Gabriela Prillip

Não é um momento fácil e a gente já cansou de tragédia e tristeza pra saber disso, todo mundo fala isso o tempo todo. Eu já cansei de novo só de escrever aqui. A vida muitas vezes parece injusta e é; parece um sofrimento e caos sem fim e as vezes é mesmo. E vai ser por mais tempo. E digo isso sem medo e sem spoiler nenhum, afinal você pode conferir cada episódio dessa grande narrativa na Bíblia e talvez te faça lembrar que a nossa história não é bem nossa e que fazemos parte de uma narrativa bem maior, que pouco tem a ver com a gente, mas onde somos personagens bem ativos.

Um dia desses foi meu aniversário e alguém me perguntou se eu estava feliz, porque costumo ser a pessoa que fica insuportavelmente alegre nessa data. E não, eu não estava feliz. E fiquei meio feliz com isso.

A gente veio de uma onda em que ser feliz é palavra de ordem seja em algumas igrejas, no trabalho, carreira, planos de vida, enfim, como sociedade, uma cobrança excessiva e sem cabimento de uma felicidade que não é possível alcançar. E nem é possível ser feliz, leve, de bem com a vida e good vibes exalando arco-íris e purpurina por onde passa em todo o tempo.

A única coisa que é o tempo todo é Deus, que sim, é bom o tempo todo; já a gente não tem como sustentar essa felicidade em todo momento, sinto em te dizer também. Byung-Chul Han também sente em dizer, de alguma forma, que essa leveza que não se sustenta por muito tempo só causa uma sociedade cada vez mais cansada e psicologicamente doente. E a gente sabe que é verdade.

Mesmo que seja por só um momento, vamos confessar que entramos nessa pira também. Poxa, como assim não vamos ser felizes? Peraí… ainda mais a gente, cristão, poxa vida né, não rola! Mas, como cristão, a gente também deveria nunca esquecer que há tempo pra tudo e literalmente tudo: tempo de ser feliz, tempo de chorar e lamentar. E acho que a gente se encontra nesse último estágio.

Fiquei feliz de não estar feliz com algo que era significativo pra mim, pois nesse momento do mundo em que a gente se encontra, seria cruel e até meio errado. Ver pessoas sofrendo, morrendo… não tem como ser feliz ou positivo e sempre bom lembrar: fé em Deus não tem nada a ver com positividade. É tempo de lamento, de chorar, de sofrer com quem sofre. Existe espaço pra dor no cristianismo e na nossa fé pra tudo isso, pra cada momento da vida. E Deus segue sendo soberano, compassivo e acolhendo nossa dor e sofrimento em cada parte; Ele segue sofrendo com a gente.

Podemos ver em alguns Salmos: alguém mal, numa bad profunda mesmo, desacreditado da vida e ainda assim com fé e certeza de Deus ser o único refúgio e saída em momentos tão cruéis. Em Jó, mais uma pessoa depressiva, desejando literalmente morrer e nunca ter nascido. E em vários momentos dessa narrativa, pessoas com muito mais dor e sofrimento e vidas trágicas do que alegrias. 

Mas sabemos também que no fim de tudo, mas só no fim mesmo, é só aí que vamos ter o Shalom real oficial; só aí que a vida vai ser plena, que seremos completos e verdadeiramente felizes e que vai ficar tudo realmente bem. Não é agora, não é nessa vida. Nosso verdadeiro e único Messias precisa fazer aquela volta prometida aqui nesse mundo pra isso acontecer. Por enquanto, a gente luta e caminha um pouco mais todos os dias provando o sustento da graça e bondade de Deus e seu Espírito Santo nos guiando e renovando nas que parecem mínimas, mas importantes tarefas do nosso cotidiano.

Então, não se cobre e não espere a felicidade agora, afinal há tempo pra todas as coisas. Se você está bem e com seu emprego, seja o “estar bem” e o emprego de quem está sem nada agora. Se você está bem e psicologicamente com a cabeça no lugar, seja essa cabeça pra quem já não sabe mais o que fazer. Isso dá muito mais significado – se não o verdadeiro – em ser o corpo de Cristo. Não viva essa vida pra você, apenas, mas veja como ser a extensão desse Reino que já está por aqui, mas que ainda vai vir por completo. E não fique bem se não estiver. Você tem espaço pra isso em Cristo que é o único consolo e esperança.

  • Gabriela Prillip, 26 anos. É marketeira, estudante de ciências do consumo, tentando lidar com a vida adulta escrevendo. Congrega no Projeto 242.

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