Simonton_150Há 154 anos chegava ao Brasil o jovem pastor e missionário presbiteriano Ashbel Green Simonton. Sua história fala profundamente ao coração do jovem cristão brasileiro, porque mostra o que Deus pode fazer por meio de jovens que se entregam totalmente a ele. Veja alguns números retirados do livro Mochila nas Costas e Diário na Mão, de Elben César:

– Nascido 17 anos antes de 1850 e morto 17 anos depois de 1850, Ashbel Green Simonton viveu na metade exata do século 19.
– Simonton se comprometeu publicamente com o evangelho, abraçou o ideal do ministério e se despertou para as missões aos 22 anos;
– Ele veio para o Brasil como o primeiro missionário presbiteriano aos 26 anos e morreu um mês antes de completar 35;
– Ele tinha o bom hábito de auto-avaliação: escreveu um diário particular dos 19 (pouco depois da sua formatura) aos 33 anos;
– Fundou o primeiro jornal evangélico do Brasil: o Imprensa Evangélica (1854).


Diário de Simonton e sua transformação de caráter

Leia a seguir trechos* do que Ashbel Green Simonton registrou em seu diário: é a partir daí (então com 22 anos) que ele começa a contar de fato “a história fiel do desenvolvimento do seu caráter”:

20 de janeiro de 1855 — Hoje é meu aniversario. Faço 22 anos […] É hora de fazer reflexões morais sobre o meu aniversário. Bem, para ser honesto, devo preocupar-me em chegar aos 22 anos e estar vivendo com tão poucos propósitos.

10 de março de 1855
— Nesses últimos dois meses tem-se manifestado intenso interesse religioso em várias igrejas da cidade. Isso está ocorrendo especialmente nas igrejas metodistas e luteranas, nas quais têm havido constantes reuniões nas últimas duas ou três semanas e grande número de pessoas tem-se confessado pecadoras diante de Deus. Em nossa igreja [presbiteriana] vários se uniram à comunhão nas duas últimas reuniões e nesta semana há reuniões todas as noites. Anteontem convidaram-se os interessados na salvação da própria alma, que quisessem conversar sobre o assunto, a ficar mais tempo, e um bom número ficou. Ontem novamente foi feito o convite e considerei meu dever ficar, juntamente com mais umas vinte pessoas. É um passo importante e, creio, um passo na direção correta. Religião é um assunto importante, infinitamente mais importante que qualquer outro que atraia a nossa atenção. Meu objetivo quando permaneci foi principalmente fazer a declaração pública de minha intenção de colocar-me ao lado do Senhor e abafar o orgulho teimoso que me impedia de fazê-lo. Foi o que fiz e, agora, confiando nas promessas de Deus, orarei para ter forças, prosseguir e cumprir o meu dever. Esperei quieto durante muito tempo para ser convertido. Agora resolvi, na força por Deus prometida, marchar em frente e me esforçar para servi-lo, brilhe ou não, a luz em meu caminho. Vou confessar diante dos homens meu desejo e resolução de abandonar o mundo e procurar participar do sangue expiatório do Salvador.

13 de março de 1855 — Os encontros no salão de culto continuam e outras pessoas têm vindo aumentar o número daqueles que procuram a verdade. Entre esses é grato ver tantos amigos meus e conhecidos que regularmente têm ficado depois do culto para instruções e conversas sobre as verdades da religião. É interessante que entre os trinta que professam seu interesse há somente dois rapazes: J. W. Wilson e eu.

24 de março de 1855 — Não consigo ver mudanças em mim. Não sinto o coração transformado, nem descubro novas verdades. Estou procurando Cristo, mas ainda não consegui achá-lo apesar de sua Palavra declarar que “Ele está bem perto para ajudar”. Ele me parece um “Deus distante” que não tem conhecimento nem se preocupa com minha situação. Isso é uma incredulidade tal, que somente o seu Espírito pode superar. Mas, apesar de eu não conseguir demonstrar nem arrependimento nem fé, ainda estou encorajado a ter esperança de clemência, pois “Jesus é o autor e consumador da fé” e “exaltado para dar arrependimento” aos que o buscam. Minha esperança é que a salvação é inteirinha de graça, nenhuma condição é imposta, tudo é um dom gratuito.

7 de abril de 1855 — Tenho lido ultimamente os Ensaios de [John] Foster. “Essays on Decision of Character” agradou- me mais do que qualquer coisa lida nesses últimos tempos, tanto pelo estilo como pelo assunto. É notável pelo tratamento metódico e claro da matéria e também por exibir um conhecimento preciso da natureza humana e das leis da mente. A primeira e mais proeminente característica de um caráter decidido é a plena confiança na correção de seus próprios juízos.

14 de abril de 1855 — Não tenho aquela aflição mental que muitos experimentam pela consciência do perigo nem fortes sentimentos de remorso por meus pecados, nem emoções profundas de gratidão ao Salvador por suas misericórdias e bondade evidentes no plano da salvação nem a certeza de que ele será o meu Salvador. Mas ainda assim, não sou indiferente, nem estou destituído de um profundo interesse por essas questões. Sei que sou um grande pecador, com justiça exposto à ira de Deus. Sinto que nada posso fazer para salvar-me dessa ira. Renuncio a toda esperança em qualquer nome ou caminho exceto o nome e sangue de Jesus Cristo e, se conheço o meu coração, sou sincero no desejo de devotar-me ao seu serviço […] Uma coisa, porém, posso fazer e tento fazer diariamente no meio de todas essas dúvidas e perplexidades: afastar o olhar de mim mesmo e voltá-lo para as promessas de Deus e a oferta gratuita do evangelho, e pedir em oração o prometido auxílio do Espírito Santo para guiar-me a toda a verdade.

3 de maio de 1855 — Terça-feira à noite, o conselho da Igreja reuniu-se com os que querem tornar-se membros e, depois do exame, foram admitidos 21 candidatos. A reunião foi muito solene, de resultados sérios para melhor ou pior. Cada um foi examinado em separado por alguns minutos. Depois o conselho reuniu-se na sala do senhor Robinson. Eu estava entre os candidatos e creio que justificadamente. É um passo muito solene e importante. Refleti seriamente e orei muito antes de dá-lo. Depois [de muitas dúvidas sobre a autenticidade de minha decisão] e de veementes orações a Deus para que me oriente, decidi não procurar mais obter o conforto ou a evidência clara da minha aceitação por Cristo olhando para minha própria estrutura ou sentimentos, mas colocar minha confiança na palavra simples das Escrituras e me esforçar para cumprir o meu dever com base no auxílio prometi- do do Espírito Santo.

6 de maio de 1855 — Hoje, domingo, com mais 22 pessoas, fiz uma aliança pública com Deus para ser seu no tempo e na eternidade, aliança essa que jamais deverá ser rompida. Cheguei a esse passo através de muitas dúvidas e desalentos, que agora em grande parte desapareceram. Penso que começo a ser e sentir que é meu grande privilégio sentar à mesa e lembrar-me de seu grande amor com o qual ele me amou até aqui. E agora, antes do final desse dia, quero deixar escrito para poder ler e reler o compromisso que hoje voluntariamente assumi com Deus:
1. Professei arrependimento por minha vida passada e me empenhei em renunciar a cada pecado, público ou secreto;
2. Deliberei no temor a Deus cumprir todos os deveres expressos em sua santa Palavra e estudar essa Palavra em oração sincera para que seja guiado ao bom entendimento dela;
3. Renunciei a qualquer outra esperança de segurança e declarei minha confiança na livre e imerecida graça de Deus revelada no evangelho de Jesus Cristo;
4. Assumi os votos feitos por meus pais quanto a mim em minha infância ‘para ser do Senhor’ e fazer de seu serviço o supremo objetivo da vida. Esta é a minha aliança.

 

* Retirado do capítulo 2 do livro Mochila nas Costas e Diário na Mão, de Elben César.

  1. Estou na caminhada há 21 anos. Digo 21 pois pelo que meus pais me contarem que tomei minha decisão por Jesus ao 4 anos… Mais consciente na juventude, aos 18 anos decidi entregar minha vida a Deus para viver para Ele e até me dispus a morrer por Ele… Anos se passaram e aqui estou com 25 anos. Me formei no mês passado e agora lendo este diário eu penso… “Morrer por Ele é muito mais que martírio, é morrer a cada dia pra mim e viver por Ele”. Muito mais importante, pois Ele já morreu por mim, para que eu tivesse vida!… E como eu tenho vivido essa vida? A confiança na Graça de Deus pela redenção de Jesus, através da obra do Espírito Santo… Isso sim me da esperança… Nunca é tarde para viver a nova vida em Cristo… Enquanto há vida, há esperança…

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *