Teologia do cansaço
Por Daniel Theodoro
Nas prateleiras do mercado da fé, não faltam suplementos para vitaminar crentes anêmicos, cuja alimentação espiritual deficitária está baseada em junk foods da indústria gospel.
A carência nutricional de algumas famintas almas pode encontrar nova energia em discurso de pastores coaching, ministérios de encorajamento pessoal, autodisciplina ecumênica e mantras musicais. Contudo, ainda restará aquele gosto de “quero mais”, afinal ninguém se alimenta para continuar se sentindo vazio.
O banquete encontrado na Palavra de Deus é suficiente. Quem se alimenta da Bíblia diariamente não sentirá fome, uma promessa feita pelo próprio Pão da Vida. Porém, até mesmo quem se nutre da boa fonte pode se sentir esgotado às vezes. Nesse caso, a exaustão não é resultado da anemia espiritual, mas um evento transitório na vida do crente, autorizado pelo Criador, visando crescimento espiritual.
Para melhor compreensão da crise da fadiga da alma durante a caminhada cristã, é preciso recorrer à Teologia do Cansaço. Impopular na atualidade onde muitos crentes preferem esconder a fadiga atrás de filtros das redes sociais e outras maquiagens virtuais, a Teologia do Cansaço é o substrato do evangelho, a essência da verdade. Declara que o verdadeiro cristianismo é a religião do resgate ao cansado, Deus vai até seu povo oferecendo socorro final aos esgotados, feridos e doentes.
Nesse sentido, o labirinto da Bíblia é melhor percorrido pelo leitor se ele for guiado à luz da Teologia do Cansaço e seus heróis. Não são poucos os exemplos de personagens bíblicos cansados resgatados por Deus. Fatigado de longa caminhada, Moisés foi convidado por Deus para subir ao monte Nobe onde pôde contemplar a terra prometida antes de morrer; enfraquecido por tentar combater o período de maior apostasia em Israel, Elias foi consolado e alimentado pelo anjo de Deus; esgotado pelo pecado e por viver numa sociedade pecaminosa, Isaías viu a glória de Deus ao som de serafins; oprimido e cansado por carregar o pecado do seu povo, Jesus rendeu-se à cruz para ser elevado ao céu decretando o início do Sabbath eterno, destino onde a alma aflita pode encontrar descanso absoluto.
É urgente resgatarmos essa doutrina. Ela nos lembra que cansaço espiritual nem sempre é sinal de fraqueza da alma. Pode significar algo além, como amadurecimento na fé ou recolhimento transitório que levará o crente adiante, conscientizando-o de que somos aperfeiçoados na fraqueza mediante a graça do Pai.
- Daniel Theodoro, 33 anos. Cristão em reforma, casado com a Fernanda e pai do Matteo. Formado em Jornalismo e Letras.
One thought on “Teologia do cansaço”