Desgraça comum
Por Lucas Pedro
Em minha igreja estamos estudando o livro Coronavírus e Cristo, escrito por John Piper e distribuído gratuitamente pelo Ministério Fiel. Durante o primeiro estudo do livro, um presbítero e grande amigo soltou esta forte afirmação: – Estamos vivendo uma desgraça comum!
Esta frase me intrigou pois, nos últimos anos, tenho falado bastante sobre a “graça comum” e sobre a importância do cristão contemporâneo entender este ensino proposto por Abraham Kuyper. Em sua teoria, ele dividiu a Graça de Deus em duas manifestações: A graça comum e a graça especial, também chamada de salvadora.
A graça especial compreende toda a iniciativa de Deus para salvar os crentes, por meio de seu filho. Já a graça comum, por sua vez, é concedida a toda humanidade. Esta graça é o que permite ao homem desfrutar das bençãos naturais da vida. O Sol, a chuva, o alimento e tudo mais que está ao alcance de crentes e descrentes. Mais do que isso, ela explica porque o ser humano, apesar de corrompido, ainda manifesta amor e solidariedade. Ela explica porque um homem ateu pode empenhar toda sua vida em criar, por exemplo, uma vacina que impede milhões de pessoas de morrer.
Porém, antes que a vacina se torne realidade, nós todos, cristãos, ateus, islamistas, budistas, espíritas e toda uma pluralidade de fiéis e infiéis, vivem hoje o que meu amigo denominou de “desgraça comum”. Uma dura realidade que cai sobre todos, justos e injustos, como uma chuva que não faz acepção de pessoas.
Acredito que assim como a graça comum nos une como espécie, a desgraça comum também o faz com muita expressividade. Apesar de termos crenças e descrenças distintas, essa desgraça nos ensina que somos iguais em nossas origens. Iguais, inclusive, na falta de anticorpos contra este inimigo. Iguais na fragilidade pessoal e social. Iguais apesar das diferenças sociais que tanto nos dividem. Estamos juntos durante a pandemia e estaremos juntos na recessão econômica que já bate à porta.
No livro de Rute, a família de Noemi migra para Moabe, fugindo da fome que assola Israel. Lá, os filhos de Noemi se casam com moabitas. Nesta terra, Noemi começa sua jornada com Rute, sua nora moabita que abandona os deuses de seu povo e confessa adorar o Deus de Noemi. Essa mesma nora que, no final do livro, lhe dá um neto e é considerada uma nora que vale mais do que sete filhos. Uma sogra israelita, com uma nora moabita.
A desgraça comum, assim como a graça comum, tem força para unir pessoas de origens e crenças distintas. A mesma desgraça comum também tem uma força incrível para comunicar a Graça Especial de Deus, pois é no meio da desgraça que as coisas insignificantes e fúteis que tanto valorizamos, perdem seu significado, deixando um vazio que só a Graça de Deus, em Cristo Jesus pode preencher. Que nós, cristãos, saibamos ser sal e luz durante esta desgraça comum.
Conheça a palestra “Na fronteira”, onde usamos a graça comum
para desenvolver conteúdo cristão para os de fora da igreja.
- Lucas Pedro é autor do blog Transformai-vos. Atua na área de Comunicação e Web Design e ministra oficinas em diversas igrejas no Brasil.