Opinião
- 27 de outubro de 2021
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Ulrico Zuínglio – A reforma suíça
Perfis da Reforma Protestante
Por William Lane
Na lateral do lado externo da Catedral da Água (Wasserkirche) na pequena ilha do rio Limmat, em Zurique, Suíça, fica um monumento com a estátua de um clérigo do século 16. Chama a atenção o fato de ele estar segurando um livro – tudo indica ser uma Bíblia – em sua mão direita, próxima ao centro do peito, encontrando, quase apoiando, no pulso da mão esquerda. Com esta mão, ele segura uma espada apontada ao chão e que parece ajudar manter o seu equilíbrio. Uma cena não muito típica para retratar um reformador do século 16, especialmente aos que não conhecem muito de sua história. Quem foi esse clérigo, por que uma estátua em sua homenagem e qual foi a sua contribuição para a Reforma Protestante do século 16?
Na base da estátua está a inscrição Ulrich Zwingli MCDLXXXIV I IANUAR MDXXXI XI OCTOBER – Ulrico Zuínglio (01/01/1484 – 11/10/1531). Foi importante figura das reformas do século 16 na Suíça, apesar de não ser tão conhecido quanto Martinho Lutero e João Calvino. A estátua já nos dá uma noção do tipo de reformas e contribuição de Zuínglio.
Zuínglio foi ordenado padre em 1506, pastoreou a paróquia de Glaurus até ser transferido para Zurique em 1519. Foi um estudioso e provavelmente o mais humanista dos reformadores. Passou a questionar algumas práticas da igreja, inclusive o jejum, a abstinência, o celibato, a doutrina do purgatório e outros ensinos da igreja. Contudo, para Zuínglio essas reformas eram muito mais motivadas por uma reflexão intelectual em consequência de seu humanismo e nem tanto por uma questão estritamente religiosa e de piedade pessoal, como foi, por exemplo, para Lutero.
A estátua se justifica pela singularidade de sua contribuição de unir as mudanças de caráter eclesiástico com mudanças na sociedade. O historiador Philip Schaff sintetiza a perspectiva da reforma de Zuínglio,
Zuínglio objetivava a reforma de toda a vida religiosa, política e social das pessoas, baseada nas Escrituras e pelo poder dela. Para ele, ser patriota, cidadão responsável e cristão era uma mesma coisa. Ele se posicionou na perspectiva da teocracia do Antigo Testamento. O pregador é um profeta: seu dever é instruir, exortar, consolar, repreender o pecado em todas as camadas da sociedade, e erigir o reino de Deus; sua arma é a Palavra de Deus. O dever do magistrado civil é obedecer ao evangelho, proteger a religião, punir a impiedade.
Quando as tensões políticas e religiosas entre protestantes e católicos se acentuaram, Zuínglio participou ativamente de tentativas de paz. Em 1529, cantões católicos e protestantes chegaram a um tratado de paz em Cappel, Suíça. Apesar de não ter contentado Zuínglio completamente, “o primeiro e mais importante dos 18 Artigos do tratado reconheceu pela primeira vez na Europa o princípio de paridade ou igualdade legal entre as igrejas católico romanas e protestantes”. Na Alemanha algo semelhante só ocorreu 26 anos depois, mesmo assim só foi finalmente estabelecida depois da Guerra dos Trinta Anos e do tratado de Westphalia em 1648.
Essa perspectiva da Reforma foi levada adiante também por Calvino em Genebra. Zuínglio não viveu para ver as transformações sociais, políticas e religiosas na Suíça, mas se entregou integralmente às suas convicções teológicas e compreensão do papel da igreja e do ministro na sociedade. Foi também seu engajamento com a sociedade e as questões políticas que o levou à morte em 1531 em campo de batalha, não só como capelão, mas envolvido pessoalmente nos conflitos armados.
A estátua de Zuínglio com a Bíblia em uma mão e a espada na outra resumem muito claramente a visão de Zuínglio do tipo de reforma que os cantões suíços precisavam implementar.
Leia mais:
» Por que falar de Menno Simons?
» Catarina Zell: Deus recordará seu trabalho, mesmo que o mundo não o note ou o esqueça
Por William Lane
Na lateral do lado externo da Catedral da Água (Wasserkirche) na pequena ilha do rio Limmat, em Zurique, Suíça, fica um monumento com a estátua de um clérigo do século 16. Chama a atenção o fato de ele estar segurando um livro – tudo indica ser uma Bíblia – em sua mão direita, próxima ao centro do peito, encontrando, quase apoiando, no pulso da mão esquerda. Com esta mão, ele segura uma espada apontada ao chão e que parece ajudar manter o seu equilíbrio. Uma cena não muito típica para retratar um reformador do século 16, especialmente aos que não conhecem muito de sua história. Quem foi esse clérigo, por que uma estátua em sua homenagem e qual foi a sua contribuição para a Reforma Protestante do século 16?
Na base da estátua está a inscrição Ulrich Zwingli MCDLXXXIV I IANUAR MDXXXI XI OCTOBER – Ulrico Zuínglio (01/01/1484 – 11/10/1531). Foi importante figura das reformas do século 16 na Suíça, apesar de não ser tão conhecido quanto Martinho Lutero e João Calvino. A estátua já nos dá uma noção do tipo de reformas e contribuição de Zuínglio.
Zuínglio foi ordenado padre em 1506, pastoreou a paróquia de Glaurus até ser transferido para Zurique em 1519. Foi um estudioso e provavelmente o mais humanista dos reformadores. Passou a questionar algumas práticas da igreja, inclusive o jejum, a abstinência, o celibato, a doutrina do purgatório e outros ensinos da igreja. Contudo, para Zuínglio essas reformas eram muito mais motivadas por uma reflexão intelectual em consequência de seu humanismo e nem tanto por uma questão estritamente religiosa e de piedade pessoal, como foi, por exemplo, para Lutero.
A estátua se justifica pela singularidade de sua contribuição de unir as mudanças de caráter eclesiástico com mudanças na sociedade. O historiador Philip Schaff sintetiza a perspectiva da reforma de Zuínglio,
Zuínglio objetivava a reforma de toda a vida religiosa, política e social das pessoas, baseada nas Escrituras e pelo poder dela. Para ele, ser patriota, cidadão responsável e cristão era uma mesma coisa. Ele se posicionou na perspectiva da teocracia do Antigo Testamento. O pregador é um profeta: seu dever é instruir, exortar, consolar, repreender o pecado em todas as camadas da sociedade, e erigir o reino de Deus; sua arma é a Palavra de Deus. O dever do magistrado civil é obedecer ao evangelho, proteger a religião, punir a impiedade.
Quando as tensões políticas e religiosas entre protestantes e católicos se acentuaram, Zuínglio participou ativamente de tentativas de paz. Em 1529, cantões católicos e protestantes chegaram a um tratado de paz em Cappel, Suíça. Apesar de não ter contentado Zuínglio completamente, “o primeiro e mais importante dos 18 Artigos do tratado reconheceu pela primeira vez na Europa o princípio de paridade ou igualdade legal entre as igrejas católico romanas e protestantes”. Na Alemanha algo semelhante só ocorreu 26 anos depois, mesmo assim só foi finalmente estabelecida depois da Guerra dos Trinta Anos e do tratado de Westphalia em 1648.
Essa perspectiva da Reforma foi levada adiante também por Calvino em Genebra. Zuínglio não viveu para ver as transformações sociais, políticas e religiosas na Suíça, mas se entregou integralmente às suas convicções teológicas e compreensão do papel da igreja e do ministro na sociedade. Foi também seu engajamento com a sociedade e as questões políticas que o levou à morte em 1531 em campo de batalha, não só como capelão, mas envolvido pessoalmente nos conflitos armados.
A estátua de Zuínglio com a Bíblia em uma mão e a espada na outra resumem muito claramente a visão de Zuínglio do tipo de reforma que os cantões suíços precisavam implementar.
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Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O propósito bíblico da missão.
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