Opinião
- 20 de junho de 2011
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Sou cristão, tenho dúvidas. E daí?
“Os onze discípulos foram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes indicara. Quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. Então, Jesus aproximou-se deles e disse: 'Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos.'”1
Nessa passagem, Mateus conta-nos que os onze discípulos foram a um lugar designado na Galileia para aquele que seria seu último encontro com Jesus antes de Sua Ascensão. Depois do que acontecera em Jerusalém no dia da crucificação, no domingo de Páscoa e nas diversas ocasiões em que o Cristo ressurreto lhes aparecera, as mentes dos apóstolos estavam em tumulto. E agora eles deviam seguir a um chamado do Mestre para a Galileia. Chegando ao local indicado, eles O adoraram, "mas alguns duvidaram2".
Eles tinham ido à Galileia; dúvida não havia sido um impedimento. Surpreendentemente, naquele monte livrar-se de dúvidas não tinha prioridade. Jesus não censurou os discípulos, mas tampouco tomou tempo para explicar-lhes o que quer que fosse. Não se importou com a atualização dos discípulos em termos de compreensão teológica do que estava acontecendo. Nem considerou doutrinação. Ele os havia convocado para dar-lhes instruções. O que Jesus lhes disse ali no monte não os iluminou. Pelo contrário, deve ter aumentado sua confusão momentânea. Mas, uma vez praticadas em obediência e fé, aquelas instruções revolucionaram as vidas dos discípulos, definiram seus ministérios, e mudaram o mundo. Do livro de Atos sabemos que Jesus não os abandonou com uma lista de instruções: equipou seus discípulos adequadamente. E no devido tempo – o tempo de Deus – o Evangelho foi propagado, o Reino cresceu, dúvidas (ou sua importância) evanesceram.
Talvez sejamos atormentados por dúvidas. Surpreendentemente, e na contramão da nossa inclinação natural, ausência de dúvidas não parece ser uma prioridade no Reino de Deus. Duvidar faz parte da normalidade. G.K. Chesterton formulou do seu jeito bem humorado: “Materialistas e loucos não têm dúvidas.3” Que cristãos têm dúvidas foi a experiência de Arthur Schawlow (Prêmio Nobel de Física, 1981): “somos afortunados em termos a Bíblia, e especialmente o Novo Testamento, que nos fala de Deus em termos humanos muito acessíveis, embora também nos deixe algumas coisas difíceis de entender.4” O teólogo Samuel Rothenberg sugeriu que “um crente sincero é composto de muitas perguntas,5" e Paulo de Tarso enfatiza que “nós agora sabemos muito pouco... e até a pregação mais inspirada é ainda muito imperfeita.6”
Por outro lado, obediência e fé são prioridades, e – à luz da nossa confiança no Senhor – a dúvida irá ajudar-nos a ouvir melhor. Quando processada corretamente, a dúvida leva à humildade com expectativa, pois “a última tentativa da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Revelar-se-á fraca se não chegar a percebê-lo.7” (Blaise Pascal)
Assim como os discípulos estiveram no local que lhes fora designado por Jesus, também espera-se de nós que estejamos nos lugares designados por Ele. Ali adoraremos, apesar de eventuais dúvidas. Ele tem reservado para nós instruções com potencial de mudar nossas vidas e revolucionar / (re)definir / (re)centrar o que fazemos. E, como vem acontecendo desde o primeiro século, o próprio Senhor nos garante Sua presença e nos equipa com o que precisamos. E as dúvidas (ou sua importância) evanescerão.
Notas
(1) Mateus 28:16-20 (NVI).
(2) O sentido de “duvidar” aqui é vacilar (mentalmente) em opinião; não se trata da incredulidade cética de Tomé (João 20).
(3) G.K. Chesterton – Ortodoxia, Mundo Cristão, 2008.
(4) A. Schawlow - “One must ask why and not just how”, In: H. Margenau & R.A. Varghese - Cosmos, bios, theos. Open Court, 1992.
(5) S. Rothenberg – Christsein heute und morgen. Christliche Verlagsanstalt Konstanz, 1981.
(6) 1. Coríntios 13:9 (O Livro).
(7) Pascal, Os pensadores. Editora Abril Cultural, 1973.
__________
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Nessa passagem, Mateus conta-nos que os onze discípulos foram a um lugar designado na Galileia para aquele que seria seu último encontro com Jesus antes de Sua Ascensão. Depois do que acontecera em Jerusalém no dia da crucificação, no domingo de Páscoa e nas diversas ocasiões em que o Cristo ressurreto lhes aparecera, as mentes dos apóstolos estavam em tumulto. E agora eles deviam seguir a um chamado do Mestre para a Galileia. Chegando ao local indicado, eles O adoraram, "mas alguns duvidaram2".
Eles tinham ido à Galileia; dúvida não havia sido um impedimento. Surpreendentemente, naquele monte livrar-se de dúvidas não tinha prioridade. Jesus não censurou os discípulos, mas tampouco tomou tempo para explicar-lhes o que quer que fosse. Não se importou com a atualização dos discípulos em termos de compreensão teológica do que estava acontecendo. Nem considerou doutrinação. Ele os havia convocado para dar-lhes instruções. O que Jesus lhes disse ali no monte não os iluminou. Pelo contrário, deve ter aumentado sua confusão momentânea. Mas, uma vez praticadas em obediência e fé, aquelas instruções revolucionaram as vidas dos discípulos, definiram seus ministérios, e mudaram o mundo. Do livro de Atos sabemos que Jesus não os abandonou com uma lista de instruções: equipou seus discípulos adequadamente. E no devido tempo – o tempo de Deus – o Evangelho foi propagado, o Reino cresceu, dúvidas (ou sua importância) evanesceram.
Talvez sejamos atormentados por dúvidas. Surpreendentemente, e na contramão da nossa inclinação natural, ausência de dúvidas não parece ser uma prioridade no Reino de Deus. Duvidar faz parte da normalidade. G.K. Chesterton formulou do seu jeito bem humorado: “Materialistas e loucos não têm dúvidas.3” Que cristãos têm dúvidas foi a experiência de Arthur Schawlow (Prêmio Nobel de Física, 1981): “somos afortunados em termos a Bíblia, e especialmente o Novo Testamento, que nos fala de Deus em termos humanos muito acessíveis, embora também nos deixe algumas coisas difíceis de entender.4” O teólogo Samuel Rothenberg sugeriu que “um crente sincero é composto de muitas perguntas,5" e Paulo de Tarso enfatiza que “nós agora sabemos muito pouco... e até a pregação mais inspirada é ainda muito imperfeita.6”
Por outro lado, obediência e fé são prioridades, e – à luz da nossa confiança no Senhor – a dúvida irá ajudar-nos a ouvir melhor. Quando processada corretamente, a dúvida leva à humildade com expectativa, pois “a última tentativa da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Revelar-se-á fraca se não chegar a percebê-lo.7” (Blaise Pascal)
Assim como os discípulos estiveram no local que lhes fora designado por Jesus, também espera-se de nós que estejamos nos lugares designados por Ele. Ali adoraremos, apesar de eventuais dúvidas. Ele tem reservado para nós instruções com potencial de mudar nossas vidas e revolucionar / (re)definir / (re)centrar o que fazemos. E, como vem acontecendo desde o primeiro século, o próprio Senhor nos garante Sua presença e nos equipa com o que precisamos. E as dúvidas (ou sua importância) evanescerão.
Notas
(1) Mateus 28:16-20 (NVI).
(2) O sentido de “duvidar” aqui é vacilar (mentalmente) em opinião; não se trata da incredulidade cética de Tomé (João 20).
(3) G.K. Chesterton – Ortodoxia, Mundo Cristão, 2008.
(4) A. Schawlow - “One must ask why and not just how”, In: H. Margenau & R.A. Varghese - Cosmos, bios, theos. Open Court, 1992.
(5) S. Rothenberg – Christsein heute und morgen. Christliche Verlagsanstalt Konstanz, 1981.
(6) 1. Coríntios 13:9 (O Livro).
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Tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. É professor de engenharia em São José dos Campos (SP). É editor do blog Fé e Ciência.
- Textos publicados: 32 [ver]
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Site: http://www.freewebs.com/kienitz/
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