Opinião
- 18 de fevereiro de 2019
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Tecnologia, política e progresso: que tragédias ainda estão por vir?
Por Paulo F. Ribeiro
O recente desastre da Vale em Brumadinho nos leva a refletir ainda mais sobre a relação desenvolvimento tecnológico, liberdade, política e governo. Este contexto me fez reler um antigo ensaio do C.S. Lewis de 1958*, mas com grandes aplicações para nosso tempo.
Lewis começa o artigo perguntando se existe melhoramentos na condição humana. Obviamente, isso permite apenas uma resposta conjectural. Mas, duas coisas podem ser identificadas. A primeira, diz Lewis, “é o avanço crescente da ciência e tecnologia. Vamos curar doenças ou produzir mais guerra? Meu palpite é que faremos as duas coisas, removendo velhas misérias e produzindo novas. A segunda é a relação entre governo e cidadãos. Na visão humanitária moderna, todo crime é patológico; não exige castigo retributivo, mas cura. Isso separa a lei criminal dos conceitos de justiça”.
Nesse sentido, o criminoso deixa de ser um sujeito com direitos e deveres, e torna-se apenas um objeto sobre o qual a sociedade pode trabalhar. Se os crimes são doenças, por que as doenças deveriam ser tratadas diferentemente dos crimes? E quem exceto os especialistas podem definir doenças?
“E não adianta perguntar: "O que eu fiz para merecer isso?" "Mas, meu caro amigo, ninguém está te culpando. Nós não acreditamos mais na justiça retributiva. Estamos curando você,” pontua Lewis.
Duas guerras determinaram amplas restrições à liberdade e nós crescemos resmungando, acostumados às nossas algemas. A crescente complexidade e precariedade da vida econômica forçou os governos a controlarem muitas esferas de atividade. E como consequência nos tornamos tais com animais domésticos. Não podemos dizer a nossos governantes "Cuide do seu próprio negócio."
Nesse contexto a tecnologia é usada pelo governo como instrumento para planejar e controlar nossas vidas. Lewis faz uma afirmação importante quando diz: “Eu temo especialistas com poder político porque eles são especialistas falando fora de suas especialidades.”
A questão sobre o progresso (Será que Dará Certo) tornou-se a questão de saber se podemos descobrir qualquer forma de nos submetermos ao paternalismo do governo sem perdermos toda a privacidade e independência pessoal. Lewis então questiona: “Existe alguma possibilidade de obter o mel do Bem-Estar do Estado e evitar a picada?”
E vai adiante: “Não nos enganemos, não há possibilidade de escapar da picada… Não nos deixemos enganar por frases como "o homem tomando conta de seu próprio destino". Tudo o que pode realmente acontecer é que algumas pessoas se encarregarão do destino de outras…. Nenhuma perfeita; algumas gananciosas, cruéis, corruptas e desonestas. Quanto mais organizadas, mais poderosas serão.”
Certamente não vamos descobrir dessa vez um sistema de governo pela qual o poder não deva corromper como antes. As recentes notícias sobre os nossos representantes no novo governo não nos deixam dúvidas.
Mas como cristãos não podemos nem devemos ser pessimistas.... Mas sim realistas, ativistas, lutando (conscientes de nossas falhas e limitações) pela justiça, pela liberdade até a plenitude dos tempos. Sempre há tempo para arrependimento – para redenção – para restauração, começando com nós mesmos. Em Nárnia lemos:
"Sua Majestade teria o direito perfeito de arrancar a cabeça dele", disse Peridan. "Um assalto como esse o coloca em um nível com os assassinos."
"É bem verdade", disse Edmund. "Mas até mesmo um traidor pode se arrepender e consertar. Eu conheci um que fez." E ele parecia muito pensativo.
– C.S. Lewis, em O Cavalo e seu Menino
Desde a queda do homem, nenhuma organização ou modo de vida tem a tendência natural de “Dar Certo”. A família, as instituições, a nação, etc. podem ser oferecidas a Deus, podem ser convertidas e redimidas, e se tornarem um canal de bênçãos. Mas, como tudo mais que é humano, precisa de redenção. Não redimidas, todas as relações, produzirão outras tentações, corrupções e misérias.
Finalmente, que possamos seguir a recomendação de Jeremias 29:7:
“Trabalhem pela paz e pela prosperidade da cidade para a qual os deportei. Orem por ela ao SENHOR, pois a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela”. (NVT)
Referência:
*Willing Slaves of the Welfare State, Is Progress Possible? C.S. Lewis, 20/07/58, First published in The Observer on July 20, 1958.
*Willing Slaves of the Welfare State, Is Progress Possible? C.S. Lewis, 20/07/58, First published in The Observer on July 20, 1958.
Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
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