(parte 3)

Por Bárbara Almeida

Foto de criança queniana

Foto de criança queniana

Deixei o Quênia em novembro de 2013… há 5 meses. O tempo que fiquei lá, já é igual ao tempo que estou de volta. E isso me dói. Dói porque o tempo passa rápido. Dói porque sinto saudades.

Sinto saudade de me preocupar apenas que o que é mais básico: se teríamos água. Sinto saudade de quando assistir um filme era um evento realmente especial. Sinto saudade de cumprimentar as mesmas pessoas todos os dias e de, às vezes, ouvir algum desconhecido me cumprimentando pelo meu nome.  Sinto saudade de um amigo me convidar pra subir as montanhas. Sinto saudade dos meus braços fortes de tanto carregar água. Sinto saudade até da mancha de sol que estava na minha perna.

Quando me perguntam se eu vi muita pobreza lá, eu digo que depende do conceito de pobreza. Eu não tinha dó dos quenianos. Eles pareciam muito bem vivendo do jeito deles, com poucos bens materiais e com alimento cultivado em seus próprios terrenos. E isso pra mim é uma riqueza. Ver crianças que ainda brincam de roda é encantador.

De volta, muita coisa do que vivi se perdeu. Como morei 23 anos no Brasil e apenas meio ano na África, muitos hábitos retornaram. Voltei a acordar tarde, voltei a tomar banho quente e a gastar horas na internet. Sinto-me uma preguiçosa.

Porém estou mais grata. Eu consigo ser mais grata pela água corrente, e a confiar que Deus vai providenciar a água mesmo nessa seca. Eu consigo ser grata pela cama quente. Eu agradeço pela comida gostosa. E pela saúde. E não paro de agradecer a Deus pelo tempo que vivi no Quênia (mesmo recebendo ligações insistentes de madrugada dos meus amigos quenianos).

Passei a admirar as pessoas que continuam felizes buscando água diariamente, os voluntários que todo dia tentam melhorar a saúde e educação de quem não tem condições, os missionários que aceitam morar em países com cultura completamente diferente, os cristãos que no dia a dia desafiam a sociedade afirmando que pessoas são mais importantes que coisas.

Aquela foto do menininho africano continua a enfeitar a parede de meu quarto. E sem ter notado, acabei realizando um sonho.

Obrigada, Deus!

 

• Bárbara Craveiro de Almeida tem 24 anos e é formada em serviço social. Mora em Vinhedo, SP, e trabalha na área social, mas eventualmente se aventura na área artística.

 

Leia também
Quase no Quênia (parte 1)
Já no Quênia (parte 2)

Vídeo
Convido vocês a partilharem um pouco desta experiência comigo neste videoclipe: “Take your time – Sly Shy”

  1. Lindo seu texto!!! Parecia que estava visualizando sua vida no Quenia e por um instante pude sentir pena de mim, pq vivo em uma sociedade onde tudo é mais importante menos as pessoas. Que vontade de ir para lá Tb.

  2. Israel Barbosa de Santana

    Quando vimos esse texto dá vontade de vencer nossos confortos e sair da nossa casa e, vencer nosso orgulho e vaidade e, sair mundo a fora para fazer algo por gente carente. Mas, nossas obrigações e compromissos, nos impedem de fazer isso.

  3. Lenice Nunes Vissechi

    A experiência de Bárbara no Quênia foi muito edificante para minha vida! Amo missões, amo missionários e gostaria muito de ser um deles. Oro por eles, pois sei que ser missionário, evangelista, educador é vocação. Que Deus continue abençoando os chamados para ”ir um pouco além”.

  4. Viver uma experiência dessas é maravilhoso. Sou voluntária em projetos no sertão nordestino, ano que vem estarei indo em missão na Bósnia por 15 dias, será minha primeira viagem p/ fora do Brasil e tenho certeza que será impar. Realmente, vamos para ensinar, mas, nós somos os que mais aprendemos com os nativos da região. É muito bom ser voluntário em missão, amar as pessoas e ver o quanto elas nos aceitam do nosso jeito e aprendermos com elas o quanto devemos amar mais e criticar menos os outros. Tenho certeza Bárbara que esta viagem mudou o seu observar as coisas de uma maneira totalmente diferente, pois, não voltamos mais a mesma pessoa, voltamos irreconhecíveis p/ aqueles que nos conhecem. Principalmente quando temos algumas “frescurinhas” tais como “dormir cedo”, “comer no horário”, “dormi no escuro”, “dormi sem barulho”… rsrs

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *