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Por Escrito

Tragédia? Sim. Derrota? Não!

Por Elsie Gilbert

A história abaixo foi primeiramente contada na edição 2 da Revista Mãos Dadas, e publicada em novembro de 2001. Veja atualização ao final da história.

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O que mais impressiona no seu João é o fato de sua deficiência não chamar atenção. Muitos sabem, contudo esquecem, que ele não tem suas pernas, quase da altura dos joelhos para baixo.

João Pereira Evangelista, 55 anos, é uma dessas pessoas que conseguem transformar uma desgraça em lição de vida, que vivem uma rara combinação entre favor divino e mérito próprio.

Filho de Sebastião Pereira Evangelista, um lavrador da cidade de Nazário, Goiás, João era o candeeiro do carro de bois de três juntas, de propriedade da família, e companheiro inseparável do pai.

Infância interrompida
Aos 9 anos, ele foi acometido de uma gangrena gasosa nas duas pernas, possivelmente consequência de uma trombose, e teve suas pernas amputadas. Seu pai não resistiu a dor de ver o filho incapacitado. O menino ainda se recuperava da cirurgia, quando Sebastião cometeu suicídio, deixando a mãe, Maria Alvina de Jesus, viúva com quatro filhos. “A segunda tragédia”, relata seu João, “doeu mais do que a primeira”.

Novos rumos
Com 11 anos e sem nenhuma educação formal, João foi acolhido por uma amiga de sua mãe, Lindomar dos Santos, evangélica, que se mudava com os pais para Anápolis. A intenção era poder estudar, já que o trabalho braçal deixara de ser uma opção viável para ele.

Logo depois, foi transferido para o Instituto Cristão Evangélico, um orfanato que, com a sua chegada, passava a cuidar de vinte crianças. Ali ele viveu 14 anos. Conheceu o carinho e o respeito de seu Roque e dona Modesta, que na época dirigiam o orfanato, recebeu afeto das demais crianças, estudou, desenvolveu-se, aprendeu sobre Deus.

Continuava a se arrastar para se locomover e, à medida que se tornava um jovem, isso passava a ser uma grande preocupação. Foi quando o casal de missionários Rafael e Bárbara Wilde providenciaram uma prótese para o rapaz, que, com quase 15 anos, voltou de São Paulo andando!



Chegada
Hoje, seu João Evangelista, casado há 29 anos com a dona Olinda, professora aposentada, é pai de Fernando, mecânico de aviação, sogro de Hilza, avô de Karine, 3 anos, e de João Victor, 1 ano. Trabalha como assessor de auditoria junto à Associação Educativa Evangélica de Anápolis, de onde saiu para se aposentar como contador no ano passado. Congrega na Igreja Presbiteriana do Maracanã, da qual é presbítero e tesoureiro. Ele gosta de dizer: “Não faltaram emoções na minha vida”, referindo-se aos reveses vividos e ao dia em que teve de dizer adeus à sua mãe para buscar uma vida melhor em Anápolis. “Mas”, conclui, “sou casado, tenho uma família, fiz um curso profissional, tenho meu emprego, casa própria, dirijo o meu carro e, graças a Deus, sou um homem realizado. Posso todas as coisas naquele que me fortalece (Fp 4.13.).”

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Já se passaram 23 anos desde que publicamos esta história. Quando procurei um amigo, egresso do Instituto Cristão Evangélico, e lhe perguntei sobre o casal, ele me respondeu “Passam muito bem. Os dois já estão com o Senhor”. A dona Olinda faleceu em junho de 2022 e seu esposo dois meses depois. Foram 52 anos de matrimônio e para o seu João, dois meses de viuvez. Foi uma vida vivida na dependência do nosso senhor Jesus Cristo.

Fernando Evangelista, hoje com 51 anos, pai de Karine, agora com 26 anos e Victor, 24 anos, conta que o pai morreu em seus braços e diz, “Olhando para traz, eu posso dizer que o que mais admiro no meu pai é seu exemplo de fé e perseverança em meio a todas as adversidades. Ele é o meu referencial como pai, esposo e servo de Deus. É difícil traduzir tudo o que ele foi em poucas palavras!”

O Instituto Cristão Evangélico, sediado em Anápolis, Goiás, está completando 73 anos. Milhares de crianças já passaram pela instituição, que atende hoje crianças em regime de acolhimento institucional.
  • Elsie Gilbert é jornalista e editora do blog da Rede Mãos Dadas.


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