Por Jeferson Cristianini

Desde sempre tive dificuldade, como qualquer ser humano, em lidar com algumas pessoas. Desde sempre tive, assim como você também, que aprender a lidar com todo o tipo de gente que caminha pela terra, afinal de contas aqui é o espaço onde faremos nossa peregrinação antes de ir morar nas mansões celestes.

Lembro-me de minha mãe se esforçando para me ensinar a amar as pessoas, e eu sempre dizia que não gostava de algumas delas. Minha mãe ganhou coro quando, na igreja, perguntei se eu tinha que amar a todos assim como Jesus. A partir daí, minha professora começou a pegar no meu pé, assim como minha mãe, para que eu “aprendesse” amar as pessoas.

É triste, mas nossas relações humanas foram manchadas pelo pecado, e somente pela graça de Deus, através da reconciliação de Jesus, é que podemos desfrutar de relacionamentos redimidos, a partir do referencial do sangue de Cristo. É triste, mas boa parte das decepções que colecionamos desde a adolescência, em sua maioria, se dão por pessoas próximas. As traições, quase sempre, vêm de pessoas que nos conhecem e assim usam nossos pontos fracos contra nós.

Minha mãe me ensinou a admirar e me espelhar muito no reverendo Luther King. Ela me falava de sua luta, de seu ativismo social e de seu ministério pastoral piedoso e marcado por muita humanidade. Lembro-me de ir de bicicleta, ainda na adolescência, até a biblioteca municipal de Rio Claro, minha cidade, para ler algumas coisas sobre King. A cada pesquisa, a admiração aumentava. Lembro-me de ouvir um sermão dele em fita K7. Que incrível. Não dominava o inglês, mas gostava de ouvir as ênfases. Queria ser como ele, e assim, King se tornou uma referência pessoal.

O pastor batista Martin Luther King Junior recebeu o Prêmio Nobel em 1964. Dia desses, me deparei com um fragmento de seu pensamento que me fez refletir profundamente e deu o título desse texto. King foi espancado e preso por inúmeras vezes, mas em um dos seus sermões conseguiu de maneira magnífica estabelecer a diferença entre “gostar” e “amar”:

“E dou graças por Ele não ter dito ‘Gostai dos vossos inimigos’, porque há pessoas de quem não consigo gostar. Gostar é uma emoção afetiva e eu não posso gostar de quem me bombardeia a casa. Não posso gostar de quem me quer explorar. Não posso gostar de quem pretende espezinhar-me com injustiças, perseguir os cristãos ou praticar injustiças contra qualquer pessoa. Não posso gostar de quem ameaça matar-me. Mas Jesus nos lembra que amar é mais que gostar. O amor é compreensão, boa vontade ativa e redentora para com todos os homens”.

Amor não é discurso e nem sentimento. Minha mãe e minha professora da igreja me ensinaram de maneira correta, era eu que, na época, não sabia me expressar de maneira correta. Hoje continuo amando a todos, ou seja, até os adversários e inimigos, mas não gosto dos que me traíram, dos que me fizeram mal.

Sigo adiante, e assim não desejo mal a eles, apenas que reconheçam o amor de Deus e se arrependam, da mesma forma, que eu peço que Deus me perdoe se fiz mal a alguém durante a minha jornada. A espiritualidade judaico-cristã nos ensina a pedir perdão até de pecados que não sabemos que cometemos. Davi nos ensina esse conceito quando diz “Absolve-me das que me são ocultas”.

Não gosto de corruptos, de estupradores, de influenciadores digitais que deturpam o conceito de família, de políticos dissimulados, de mentirosos e mascarados, de joio em meio ao trigo, mas sigo amando a todos e orando por eles.

  • Jeferson Rodolfo Cristianini é pastor da Igreja Batista Nova Canaã Sorocaba.

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