Opinião
- 31 de julho de 2015
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Um presente de Deus para a igreja na América Latina
John Stott deixou uma marca profunda nas comunidades protestantes da América Latina. Temos boas recordações de suas muitas visitas, desde a primeira, em 1974 (México, Peru, Chile e Argentina), até a última, em 2001 (Lima, Peru).
Ele era igualmente estimado entre pentecostais e presbiterianos, entre batistas e metodistas, e entre luteranos e o vasto número de igrejas independentes que constitui o crescente povo protestante dessa região do mundo.
Em 1969 realizamos o Primeiro Congresso Latino-Americano de Evangelização (CLADE) em Bogotá, Colômbia. Durante o congresso, um grupo de evangelistas, pastores, professores de seminário e líderes leigos decidiu fundar uma fraternidade para estimular uma reflexão teológica que fosse tanto evangélica quanto relevante para nosso contexto.
No ano seguinte, foi fundada a Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL). Alguns de seus membros (como René Padilla, Orlando Costas, Peter Savage, Emilio Antonio Núñez e eu) foram preletores no Congresso Lausanne para a Evangelização Mundial, em 1974. John Stott presidia o comitê de redação do Pacto de Lausanne. Nós sabíamos que isso garantiria que as vozes dos países em desenvolvimento seriam ouvidas.
Seu ministério mundial estava fazendo com que ele se tornasse sensível, de um lado, às preocupações de uma nova geração de líderes evangélicos e, de outro, ao paternalismo tradicional do Ocidente. Ao longo das décadas seguintes, Stott demonstrou por meio do Movimento Lausanne um estilo de liderança de servo.
Em suas visitas à América Latina (várias delas coordenadas pela FTL ou pelos movimentos estudantis evangélicos), nós convidávamos intencionalmente pastores e missionários não ligados a esses organismos, pois o seu modelo de exposição bíblica era muito necessário em nossas igrejas. Quando a FTL foi fundada, em 1970, a Declaração de Cochabamba afirmou: “A pregação está muitas vezes vazia de substância bíblica. O púlpito evangélico está em estado de crise. Encontramos entre nós um estado deprimente de ignorância da Bíblia e da aplicação da sua mensagem às necessidades atuais. A mensagem bíblica é indiscutivelmente pertinente aos latino-americanos, mas sua proclamação não ocupa a devida importância entre nós”. Por isso, nós nos comprometemos a mudar tal quadro.
O compromisso de Stott com um evangelicalismo fiel a suas convicções básicas, mas não sectário ou intolerante, representa uma inestimável dádiva à igreja mundial durante a segunda metade do século 20. Sua habilidade de mediar criativamente posições às vezes radicais ou intolerantes exigia uma boa dose de paciência, abertura e autocontrole, bem como um bom domínio das palavras. Essas qualidades ficaram evidentes em suas contribuições ao Movimento Lausanne. A profundidade, qualidade e clareza dos documentos, tais como o Pacto de Lausanne (1974), o Relatório de Willowbank sobre o Evangelho e a Cultura (1978) e o Relatório de Grand Rapids sobre Evangelização e Responsabilidade Social (1982), se devem muito ao seu esforço tanto como relator quanto como redator.
Nós latino-americanos acrescentamos os preconceitos culturais e nacionais de nossa própria formação às divisões herdadas dos missionários europeus ou norte-americanos. Assim, o esforço evangélico está longe de ser um caminho fácil de percorrer. Para aqueles de nós que trabalhamos com Stott em projetos globais, o seu exemplo foi uma grande bênção e inspiração, bem como um modelo que tentamos imitar.
Por meio das conversas era possível perceber o quanto John Stott havia mudado em decorrência de suas viagens internacionais e de seu contato com outras culturas e outros setores da igreja. Ao recordar sobre a redação inicial do Pacto de Lausanne, lembro-me do momento em que ele cunhou a última frase do parágrafo 10: “Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus”.
Quão preciosas, cuidadosas e perceptivas são essas palavras.
Nota: Trechos retirados do ensaio John Stott — presente de Deus para a igreja na América Latina, como parte do livreto John Stott — pastor, leader and friend (Chris Wright et al), publicado pelo Movimento Lausanne, 2012.
• Samuel Escobar, peruano, foi um dos preletores de Lausanne 1974 e um dos fundadores da Fraternidade Teológica Latino-americana. Depois de 26 anos trabalhando com estudantes universitários na América Latina, ele lecionou no Seminário Teológico de Palmer, na Filadélfia, Estados Unidos. Atualmente, aposentado, mora em Valência, Espanha.
Ele era igualmente estimado entre pentecostais e presbiterianos, entre batistas e metodistas, e entre luteranos e o vasto número de igrejas independentes que constitui o crescente povo protestante dessa região do mundo.
Em 1969 realizamos o Primeiro Congresso Latino-Americano de Evangelização (CLADE) em Bogotá, Colômbia. Durante o congresso, um grupo de evangelistas, pastores, professores de seminário e líderes leigos decidiu fundar uma fraternidade para estimular uma reflexão teológica que fosse tanto evangélica quanto relevante para nosso contexto.
No ano seguinte, foi fundada a Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL). Alguns de seus membros (como René Padilla, Orlando Costas, Peter Savage, Emilio Antonio Núñez e eu) foram preletores no Congresso Lausanne para a Evangelização Mundial, em 1974. John Stott presidia o comitê de redação do Pacto de Lausanne. Nós sabíamos que isso garantiria que as vozes dos países em desenvolvimento seriam ouvidas.
Seu ministério mundial estava fazendo com que ele se tornasse sensível, de um lado, às preocupações de uma nova geração de líderes evangélicos e, de outro, ao paternalismo tradicional do Ocidente. Ao longo das décadas seguintes, Stott demonstrou por meio do Movimento Lausanne um estilo de liderança de servo.
Em suas visitas à América Latina (várias delas coordenadas pela FTL ou pelos movimentos estudantis evangélicos), nós convidávamos intencionalmente pastores e missionários não ligados a esses organismos, pois o seu modelo de exposição bíblica era muito necessário em nossas igrejas. Quando a FTL foi fundada, em 1970, a Declaração de Cochabamba afirmou: “A pregação está muitas vezes vazia de substância bíblica. O púlpito evangélico está em estado de crise. Encontramos entre nós um estado deprimente de ignorância da Bíblia e da aplicação da sua mensagem às necessidades atuais. A mensagem bíblica é indiscutivelmente pertinente aos latino-americanos, mas sua proclamação não ocupa a devida importância entre nós”. Por isso, nós nos comprometemos a mudar tal quadro.
O compromisso de Stott com um evangelicalismo fiel a suas convicções básicas, mas não sectário ou intolerante, representa uma inestimável dádiva à igreja mundial durante a segunda metade do século 20. Sua habilidade de mediar criativamente posições às vezes radicais ou intolerantes exigia uma boa dose de paciência, abertura e autocontrole, bem como um bom domínio das palavras. Essas qualidades ficaram evidentes em suas contribuições ao Movimento Lausanne. A profundidade, qualidade e clareza dos documentos, tais como o Pacto de Lausanne (1974), o Relatório de Willowbank sobre o Evangelho e a Cultura (1978) e o Relatório de Grand Rapids sobre Evangelização e Responsabilidade Social (1982), se devem muito ao seu esforço tanto como relator quanto como redator.
Nós latino-americanos acrescentamos os preconceitos culturais e nacionais de nossa própria formação às divisões herdadas dos missionários europeus ou norte-americanos. Assim, o esforço evangélico está longe de ser um caminho fácil de percorrer. Para aqueles de nós que trabalhamos com Stott em projetos globais, o seu exemplo foi uma grande bênção e inspiração, bem como um modelo que tentamos imitar.
Por meio das conversas era possível perceber o quanto John Stott havia mudado em decorrência de suas viagens internacionais e de seu contato com outras culturas e outros setores da igreja. Ao recordar sobre a redação inicial do Pacto de Lausanne, lembro-me do momento em que ele cunhou a última frase do parágrafo 10: “Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus”.
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Nota: Trechos retirados do ensaio John Stott — presente de Deus para a igreja na América Latina, como parte do livreto John Stott — pastor, leader and friend (Chris Wright et al), publicado pelo Movimento Lausanne, 2012.
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