Por Jeferson Cristianini

Desde março de 2020, todos nós estamos sendo impactos com a pandemia da Covid-19. Os impactos foram grandes e cada família reagiu – e está reagindo – de acordo com a dinâmica familiar. Inúmeras famílias foram impactadas financeiramente com a perda do posto de trabalho com o fechamento do negócio da família, e aqueles que seguem trabalhando tiveram uma queda na renda. Todas as famílias sofreram o impacto da alta dos preços dos alimentos e o custo de vida disparou. Muitas famílias foram impactadas com o fechamento dos templos e assim fomos privados da convivência cristã, da comunhão com os salvos, o que é importante e fundamental para nossa vida espiritual e emocional. Com o distanciamento social, os templos foram fechados, e assim vivemos com a saudade de adentrar ao templo, não de forma mística ou idolátrica, mas para poder desfrutar do culto público com a igreja repleta de pecadores salvos que adoram a Deus.

Desde março de 2020, as notícias de pessoas infectadas pela Covid-19, e infelizmente notícias de mortes, chegam até nós. Os meios de comunicação mostram os boletins diários e o número de mortos é assustador. Desde o início da pandemia, a taxa de infecção foi oscilando, mas os nomes de pessoas e famílias em isolamento só aumentou, e tristemente os nomes de pessoas que morreram não pararam de chegar. No início, os nomes eram de pessoas de longe, e depois a taxa de contaminação foi chegando perto. Bem perto. Tem sido muito triste viver um luto atrás do outro, ver notícias de pessoas queridas que morreram por conta dessa doença. É doloroso ver a tristeza de muitas famílias que choram seus mortos e que não podem fazer um velório digno e normal, e com isso agrava-se a dor do luto e da despedida.

A igreja de Jesus, inserida nessa sociedade é chamada a consolar o povo. No livro de Isaías, Deus deixa uma mensagem clara: “Consolai, consolai meu povo” (Isaías 40.1). Deus pede que os líderes consolem o povo. Os pastores têm sido muito demandados a consolar as famílias. Os pastores estão a todo instante disponíveis a cuidar do rebanho da igreja local e de suas famílias, assim como das pessoas de sua família e dos vizinhos da igreja. Pastores munidos da Bíblia e de uma vida piedosa se lançam na direção das famílias de luto visando consolar e confortar os que choram, contando obviamente com o consolo divino do Espírito Santo. O Espírito Santo de Deus é o nosso Consolador, e usa os obreiros nessa missão de refrigério (cf. João 16).

Paulo, o apóstolo, nos orienta a nos “alegrarmos com os que se alegram e chorarmos com os que choram”. É claro que precisamos nos alegrar com os que se alegram nesse tempo, afinal de contas algumas famílias foram abençoadas com o nascimento de um filho, alguém recebeu uma promoção de trabalho, ou sentiu-se cuidado e protegido por Deus, e louva a Deus pelos livramentos e pela provisão de Deus. Temos sim incontáveis motivos para nos alegrar, mesmo vivendo num tempo triste como o nosso; mas, também somos chamados a chorar com os que choram. Não são poucos os que choram. Choram de dor de luto, choram por falta de alimentação, choram por falta de esperança, choram diante do fechamento da empresa, choram de desespero emocional. Nosso povo chora, e a igreja de Jesus é chamada a chorar.

Os discípulos de Jesus são convocados a chorar com os que choram, ministrando compaixão e graça, orando a todo tempo, manifestando nossa sensibilidade e pedindo que Deus nos use para contagiar as pessoas com a expectativa e esperança da vida eterna.

N. T. Wright, no livro Deus e a pandemia, nos lembra que “cerca de um terço dos salmos são de lamento”. Wright ainda diz assim: “Em um momento sério de crise, quando a morte se infiltra em casas e estabelecimentos; quando nos sentimos saudáveis, mas podemos, sem saber, portar o vírus; quando cada estranho na rua é uma ameaça; quando passeamos com máscaras, quando igrejas estão fechadas e pessoas morrem sozinhas, sem ninguém com quem orar ao lado da cama- em tempos assim, é hora de lamentar”. Somos convocados a estar entre aqueles que estão pranteando. O momento é de choro. Chorar por amor as vidas.

Nosso lamento diante de tantas mortes deve revelar o amor cristão, encharcado de compaixão e sensibilidade espiritual como aprendemos com Jesus.

Todos nós já necessitamos do consolo do Senhor diante de nossas crises pessoais, e assim sabemos como é bom ter o Deus misericordioso nos ajudando, o Espírito Santo nos consolando, e nosso irmãos e irmãs ao nosso lado chorando conosco. O apóstolo Paulo louva a Deus pelo consolo do Senhor e nos desafia a consolarmos: “Bendito seja Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus”. Somos consolados pelo Deus de misericórdia para consolarmos.

Confiemos que Deus nos consola em meio as tribulações. Lamentemos e choremos com os que choram clamando o consolo do Senhor para todos os que sofrem nesse tempo de tribulação.

Com carinho e amor, pastor Jeferson Rodolfo Cristianini.

Artigo escrito em 15 de julho, quando eu acabara de receber a notícia da morte de um amigo.

 

  • Jeferson Rodolfo Cristianini é pastor da Igreja Batista Nova Canaã Sorocaba.

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