Opinião
- 14 de fevereiro de 2017
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Terra prometida, terra conquistada
Por Eber Cesar
De Ur dos Caldeus para Harã
O conflito pela posse de Canaã, também chamada Palestina, Terra Prometida e Terra Santa, remonta à época de Abrão, o patriarca de Israel. Deus lhe apareceu, em Ur dos Caldeus (hoje Kuwait), e lhe disse: “Sai da tua terra […] e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei […]. Em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Abraão empreendeu uma longa peregrinação até Harã e, depois, até Siquém, já em Canaã. Ali o Senhor lhe disse: "Darei à tua descendência esta terra […]” (Gn 12.1-7; At 7.2-3). Estas promessas que Deus fez a Abraão (descendência, bênção e terra) foram reafirmadas ao próprio Abraão (Gn 13.14-18; 15.5,7,18; 17.1-8), a Isaque, seu filho (Gn 26.3-4), e a Jacó, seu neto (Gn 28.13-14; 35.11-12; 46.3-4). Juntas, constituem a aliança de Deus como o seu povo Israel.
Abrão peregrinou por quase toda a Canaã. Passou uns tempos no Egito e, por fim, fixou-se em Hebrom (Gn 20.1; 21.31-34; 22.19). Isaque, filho de Abraão, e Jacó, um dos filhos de Isaque, também peregrinaram pela terra de Canaã, conscientes e crendo na promessa de Deus de dar-lhes aquela terra (Gn 21-25). Já adulto, Jacó passou vinte anos em Harã, e voltou para Canaã. Seus doze filhos homens deram origem às doze tribos de Israel.
Israel no Egito
José, filho de Jacó com Raquel, sua mulher mais amada, era o favorito do pai. Até porque era melhor caráter que os irmãos. Estes, enciumados, venderam-no como escravo a uma caravana de mercadores, que o levaram para o Egito. José estava com 17 anos. Passados treze anos e muitas provações, José foi feito Governador do Egito. Administrou magistralmente os celeiros do Egito, armazenando trigo e outros alimentos durante sete anos de fartura e vendendo-os durante os seguintes sete anos de seca (Gn 41.34-44).
A estiagem foi geral. Houve fome em Canaã, razão porque os irmãos de José foram ao Egito comprar mantimentos. José os recebeu e lhes vendeu o que foram buscar. Mas os irmãos não o reconheceram. Somente num outro encontro José lhes disse: “Eu sou José […]”. Então, com autorização do Faraó, José mandou vir de Canaã o velho Jacó e toda a sua família, setenta pessoas. Foi assim que os hebreus se estabeleceram no Egito (Gn 37 a 50).
Moisés e o Êxodo
No Egito, os descendentes de Jacó, chamados hebreus e Israel, “aumentaram muito e se multiplicaram, e grandemente se fortaleceram […]” (Êx 1.5,7). No começo, foram bem tratados (Gn 47.5-6,11). “Entrementes, se levantou novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José” (Êx 1.8; At 7.18). Mais provavelmente este rei foi Amosis I, que inaugurou o Reino Novo (1.500 a.C.). Esse governante preocupou-se muito com a multiplicação e fortalecimento dos hebreus no Egito, razão porque, com extrema crueldade, tentou impedir seu crescimento e os submeteu a uma dura servidão. Deus tinha antecipado a Abrão que isto aconteceria (Gn 15.13).
Mais para o fim daqueles quatrocentos anos, Moisés nasceu (Êx 2.1-9; Atos 7.19-30). Aos quarenta anos, ele viu um egípcio maltratando um hebreu e o matou. Teve, então, que fugir para Midiã, nas proximidades do Sinai. Passados outros quarenta anos, Deus lhe falou numa visão e ordenou-lhe que voltasse ao Egito para libertar os hebreus e levá-los de volta à terra prometida (Êx 2-4). A promessa estava de pé… Canaã seria de Israel!
Entretanto, foi preciso Deus desencadear dez pragas sobre o Egito para que o Faraó Ramessés II deixasse os hebreus partirem. Simultaneamente com a última praga, a morte dos primogênitos egípcios, Deus instituiu a Páscoa, festa que até hoje celebra a libertação dos hebreus da escravidão no Egito (Êx 5-12).
Israel a caminho de Canaã
Sob a liderança de Moisés, deixaram o Egito mais de dois milhões de hebreus. Havia uma estrada que ligava o Egito a Canaã. Passava pela terra dos Filisteus, ao sul de Canaã (hoje faixa de Gaza). Por este caminho, Israel chegaria a Canaã em cerca de um mês. Entretanto, “Deus não os levou pelo caminho da terra dos filisteus, posto que mais perto, pois disse: Para que porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e tornem ao Egito. Porém, Deus fez o povo rodear pelo caminho do deserto perto do Mar Vermelho” (Êx 13.17-18).
Mesmo pelo “caminho do deserto”, Israel poderia ter chegado a Canaã em dois anos. Contudo, suas jornadas do Egito a Canaã levaram quarenta anos! Tal aconteceu porque, agravando-se a murmuração do povo, Deus os fez perambular pelo deserto por mais trinta e oito anos, até morrerem todos os que saíram do Egito com Moisés, exceto Josué e Calebe, que não murmuraram. As jornadas e acampamentos de Israel no deserto, suas murmurações e as extraordinárias provisões de Deus estão narradas no livro do Êxodo e resumidas em Números 33.
A conquista de Canaã e sua partilha
Calcula-se que Israel levou sete anos para conquistar Canaã. Moisés comandou a conquista das terras a leste do Jordão, e Josué os reinos do lado ocidental do Jordão. Algumas cidades e áreas somente seriam tomadas posteriormente por alguns heróis nacionais.
Em seguida à conquista das terras a leste do Jordão, Moisés as deu por herança às tribos de Rubem, Gade e a meia tribo de Manassés. Josué, por sua vez, repartiu com as restantes nove tribos e meia os reinos conquistados do lado ocidental do Jordão (Js 13.7-8). A tribo de Levi, separada para o sacerdócio, não recebeu território, mas somente cidades (Js 13.7-8; 14.1-5; Js 21 e I Cr 6.54-81. Calebe e o próprio Josué receberam cada um uma cidade.
Antes de morrer, Josué reuniu todo o Israel e fez um discurso de despedida. Concluiu com este desafio: “Temei ao Senhor, e servi-o com integridade e com fidelidade […]. Porém, se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais […]. Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.1-28). A bênção de Deus e a posse de Canaã dependeriam da fidelidade do povo a Javé, o Deus vivo e verdadeiro.
Vale observar que, no Novo Testamento, Canaã é referida como Terra de Israel (Mt 2.20-21), Terra dos Judeus (At 10.39) e Terra da Promissão (Hb 11.9).
Nota: A versão ampliada do artigo pode ser lida no livro História e geografia bíblica, no blog eberlenzcesar.blog.br.
• Éber Lenz César é pastor da Igreja Presbiteriana Libertas, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ.
Leia mais
De quem é a Terra Santa? [Colin Chapman]
Terra Prometida? Para quem? [Timóteo Carriker]
A promessa de terra para Israel no Novo Testamento [Timóteo Carriker]
Terra Santa, povo nem tanto
Imagem: James Ballard/Unsplash.com.
De Ur dos Caldeus para Harã
O conflito pela posse de Canaã, também chamada Palestina, Terra Prometida e Terra Santa, remonta à época de Abrão, o patriarca de Israel. Deus lhe apareceu, em Ur dos Caldeus (hoje Kuwait), e lhe disse: “Sai da tua terra […] e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei […]. Em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Abraão empreendeu uma longa peregrinação até Harã e, depois, até Siquém, já em Canaã. Ali o Senhor lhe disse: "Darei à tua descendência esta terra […]” (Gn 12.1-7; At 7.2-3). Estas promessas que Deus fez a Abraão (descendência, bênção e terra) foram reafirmadas ao próprio Abraão (Gn 13.14-18; 15.5,7,18; 17.1-8), a Isaque, seu filho (Gn 26.3-4), e a Jacó, seu neto (Gn 28.13-14; 35.11-12; 46.3-4). Juntas, constituem a aliança de Deus como o seu povo Israel.
Abrão peregrinou por quase toda a Canaã. Passou uns tempos no Egito e, por fim, fixou-se em Hebrom (Gn 20.1; 21.31-34; 22.19). Isaque, filho de Abraão, e Jacó, um dos filhos de Isaque, também peregrinaram pela terra de Canaã, conscientes e crendo na promessa de Deus de dar-lhes aquela terra (Gn 21-25). Já adulto, Jacó passou vinte anos em Harã, e voltou para Canaã. Seus doze filhos homens deram origem às doze tribos de Israel.
Israel no Egito
José, filho de Jacó com Raquel, sua mulher mais amada, era o favorito do pai. Até porque era melhor caráter que os irmãos. Estes, enciumados, venderam-no como escravo a uma caravana de mercadores, que o levaram para o Egito. José estava com 17 anos. Passados treze anos e muitas provações, José foi feito Governador do Egito. Administrou magistralmente os celeiros do Egito, armazenando trigo e outros alimentos durante sete anos de fartura e vendendo-os durante os seguintes sete anos de seca (Gn 41.34-44).
A estiagem foi geral. Houve fome em Canaã, razão porque os irmãos de José foram ao Egito comprar mantimentos. José os recebeu e lhes vendeu o que foram buscar. Mas os irmãos não o reconheceram. Somente num outro encontro José lhes disse: “Eu sou José […]”. Então, com autorização do Faraó, José mandou vir de Canaã o velho Jacó e toda a sua família, setenta pessoas. Foi assim que os hebreus se estabeleceram no Egito (Gn 37 a 50).
Moisés e o Êxodo
No Egito, os descendentes de Jacó, chamados hebreus e Israel, “aumentaram muito e se multiplicaram, e grandemente se fortaleceram […]” (Êx 1.5,7). No começo, foram bem tratados (Gn 47.5-6,11). “Entrementes, se levantou novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José” (Êx 1.8; At 7.18). Mais provavelmente este rei foi Amosis I, que inaugurou o Reino Novo (1.500 a.C.). Esse governante preocupou-se muito com a multiplicação e fortalecimento dos hebreus no Egito, razão porque, com extrema crueldade, tentou impedir seu crescimento e os submeteu a uma dura servidão. Deus tinha antecipado a Abrão que isto aconteceria (Gn 15.13).
Mais para o fim daqueles quatrocentos anos, Moisés nasceu (Êx 2.1-9; Atos 7.19-30). Aos quarenta anos, ele viu um egípcio maltratando um hebreu e o matou. Teve, então, que fugir para Midiã, nas proximidades do Sinai. Passados outros quarenta anos, Deus lhe falou numa visão e ordenou-lhe que voltasse ao Egito para libertar os hebreus e levá-los de volta à terra prometida (Êx 2-4). A promessa estava de pé… Canaã seria de Israel!
Entretanto, foi preciso Deus desencadear dez pragas sobre o Egito para que o Faraó Ramessés II deixasse os hebreus partirem. Simultaneamente com a última praga, a morte dos primogênitos egípcios, Deus instituiu a Páscoa, festa que até hoje celebra a libertação dos hebreus da escravidão no Egito (Êx 5-12).
Israel a caminho de Canaã
Sob a liderança de Moisés, deixaram o Egito mais de dois milhões de hebreus. Havia uma estrada que ligava o Egito a Canaã. Passava pela terra dos Filisteus, ao sul de Canaã (hoje faixa de Gaza). Por este caminho, Israel chegaria a Canaã em cerca de um mês. Entretanto, “Deus não os levou pelo caminho da terra dos filisteus, posto que mais perto, pois disse: Para que porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e tornem ao Egito. Porém, Deus fez o povo rodear pelo caminho do deserto perto do Mar Vermelho” (Êx 13.17-18).
Mesmo pelo “caminho do deserto”, Israel poderia ter chegado a Canaã em dois anos. Contudo, suas jornadas do Egito a Canaã levaram quarenta anos! Tal aconteceu porque, agravando-se a murmuração do povo, Deus os fez perambular pelo deserto por mais trinta e oito anos, até morrerem todos os que saíram do Egito com Moisés, exceto Josué e Calebe, que não murmuraram. As jornadas e acampamentos de Israel no deserto, suas murmurações e as extraordinárias provisões de Deus estão narradas no livro do Êxodo e resumidas em Números 33.
A conquista de Canaã e sua partilha
Calcula-se que Israel levou sete anos para conquistar Canaã. Moisés comandou a conquista das terras a leste do Jordão, e Josué os reinos do lado ocidental do Jordão. Algumas cidades e áreas somente seriam tomadas posteriormente por alguns heróis nacionais.
Em seguida à conquista das terras a leste do Jordão, Moisés as deu por herança às tribos de Rubem, Gade e a meia tribo de Manassés. Josué, por sua vez, repartiu com as restantes nove tribos e meia os reinos conquistados do lado ocidental do Jordão (Js 13.7-8). A tribo de Levi, separada para o sacerdócio, não recebeu território, mas somente cidades (Js 13.7-8; 14.1-5; Js 21 e I Cr 6.54-81. Calebe e o próprio Josué receberam cada um uma cidade.
Antes de morrer, Josué reuniu todo o Israel e fez um discurso de despedida. Concluiu com este desafio: “Temei ao Senhor, e servi-o com integridade e com fidelidade […]. Porém, se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais […]. Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.1-28). A bênção de Deus e a posse de Canaã dependeriam da fidelidade do povo a Javé, o Deus vivo e verdadeiro.
Vale observar que, no Novo Testamento, Canaã é referida como Terra de Israel (Mt 2.20-21), Terra dos Judeus (At 10.39) e Terra da Promissão (Hb 11.9).
Nota: A versão ampliada do artigo pode ser lida no livro História e geografia bíblica, no blog eberlenzcesar.blog.br.
• Éber Lenz César é pastor da Igreja Presbiteriana Libertas, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ.
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Terra Santa, povo nem tanto
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