Opinião
- 02 de setembro de 2013
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Teologia politicamente correta
Apesar da visita do Papa Francisco ao Brasil já não ocupar as manchetes da mídia, gostaria de expressar minhas impressões, como jovem atenta a outros jovens, sobre a breve passagem do pontífice aqui pelo nosso país por ocasião da Jornada Mundial da Juventude.
Primeiro ressalto as boas impressões (que são as predominantes): o papa se mostrou humilde, como todo mundo conferiu pelas suas falas e atitudes. Certamente essa qualidade também se prova no seu convívio cotidiano no Vaticano, como a mídia mostra ocasionalmente. Evidenciou-se tanto nas suas famosas “quebras de protocolo”, nas tantas vezes em que ele foi até o povo e fez contato através da janela aberta do seu “papa-móvel”, quanto na sua postura ao dirigir-se aos “peregrinos”. Talvez ainda seja cedo para dizer, mas se esse não é o mais acessível de todos os papas da história, pelo menos é, sem dúvida, um deles.
A sua humildade se destaca ainda mais, se considerarmos que ele veio visitar o Brasil, como primeiro compromisso internacional, ao invés da Argentina, sua terra natal.
O papa também foi contextualizado, quando se dirigiu a nós em nossa própria língua e falando de acordo com o nosso linguajar e a nossa cultura (quando ele falava em “pôr água no feijão” e coisas do tipo). Isso já me leva a falar de outra qualidade excepcional: ele também foi bem-humorado, exibindo a alegria que temos em Cristo, como todas as letras e em todas as cores.
Isso, sem falar de sua paciência, de ficar preso no trânsito sem reclamar e ver o sofrimento dos seus peregrinos com a logística precária do evento e tudo isso, ainda elogiando os organizadores. Todos os eventuais erros nesse sentido foram por ele perdoados e atribuídos ao pouco tempo que se teve para fazer tudo acontecer. Ele chegou até a elogiar a organização da Jornada.
Mas o que me impressionou mais, talvez pela consciência da gravidade da ameaça que pairava em torno o evento, foi a sua coragem de não cancelar a viagem, mesmo sabendo das manifestações e badernas que estavam acontecendo no Brasil. Aliás, seu comportamento livre de preocupação deve ter levado muitos seguranças hipertensos a ficarem à beira de um AVC. Só com muita oração e fé para tudo ter dado (mais ou menos) certo.
Eu poderia falar aqui, com o pouco conhecimento que tenho do pontífice, sobre várias de suas qualidades (que também podemos chamar de cristãs, embora não sejam exclusividade dos cristãos), como o seu amor e devoção à pessoa de Cristo, por exemplo, o que é fundamental; ou a atualidade e equilíbrio do seu discurso sobre tantos assuntos da atualidade como o homossexualismo e os escândalos de pedofilia na igreja (Esse papa é que é “pope”!)
Mas vou ousar falar também do que senti falta, pelo menos ao longo dessa visita. Nas palestras que tenho dado Brasil a fora sobre C. S. Lewis e outros autores e sobre temas teológicos, geralmente para gente jovem, só posso constatar a fome e a sede que os jovens de hoje têm do cristianismo puro e simples. Está certo que muitos deles não sabem muito bem o que seja a teologia e para que ela serve, mas com certeza esse papa deve saber. Então, para mim faltou um pouco disso: cristianismo sólido para uma geração que está desesperada e sem rumo (ético, moral, mas também teológico) em uma sociedade cheia de relativismos, violência, falta de sentido e esperança no futuro. Faltou um pouco mais de Bíblia, de doutrina (por mais famigeradas que essas palavras sejam hoje), e quem sabe um pouco menos do discurso “politicamente correto”.
Talvez essa não seja mesmo a ênfase do papa. No entanto, é a carência que eu vejo, e não apenas entre os jovens da nossa sociedade; tenho atendido a leitores e ouvintes dos oito aos oitenta anos de idade. E nós, líderes evangélicos, protestantes, será que estamos atentos a esse clamor?
Leia mais
O papa argentino e os evangélicos brasileiros (Paul Freston)
A renúncia de Bento 16 (Alderi Souza de Matos)
Padres sem castidade (revista Ultimato 277)
Primeiro ressalto as boas impressões (que são as predominantes): o papa se mostrou humilde, como todo mundo conferiu pelas suas falas e atitudes. Certamente essa qualidade também se prova no seu convívio cotidiano no Vaticano, como a mídia mostra ocasionalmente. Evidenciou-se tanto nas suas famosas “quebras de protocolo”, nas tantas vezes em que ele foi até o povo e fez contato através da janela aberta do seu “papa-móvel”, quanto na sua postura ao dirigir-se aos “peregrinos”. Talvez ainda seja cedo para dizer, mas se esse não é o mais acessível de todos os papas da história, pelo menos é, sem dúvida, um deles.
A sua humildade se destaca ainda mais, se considerarmos que ele veio visitar o Brasil, como primeiro compromisso internacional, ao invés da Argentina, sua terra natal.
O papa também foi contextualizado, quando se dirigiu a nós em nossa própria língua e falando de acordo com o nosso linguajar e a nossa cultura (quando ele falava em “pôr água no feijão” e coisas do tipo). Isso já me leva a falar de outra qualidade excepcional: ele também foi bem-humorado, exibindo a alegria que temos em Cristo, como todas as letras e em todas as cores.
Isso, sem falar de sua paciência, de ficar preso no trânsito sem reclamar e ver o sofrimento dos seus peregrinos com a logística precária do evento e tudo isso, ainda elogiando os organizadores. Todos os eventuais erros nesse sentido foram por ele perdoados e atribuídos ao pouco tempo que se teve para fazer tudo acontecer. Ele chegou até a elogiar a organização da Jornada.
Mas o que me impressionou mais, talvez pela consciência da gravidade da ameaça que pairava em torno o evento, foi a sua coragem de não cancelar a viagem, mesmo sabendo das manifestações e badernas que estavam acontecendo no Brasil. Aliás, seu comportamento livre de preocupação deve ter levado muitos seguranças hipertensos a ficarem à beira de um AVC. Só com muita oração e fé para tudo ter dado (mais ou menos) certo.
Eu poderia falar aqui, com o pouco conhecimento que tenho do pontífice, sobre várias de suas qualidades (que também podemos chamar de cristãs, embora não sejam exclusividade dos cristãos), como o seu amor e devoção à pessoa de Cristo, por exemplo, o que é fundamental; ou a atualidade e equilíbrio do seu discurso sobre tantos assuntos da atualidade como o homossexualismo e os escândalos de pedofilia na igreja (Esse papa é que é “pope”!)
Mas vou ousar falar também do que senti falta, pelo menos ao longo dessa visita. Nas palestras que tenho dado Brasil a fora sobre C. S. Lewis e outros autores e sobre temas teológicos, geralmente para gente jovem, só posso constatar a fome e a sede que os jovens de hoje têm do cristianismo puro e simples. Está certo que muitos deles não sabem muito bem o que seja a teologia e para que ela serve, mas com certeza esse papa deve saber. Então, para mim faltou um pouco disso: cristianismo sólido para uma geração que está desesperada e sem rumo (ético, moral, mas também teológico) em uma sociedade cheia de relativismos, violência, falta de sentido e esperança no futuro. Faltou um pouco mais de Bíblia, de doutrina (por mais famigeradas que essas palavras sejam hoje), e quem sabe um pouco menos do discurso “politicamente correto”.
Talvez essa não seja mesmo a ênfase do papa. No entanto, é a carência que eu vejo, e não apenas entre os jovens da nossa sociedade; tenho atendido a leitores e ouvintes dos oito aos oitenta anos de idade. E nós, líderes evangélicos, protestantes, será que estamos atentos a esse clamor?
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Padres sem castidade (revista Ultimato 277)
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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