Opinião
- 22 de novembro de 2021
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Tomando consciência do valor do povo africano na Bíblia
Por Lidice Meyer Pinto Ribeiro
Parece-me estranho termos no Brasil um dia para tomar consciência do valor do povo negro. Desde muito cedo este país recebeu a contribuição viva dos povos africanos, que deixaram nessa terra literalmente seu sangue, suor, lágrimas, mas também sua cultura, religião e seus gens. Na formação da história de Israel e do cristianismo também não foi diferente. Os povos africanos foram parte fundamental dessas histórias.
Poucos se lembram de que o povo de Israel viveu por muito tempo na África, enquanto escravo no Egito. As relações entre o povo do Israel bíblico com os povos da África foram muitas. A África, principalmente na região do Egito, foi tida ora como local de refúgio (Gn 12.10-20; 1Rs 11.40; 2 Rs 25.26; Jr 43.7; Mt 2.13-15) ora como local de provação (Êx 3.7).
O primeiro relato na Bíblia que se refere aos povos africanos é o fato de os filhos de Cam terem ido habitar em região africana (Gn 10.10-20).
Na formação do povo de Israel, os povos africanos são representados por Efraim e Manassés, filhos de José com a egípcia Azenate (Gn 41.45, 50-52). Após o Êxodo, Moisés casou-se uma etíope, o que gerou repulsa em Miriã e Arão (Nm 12). Tudo leva a crer que Miriã se revoltou com este casamento de seu irmão não por sua esposa ser de outra tribo, mas sim pela sua cor de pele. Tanto que Deus colocou um castigo sobre Miriã: lepra. Miriã literalmente sentiu na pele o que era ser desprezada por ter uma cor diferente dos demais.
Mais à frente, temos o relato da visita da rainha de Sabá ao rei Salomão, visita esta que deixaria em Israel não só riquezas da África como uma incrível impressão em seu rei (1Rs 10.1-13).
Em um dos momentos mais marcantes da vida de Jesus, o calvário, quem o ajudou a carregar a cruz foi um africano: Simão, o cirineu (Mt 27.32), pai de Alexandre e Rufo (Mc 15.21).
É também no Novo Testamento que vemos a importância dada por Deus para a evangelização dos povos africanos ao enviar Filipe especialmente ao encontro do eunuco da rainha etíope, Candace (At 8.26-39). A partir deste encontro, toda a Etiópia seria evangelizada ainda no século 1. Uma prova de que Jesus veio para todos os povos e não apenas para os Judeus e que em Cristo não pode mais haver distinções na base da cor da pele, gênero ou classe social. Tanto que um dos profetas e mestres na igreja de Antioquia era Simeão, um negro (At 13.1). Simeão é um dos pastores que impôs as mãos sobre Paulo e Barnabé enviando-os como missionários ao mundo conhecido (At 13.3). E Paulo ainda citou a mãe de Rufo que era uma “mãe espiritual” para ele (Rm 16.13). Provavelmente referiu-se a Rufo, filho de Simão Cirineu, que levou a cruz de Cristo e que muito provavelmente tornou-se pastor em Antioquia.
Nestas poucas citações bíblicas podemos tomar consciência do valor e do papel de destaque dos povos africanos participando da formação do povo de Israel e estando presentes no Êxodo, no estabelecimento do povo em Canaã, no período dos Reis, na crucificação de Jesus, no início da evangelização e finalmente na formação da Igreja Cristã.
Leia mais:
O caminho da não discriminação
Consciência (teológica) negra
Cristianismo: entre racismo e reparação
Parece-me estranho termos no Brasil um dia para tomar consciência do valor do povo negro. Desde muito cedo este país recebeu a contribuição viva dos povos africanos, que deixaram nessa terra literalmente seu sangue, suor, lágrimas, mas também sua cultura, religião e seus gens. Na formação da história de Israel e do cristianismo também não foi diferente. Os povos africanos foram parte fundamental dessas histórias.
Poucos se lembram de que o povo de Israel viveu por muito tempo na África, enquanto escravo no Egito. As relações entre o povo do Israel bíblico com os povos da África foram muitas. A África, principalmente na região do Egito, foi tida ora como local de refúgio (Gn 12.10-20; 1Rs 11.40; 2 Rs 25.26; Jr 43.7; Mt 2.13-15) ora como local de provação (Êx 3.7).
O primeiro relato na Bíblia que se refere aos povos africanos é o fato de os filhos de Cam terem ido habitar em região africana (Gn 10.10-20).
Na formação do povo de Israel, os povos africanos são representados por Efraim e Manassés, filhos de José com a egípcia Azenate (Gn 41.45, 50-52). Após o Êxodo, Moisés casou-se uma etíope, o que gerou repulsa em Miriã e Arão (Nm 12). Tudo leva a crer que Miriã se revoltou com este casamento de seu irmão não por sua esposa ser de outra tribo, mas sim pela sua cor de pele. Tanto que Deus colocou um castigo sobre Miriã: lepra. Miriã literalmente sentiu na pele o que era ser desprezada por ter uma cor diferente dos demais.
Mais à frente, temos o relato da visita da rainha de Sabá ao rei Salomão, visita esta que deixaria em Israel não só riquezas da África como uma incrível impressão em seu rei (1Rs 10.1-13).
Em um dos momentos mais marcantes da vida de Jesus, o calvário, quem o ajudou a carregar a cruz foi um africano: Simão, o cirineu (Mt 27.32), pai de Alexandre e Rufo (Mc 15.21).
É também no Novo Testamento que vemos a importância dada por Deus para a evangelização dos povos africanos ao enviar Filipe especialmente ao encontro do eunuco da rainha etíope, Candace (At 8.26-39). A partir deste encontro, toda a Etiópia seria evangelizada ainda no século 1. Uma prova de que Jesus veio para todos os povos e não apenas para os Judeus e que em Cristo não pode mais haver distinções na base da cor da pele, gênero ou classe social. Tanto que um dos profetas e mestres na igreja de Antioquia era Simeão, um negro (At 13.1). Simeão é um dos pastores que impôs as mãos sobre Paulo e Barnabé enviando-os como missionários ao mundo conhecido (At 13.3). E Paulo ainda citou a mãe de Rufo que era uma “mãe espiritual” para ele (Rm 16.13). Provavelmente referiu-se a Rufo, filho de Simão Cirineu, que levou a cruz de Cristo e que muito provavelmente tornou-se pastor em Antioquia.
Nestas poucas citações bíblicas podemos tomar consciência do valor e do papel de destaque dos povos africanos participando da formação do povo de Israel e estando presentes no Êxodo, no estabelecimento do povo em Canaã, no período dos Reis, na crucificação de Jesus, no início da evangelização e finalmente na formação da Igreja Cristã.
Leia mais:
O caminho da não discriminação
Consciência (teológica) negra
Cristianismo: entre racismo e reparação
Lidice Meyer P. Ribeiro é doutora em Antropologia e professora na Universidade Lusófona, Portugal.
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