[Atenção: pode conter spoiler]

 

Por Joyce Hencklein

Nesses últimos dias, tenho assistido uma série que tem chamado muito a minha atenção: Expresso do Amanhã. É uma série de suspense que possui uma narrativa pós-apocalíptica. O cenário principal é um trem, chamado snowpiercer”.

O snowpiercer foi criado por Joseph Wilford, um engenheiro extremante rico que sabendo que a terra seria inabitada pela ausência do Sol, tem a ideia de fazer um trem, para ser o refúgio dos habitantes da Terra. Junto com sua equipe de engenheiros, Wilford, pensou na estrutura do expresso, desde vagões para criar animais a fim de garantir o sustento básico, até vagões que ofereciam conforto e, faziam do trem, um local que representasse uma “cidade”, mesmo com as limitações para tal comparação.  Wilford preparou uma equipe de hotelaria, segurança, cozinha, limpeza e lazer. Bem, aparentemente tudo perfeito né? Mas, é preciso dizer que o trem também possui estruturas sociais estabelecidas pelo próprio Wilford. E como fez isso? Ele vendeu bilhetes para um número reservado de pessoas dividindo-as em três classes: A primeira, alto nível; a segunda, nível intermediário e a terceira a classe, trabalhadora. Há também outro grupo que faz parte do trem, chamado “fundo”. Na realidade, esse grupo não deveria nem estar no trem, mas no dia em que o expresso partiu, inúmeras pessoas desesperadas pela sobrevivência, entraram nele à procura de refúgio. Infelizmente, esse grupo vive sem condição alguma e sempre acaba sendo punido de maneira injusta. O grupo “Fundo” é muito unido e possui líderes natos.

Com essas novas informações, podemos afirmar que o trem sai da condição de projeto perfeito para caos iminente.

Nesse contexto, o que mais tem me chamado a atenção é a questão da desigualdade e das injustiças sociais. Quando penso num cenário pós-apocalíptico, me vem à mente o reino de Deus estabelecido de maneira perfeita. Nosso Deus tem planejado um lar para nós. Jesus diz isso em João 14.1-2 “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vô-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar”.

 Diferente da realidade do trem, que vive de aparências e divisões, o reino do nosso Deus não funciona assim. Como está escrito em Romanos 14.17: “Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”. E o melhor é que não precisamos pagar, ou comprar bilhetes para ter acesso a esse reino. Afinal, somos salvos pela graça, e a nossa dívida já foi paga. Como está escrito em Efésios 2.8: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus”.

 Wilford fez o projeto, é o dono do trem, estabeleceu as regras de convivência, mas, por incrível que pareça, ele não aparece. Na verdade, quem faz essa função é sua funcionária (braço-direito) Melanie Cavill. Durante os episódios em que Melanie é a porta voz oficial de Wilford é possível perceber que os moradores do trem, em sua maioria, possuem um amor platônico por ele. Eles o respeitam, admiram, veneram, e o veem como um verdadeiro Messias. Mas, como podem amar tanto alguém que eles mesmos nem conhecem? Isso me faz pensar na facilidade que temos de criar ídolos. Como disse João Calvino: “O coração humano é uma fábrica de criar ídolos”. A idolatria é extremante perigosa, e é também muito sútil. Engana-se quem pensa que apenas os católicos idolatram imagens e esculturas. Existem muitos outros tipos de veneração: a homens ou até mesmo a coisas.

Em um determinado momento da série, os passageiros descobrem que Wilford nem chegou a embarcar e, provavelmente, havia morrido. Era como se eles tivessem a sensação de: “Deus está morto, e agora? Em quem vamos confiar?”. Uma das coisas mais belas da fé em Jesus, é saber que ele nunca nos abandona, que Nele podemos confiar. Em Hebreus 13.5b, Ele nos deixa essa mensagem: “porque Deus mesmo disse: Nunca o deixarei, nunca o abandonarei”.

Toda grande série tem uma reviravolta, e com Expresso do Amanhã, não é diferente. Todos achavam que Wilford estava morto, mas na verdade ele estava vivo. Contra todas as possibilidades, Wilford alcança o snowpiercer com outro trem, também de sua autoria, o chamado: “big Alice”. Menor que o snowpiercer, o big Alice, também tem tripulantes e passageiros. Mas, não possuem mantimentos e conforto, porém, eles possuem tecnologia e medicina avançada. Interessante informar que, Wilford não é nem de longe o líder brilhante e messias que aparentava ser. Se mostrou um homem ganancioso, perigoso e vingativo. No entanto, ele era extremante cativante, com uma oratória impecável e convincente. Em meio a tantas novidades e incertezas, as pessoas dos dois trens se veem em dúvidas. Wilford, apesar de ser péssimo, consegue ter um batalhão fiel. Aqueles que o amavam e idolatravam, continuavam com o mesmo sentimento. Não há como não relacionar “um lobo em pele de cordeiro” como Wilford, e o que nós, como cristãos, devemos nos atentar sempre, que são os chamados: falsos profetas. Em Romanos 16.17-18, recebemos uma orientação: “Recomendo, irmãos, que tomem cuidado com aqueles que causam divisões e põem obstáculos ao ensino que vocês têm recebido. Afastem-se deles. Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios apetites. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam o coração dos ingênuos”.

De maneira geral, acredito que sempre podemos aprender e refletir a partir de mensagens mais lúdicas como: filmes, séries, livros e músicas. Provavelmente o autor dessa série, não a fez com o intuito de evangelizar ou de passar um a mensagem de viés crítico social cristão. Mas, defendo a ideia de que a medida em que nós relacionamos o que cremos ao o que lemos, vemos e ouvimos, isso nos ajudar a discernir um pouco mais tendo uma cosmovisão cristã.

Sobre o fim da série? Ainda não sei, mas garanto a vocês que até aqui tem valido a pena acompanhá-la.

  • Joyce Hencklein, 27 anos, cristã. Aspirante a redatora.
  1. Wipson da Silva Almeida

    Seu texto é maravilhoso. Ele é jovem, de fácil compreensão. Muito gostoso de ler. Bem construído e fluente nas ideias. Muito atual e de fácil aplicação ao contexto da igreja evangélica brasileira. Revela também a boa teologia reformada e uma pitada apologética. Parabéns…continue…

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