Opinião
- 11 de março de 2024
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Todo tipo de amor vale a pena?
Por Erní Walter Seibert
A palavra “amor” tem sido usada em tantos sentidos que facilmente provoca confusão. Amar é confundido com amizade, sexo, adultério, entre outros sentidos. E amor é uma boa palavra para entender os desafios da tradução bíblica e para compreender o cuidado que precisamos ter com a interpretação do texto bíblico e de atraentes discursos em geral.
É muito comum encontrarmos, em livros e em pregações, a informação de que “amor” é um resumo de todo ensinamento de Jesus. O centro da fé cristã seria o amor. Sem dúvida, há muita verdade nisso. Vejamos alguns versículos bíblicos que apontam nesse sentido. Em 1 João 4.16 diz: “E nós mesmos conhecemos o amor que Deus tem por nós e cremos nesse amor. Deus é amor. Aquele que vive no amor vive unido com Deus, e Deus vive unido com ele.” Em Mateus 22.37-39, aprendemos de Jesus que o resumo de toda a lei é o amor: “‘Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente’. Este é o maior mandamento e o mais importante. E o segundo mais importante é parecido com o primeiro: ‘Ame os outros como você ama a você mesmo’”. No evangelho de João, capítulo 13, versículos 34-35, também temos uma palavra de Jesus que confirma o que vimos até agora: “Eu lhes dou este novo mandamento: amem uns aos outros. Assim como eu os amei, amem também uns aos outros. Se tiverem amor uns pelos outros, todos saberão que vocês são meus discípulos”.
Quando lemos e ouvimos estes bonitos textos bíblicos sobre o amor, significa que todo tipo de amor vale a pena? É evidente que não. Quando estudamos a língua grega, aprendemos que esta língua tinha três palavras diferentes para o que, em português, chamamos de amor. Amor podia ser eros, filia ou agape. Amor eros era o desejo sexual. Amor filia se referia à amizade entre duas pessoas. O amor agape era uma espécie de amor espiritual. Isso já nos mostra que, quando falamos em amor, é preciso saber do que estamos falando.
Podemos observar um pouco mais o conceito de amizade. Embora ter amigos seja um valor reconhecido em nossa sociedade, a amizade muitas vezes é confundida com outros tipos de amor. Se dois homens ou duas mulheres, de idades mais ou menos semelhantes, saem juntos para irem ao cinema, não são poucos os que pensarão que ali está acontecendo um tipo de relação que não é a de simples amigos. Da mesma forma, quando duas crianças, digamos entre quatro e seis anos, menino e menina, brincam juntos, não são poucos os adultos que dizem que são namoradinhos. Ao contrário, são poucos os que dizem que as crianças são boas amigas. Bastam esses exemplos para ver que na sociedade em que vivemos, falar apenas de amor pode não trazer a mensagem que queremos passar.
Nas traduções contemporâneas da Bíblia, vemos que os tradutores tratam desse tema escolhendo um sinônimo mais claro do tipo de amor que se está mencionando ou então descrevendo com uma expressão o sentido do texto original. Isso ajuda a melhorar a compreensão do texto bíblico. Mas a tarefa com o texto bíblico não termina por aí. O texto bíblico deve ser ensinado. Aí entra um novo desafio para pastores, professores, dirigentes de estudos bíblicos e todos os que, de uma forma ou outra, estão envolvidos na importante tarefa do ensino.
Somos agradecidos por termos, hoje em dia, inúmeras ferramentas que podem nos ajudar no entendimento do sentido da Bíblia. Além dos comentários bíblicos, temos muitas Bíblias de Estudo que dão importante contribuição para que o texto bíblico possa ser compreendido de maneira semelhante à intenção original do autor sagrado.
O trabalho de tradução e interpretação do texto bíblico não é fácil. A dificuldade, no entanto, não está restrita ao texto bíblico. A comunicação humana não é fácil. Advogados e juristas estão sempre diante do desafio de tentar interpretar de maneira adequada os textos legais. Médicos e profissionais da saúde nem sempre concordam com a interpretação dos resultados dos exames laboratoriais. Da mesma forma, entender o texto bíblico tem seus desafios. O que aprendemos na Bíblia Sagrada é que podemos contar com a assistência do Espírito Santo para nos ajudar a entender o texto bíblico. Humildade, sinceridade de coração e dedicação são bons pressupostos. Conforme a figura que usamos no início desse artigo, Deus não nos deixará perdidos entre vários amores O amor de Deus, que excede o humano entendimento, guardará nossos corações e mentes em Cristo Jesus.
- Erní Walter Seibert, diretor executivo da Sociedade Bíblica do Brasil e vice-presidente das Sociedades Bíblicas Unidas
REVISTA ULTIMATO | GRATIDÃO – “O QUE VOCÊ TEM QUE NÃO TENHA RECEBIDO?”
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Saiba mais:
» Para Entender a Bíblia, John Stott
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