Opinião
- 28 de dezembro de 2016
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Uma lista extraordinária para 2017
Essa coisa de resoluções de Ano Novo é um clichê bem batido, um lugar comum mais que repetido, admito. Mas tem uma coisa que podemos explorar em termos da espiritualidade cristã e desse momento cinza-escuro que estamos vivendo – especialmente no país.
O pesquisador inglês Shaun Usher lançou “Listas extraordinárias”, uma interessante compilação de listas variadas de políticos, músicos, escritores, anônimos, mostrando que a paixão por esse tipo de reunião de itens vai bem além de 1º de janeiro e vem de longe. Para Usher, o homem sempre fez listas, "para ter a certeza de que as coisas estão sendo constantemente organizadas, classificadas, priorizadas e atualizadas", como ele descreve o que resultou do seu trabalho de garimpo histórico. E acrescenta: "A vida sem elas seria caótica: nem uma lista de afazeres, de compras, de desejos, um dicionário, uma lista de favoritos, previsões, uma caderneta de endereços, seria um mundo repleto de coisas confusas, sem propósito, sem identidade coletiva", ele diz. E apresenta ao longo do livro listas de gente como Darwin, Michelangelo, Newton, Curt Kubain e outras celebridades como Mahatma Gandhi, cuja tocante lista tem o singelo título de “Os sete erros que a sociedade comete e que causam toda violência (1947)”: Riqueza sem trabalho, Prazer sem consciência, Conhecimento sem caráter, Comércio sem moralidade, Ciência sem humanidade, Adoração sem sacrifício, Política sem princípios.
Considerando essas coisas todas, tentando passar a limpo esse ano árduo, com o coração contrito e a mente aberta para a voz do Espírito, rabisquei minha lista – espero que haja algo extraordinário nela (pelo menos o fato de ter começado cada item com DES).
1.
DESconfiar da humanidade. As pessoas estão cada vez mais doidas. Estamos endoidecendo mesmo. A ciência e o progresso, o dataísmo (a fé na informática e na Era Digital) NÃO me fará uma pessoa melhor, menos egoísta, por exemplo. Pelo contrário. Muito pelo contrário, para ser franco e levar em conta apenas as Redes Sociais. Gastar mais tempo contemplando o Mistério de Deus me ajudará a encarar a Tragédia do Homem. Eu, de coração, quero gastar mais tempo com a Palavra em vez do Ruído. E quanto ruído em torno e dentro de mim!
2.
DESamprender a religiosidade irrelevante. Isso dará trabalho. Orar não como um dever ritualístico, mas como um prazer relacional, um encontro com o Deus Vivo... O maior aprendizado não é aprender coisas novas, mas esquecer coisas velhas, inúteis, estéreis – e, pior, nocivas. Ler as Escrituras criativamente, sem pressa, uma disciplina perdida para o cristianismo online. Desentoxica mesmo. Vai dar trabalho, mas eu decido encarar essa parada!
3.
DESenferrujar o afeto. A gente vem se embrutecendo emocionalmente mais e mais com essa vida mecanizada, acelerada e idiotizada da (pós) modernidade. Tocamos mais a tela dos nossos smartphones do que o coração das pessoas. Muita distração emburrece a emoção mais profunda. Muita diversão enrijece a musculatura do caráter. Muita dispersão entorpece a lucidez que nossa alma tanto precisa para viver além da mediocridade.
4.
DESocupar a agenda de tudo o que não vale a pena. E dar mais espaço para o que realmente importa: minha esposa, meus filhos, meus amigos, minha comunidade espiritual, meus sonhos, meus prazeres singelos: gastar tempo em livrarias, releituras, parques, bosques, caminhadas e escutas contemplativas dos meus compositores preferidos. O tempo é o maior luxo. Não há maior riqueza do que ócio criativo. Pense nisso – se você tiver tempo.
5.
DESenterrar mágoas não-resolvidas – e exumá-las de vez. A neurose é o substituto para o sofrimento legítimo, disse uma vez Jung. Está mais que provado, não é está? Uma sub-lista dessa minha lista: nome de gente que me machucou ou foi machucada por mim. Pedir e oferecer perdão.
6.
DESembuchar preocupações reais ou imaginárias. Isso tem a ver com quase todos os itens anteriores. Também posso dizer DESanuviar, DESencanar. Nada é tão importante quanto parece. Só Deus. Então por que perder o sono com aquilo que minha insônia não pode mudar? Melhor ter coragem de mudar o que pode ser mudado, como diriam os Franciscanos. E pedir graça, serenidade para aceitar o que não muda. Isso tudo tem a ver com a oração verdadeira, profunda, real. Ou Deus muda as coisas pelas quais oramos ou nos muda, enquanto oramos. Eu creio mesmo nessa verdade espiritual.
7.
DESentupir as artérias. Ou impedir que as mesmas se obstruam. Aliás, já estou muito tempo sentando escrevendo. Melhor dar uma caminhada. Caminhar, inclusive, pode ser um tempo no qual se trabalhe os itens de 1 a 7. Experimente!
O recado foi dado. A mim mesmo. E a quem interessar possa. Um Ano Novo miraculoso e de fato novo para todos nós. De coração.
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Foto: Condesign/Pixabay.com.
O pesquisador inglês Shaun Usher lançou “Listas extraordinárias”, uma interessante compilação de listas variadas de políticos, músicos, escritores, anônimos, mostrando que a paixão por esse tipo de reunião de itens vai bem além de 1º de janeiro e vem de longe. Para Usher, o homem sempre fez listas, "para ter a certeza de que as coisas estão sendo constantemente organizadas, classificadas, priorizadas e atualizadas", como ele descreve o que resultou do seu trabalho de garimpo histórico. E acrescenta: "A vida sem elas seria caótica: nem uma lista de afazeres, de compras, de desejos, um dicionário, uma lista de favoritos, previsões, uma caderneta de endereços, seria um mundo repleto de coisas confusas, sem propósito, sem identidade coletiva", ele diz. E apresenta ao longo do livro listas de gente como Darwin, Michelangelo, Newton, Curt Kubain e outras celebridades como Mahatma Gandhi, cuja tocante lista tem o singelo título de “Os sete erros que a sociedade comete e que causam toda violência (1947)”: Riqueza sem trabalho, Prazer sem consciência, Conhecimento sem caráter, Comércio sem moralidade, Ciência sem humanidade, Adoração sem sacrifício, Política sem princípios.
Considerando essas coisas todas, tentando passar a limpo esse ano árduo, com o coração contrito e a mente aberta para a voz do Espírito, rabisquei minha lista – espero que haja algo extraordinário nela (pelo menos o fato de ter começado cada item com DES).
1.
DESconfiar da humanidade. As pessoas estão cada vez mais doidas. Estamos endoidecendo mesmo. A ciência e o progresso, o dataísmo (a fé na informática e na Era Digital) NÃO me fará uma pessoa melhor, menos egoísta, por exemplo. Pelo contrário. Muito pelo contrário, para ser franco e levar em conta apenas as Redes Sociais. Gastar mais tempo contemplando o Mistério de Deus me ajudará a encarar a Tragédia do Homem. Eu, de coração, quero gastar mais tempo com a Palavra em vez do Ruído. E quanto ruído em torno e dentro de mim!
2.
DESamprender a religiosidade irrelevante. Isso dará trabalho. Orar não como um dever ritualístico, mas como um prazer relacional, um encontro com o Deus Vivo... O maior aprendizado não é aprender coisas novas, mas esquecer coisas velhas, inúteis, estéreis – e, pior, nocivas. Ler as Escrituras criativamente, sem pressa, uma disciplina perdida para o cristianismo online. Desentoxica mesmo. Vai dar trabalho, mas eu decido encarar essa parada!
3.
DESenferrujar o afeto. A gente vem se embrutecendo emocionalmente mais e mais com essa vida mecanizada, acelerada e idiotizada da (pós) modernidade. Tocamos mais a tela dos nossos smartphones do que o coração das pessoas. Muita distração emburrece a emoção mais profunda. Muita diversão enrijece a musculatura do caráter. Muita dispersão entorpece a lucidez que nossa alma tanto precisa para viver além da mediocridade.
4.
DESocupar a agenda de tudo o que não vale a pena. E dar mais espaço para o que realmente importa: minha esposa, meus filhos, meus amigos, minha comunidade espiritual, meus sonhos, meus prazeres singelos: gastar tempo em livrarias, releituras, parques, bosques, caminhadas e escutas contemplativas dos meus compositores preferidos. O tempo é o maior luxo. Não há maior riqueza do que ócio criativo. Pense nisso – se você tiver tempo.
5.
DESenterrar mágoas não-resolvidas – e exumá-las de vez. A neurose é o substituto para o sofrimento legítimo, disse uma vez Jung. Está mais que provado, não é está? Uma sub-lista dessa minha lista: nome de gente que me machucou ou foi machucada por mim. Pedir e oferecer perdão.
6.
DESembuchar preocupações reais ou imaginárias. Isso tem a ver com quase todos os itens anteriores. Também posso dizer DESanuviar, DESencanar. Nada é tão importante quanto parece. Só Deus. Então por que perder o sono com aquilo que minha insônia não pode mudar? Melhor ter coragem de mudar o que pode ser mudado, como diriam os Franciscanos. E pedir graça, serenidade para aceitar o que não muda. Isso tudo tem a ver com a oração verdadeira, profunda, real. Ou Deus muda as coisas pelas quais oramos ou nos muda, enquanto oramos. Eu creio mesmo nessa verdade espiritual.
7.
DESentupir as artérias. Ou impedir que as mesmas se obstruam. Aliás, já estou muito tempo sentando escrevendo. Melhor dar uma caminhada. Caminhar, inclusive, pode ser um tempo no qual se trabalhe os itens de 1 a 7. Experimente!
O recado foi dado. A mim mesmo. E a quem interessar possa. Um Ano Novo miraculoso e de fato novo para todos nós. De coração.
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De Hoje em Diante
Foto: Condesign/Pixabay.com.
Gerson Borges, casado com Rosana Márcia e pai de Bernardo e Pablo, pastoreia a Comunidade de Jesus no ABCD Paulista. É autor de Ser Evangélico sem Deixar de Ser Brasileiro, cantor, compositor e escritor, licenciado em letras e graduando em psicologia.
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