Águas
Por Levi Agreste
Em face da tormenta, minha alma envelhece.
Navega, louca, no vasto azul.
Marcada pelos ventos e vis intempéries,
Segue, serena, em tom de prece.
As águas assaltam a pequena nau.
Negras nuvens tomam o céu.
O Mar entoa seu canto sombrio,
Imperioso prólogo do golpe final.
As ondas afogam a pálida canção
De um louco náutico solitário.
Mas ressoam, ainda, pelos ares violados
As últimas palavras de um gentil refrão:
“…eu, Senhor, no tempo oportuno,
elevo a ti minha oração;
responde-me, por teu grande amor, ó Deus,
com a tua salvação infalível!
Tira-me do atoleiro,
não me deixes afundar;
liberta-me dos que me odeiam
e das águas profundas.
Não permitas que as correntezas me arrastem,nem que as profundezas me engulam…”
(Salmos 69:13-15)
Do fundo se ouve o pranto do Mar.
As ondas encolhem, agacham, retorcem.
Os ventos recuam de intenso pavor
E cedem as nuvem à luz do luar.
O silêncio descende sobre a face da água
E se vê refletido no espelho profundo.
As estrelas vigiam o louco dormente,
Vencido vencedor de batalha árdua.
Levanta-se, enfim, o incansável navegante
E alcança o timão da nau sem leme.
Entoa canto calado ao seu capitão
De louvor expresso em grato semblante.
“As águas te viram, ó Deus,
as águas te viram e se contorceram;
até os abismos estremeceram.
As nuvens despejaram chuvas,ressoou nos céus o trovão;
as tuas flechas reluziam em todas as direções.
No redemoinho, estrondou o teu trovão,os teus relâmpagos iluminaram o mundo;
a terra tremeu e sacudiu-se.
A tua vereda passou pelo mar,o teu caminho pelas águas poderosas,
e ninguém viu as tuas pegadas”
- Levi Agreste, 24 anos, graduado em Letras pela Unicamp, leciona em três escolas da região metropolitana de Campinas, faz parte da coordenação da ONG Soprar e escreve no blog umanovaviagem.