usados por Deus.
    Que possamos continuar a servir a Deus em todos os lugares.

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