A vida não é um game
Por Lucas Pedro
Faz um bom tempo que ministro a oficina Geração Digital, na qual conduzo uma conversa sobre as mudanças de comportamento das últimas gerações e suas relações com a fé cristã. Falamos especialmente sobre os Millennials, mais conhecidos por Geração Y, e também sobre a Geração Z, chamados apenas de Gen-Z.
Particularmente, possuo um apreço pelos Gen-Z. Percebo que estes jovens, hoje entre os 18 e 24 anos, parecem ter aprendido um pouco com os erros das gerações X e Y. De modo resumido, parece que ficou claro que eles não podem se achar o último biscoito do pacote.
Porém, nos últimos anos, tenho percebido uma ideia, quase endêmica, na mente destes mesmos jovens. A ideia de que a vida pode ser gamificada. O processo de gamificação, também conhecido como ludificação, tem sido implementado em diversas áreas da vida destes jovens. Começa desde cedo, com os próprios games e os desafios divididos em níveis, as conquistas que precisam ser alcançadas, e todo processo de evolução de personagens, competição e premiação que envolve esta mídia.
Porém, o jogo não para por aí. O modelo dos games tem sido implantado no ambiente de estudo e de trabalho destes jovens. Por conta disso, eles parecem começar a achar que a vida toda pode ser gamificada. Nesta dinâmica dos games, cada experiência da vida parece se transformar num checkpoint a ser alcançado, conquistado e ultrapassado.
O problema é que também percebo que a vida real deixa bem evidente toda sua complexidade, sua criatividade para novas contingências. E, muitas vezes a vida real faz isso das piores maneiras possíveis, deixando muitos jovens frustrados e com vontade de abandonar o jogo.
Entrei na faculdade, concluí a faculdade, entrei na pós, concluí a pós, agora vou trabalhar e ganhar bem. Bem, a vida decepciona. A faculdade precisa ser trancada ou a profissão escolhida frustra em sua rotina chata, o(a) novo(a) namorado(a) se revela um(a) mala e as fases que pareciam tão simples no console, se tornam maçantes e repetitivas no solo da vida real.
Mas, antes que alguém me chame de velho chato, devo dizer que relato isso com a mais sincera vontade de que os jovens compreendam a vida, não como um game, mas como uma experiência muito mais profunda, que nunca poderá ser representada por nenhum meio eletrônico ou processo organizacional. Desejo, acima de tudo, que eles aprendam o segredo do Apóstolo Paulo, que ainda estou lutando para vivenciar com meus quarenta e poucos anos. Segredo revelado aos Filipenses:
‘Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece. ‘ (Filipenses 4:12-13).
Este ensino do Apóstolo, muito longe do seu uso atual Gospel-Coach-Positivist, revela a capacidade adquirida por Paulo de buscar forças em Cristo para passar por todos os tipos de fases na vida, sejam muito boas, sejam ordinárias ou mesmo as piores adversidades.
Ele aprendeu a vivenciar cada situação da vida na presença de Deus, entendendo que muitas situações estão fora de seu controle, mas que nenhuma delas escapam das mãos de Deus.
Enfim, jovem, a vida não é um game repleto de quests, checkpoints, níveis de pontuação e passes de batalha. Você não está com o joystick na mão. Você tem, sim, seu espaço de liberdade e responsabilidade dados pelo Soberano, porém, a vida é muito mais complexa em sua interatividade cósmica.
Não, seus amigos e parentes não são players e os atendentes de caixa do mercado não são bots sem coração. No mundo analógico todos são pessoas reais vivendo suas experiências de vida, como você. Ninguém é o personagem principal que vai zerar o jogo no final. Aliás, lembre-se: o personagem principal já zerou tudo na cruz. Renda-se a Ele e o sirva com suas habilidades e talentos.
- Lucas Pedro é autor do blog Transformai-vos. Atua na área de Comunicação e Web Design e ministra oficinas em diversas igrejas no Brasil.