Opinião
- 28 de outubro de 2010
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Sob a proteção de Deus
No contexto das eleições presidenciais, lideranças cristãs brasileiras têm alertado para plataformas, atitudes e atos contrários aos princípios cristãos. A maioria dos que se manifestaram tem sido atacada de forma indiscriminada.
Confesso meu espanto. As reações contrárias às manifestações desses líderes cristãos revelam um desconhecimento assustador do Brasil, das nossas tradições e da nossa história. Quando em 1988 o Brasil recebeu sua atual Constituição, isto aconteceu “sob a proteção de Deus”, como reza o preâmbulo da nossa Lei Maior.
Os que se acostumaram a criticar os cristãos talvez não se lembrem de que nossa Constituição possui um preâmbulo e que esta frase está lá. A crítica não somente ao mundo em geral, mas especialmente a Deus e às igrejas cristãs, incorporou-se à rotina de muitos conterrâneos que se auto definem de “esclarecidos”. Tornaram-se comuns assertivas que confundem separar Estado e Igreja com repelir a religião. Muitos parecem ter esquecido – se é que já souberam – que a separação de Estado e Igreja é uma reivindicação “religiosa” desde a reforma radical no século 16.
Poucas vezes faltam constatações efusivas de que é necessário um Estado que impõe claros limites à religião para garantir a livre e pacífica convivência de pessoas com cosmovisões diferentes. Abundam leituras sobre como a fé contraria uma vida livre e auto determinada, sobre as impertinências da fé e sobre como ela fornece fundamento ideológico a ações confusas e destrutivas.
Ainda assim estou convicto de que a frase do preâmbulo da nossa Constituição continua relevante. Não apenas porque corresponde à posição da maioria da população. Mas principalmente porque leva em conta uma verdade fundamental: nossa ordem livre e democrática está alicerçada na compreensão do homem como um ser livre com dignidade inalienável. Uma compreensão que seria inimaginável sem nossa tradição cristã, sem nossa fé e sem a Bíblia. É a compreensão que nossos constituintes tomaram por fundamento e que a nossa política deve proteger e respeitar.
Pois teríamos que aprender rapidamente a viver sem os direitos humanos e sem nosso estado constitucional democrático, se tivéssemos de viver sem o entendimento de que o homem é segundo a imagem e semelhança de Deus e se tivéssemos de passar sem as ideias de identidade pessoal e individualidade nascidas de tal entendimento. Por justamente este motivo, a conservação e proteção das nossas raízes religiosas não é um ato reacionário, retrógrado, nem direcionado contra a modernidade. Pelo contrário: é o melhor serviço que podemos prestar à nossa comunidade livre e esclarecida.
Existe outra razão pela qual religião e fé têm sua validade especial num mundo secularizado. O escritor russo Fjodor Dostojewski constatou que “sem Deus tudo é permitido”. Isto parece simples e inofensivo. Mas o século 20 ilustrou tragicamente o que esse “tudo” pode significar. Tornou evidente que qualquer sociedade humana precisa de um corretivo para domar o homem na sua loucura. É preciso reconhecer a imagem de Deus em cada ser humano (nascido ou por nascer) para que o homem não se torne predador ou exterminador do homem.
O Estado, suas instituições e personalidades precisam desse corretivo, por exemplo, quando desejam extirpar partidos que não lhes agradam. Precisamos lembrar-lhes constantemente que devem servir às pessoas, que eles em si mesmos não constituem um fim. Nossa economia precisa do corretivo; e nossa sociedade como um todo precisa do corretivo, pois da satisfação das necessidades individuais não resulta automaticamente uma vida repleta de sentido.
O preâmbulo de nossa Constituição documenta que sua promulgação aconteceu sob a proteção de Deus, aquele que no Salmo 91.14 diz: “Porque a mim se apegou, ... protegê-lo-ei, pois conhece o meu nome”. Continuemos sob esta proteção. Busquemos conhecê-lo ao invés de nos contentarmos com declarações do tipo: “Olha, eu acredito numa força superior que a gente pode chamar de Deus”.
• Karl Heinz Kienitz recebeu o doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. Trabalha como professor de engenharia em São José dos Campos. É membro da Primeira Igreja Batista naquela cidade. Karl mantém uma página na internet sobre fé e ciência no endereço www.freewebs.com/kienitz
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Confesso meu espanto. As reações contrárias às manifestações desses líderes cristãos revelam um desconhecimento assustador do Brasil, das nossas tradições e da nossa história. Quando em 1988 o Brasil recebeu sua atual Constituição, isto aconteceu “sob a proteção de Deus”, como reza o preâmbulo da nossa Lei Maior.
Os que se acostumaram a criticar os cristãos talvez não se lembrem de que nossa Constituição possui um preâmbulo e que esta frase está lá. A crítica não somente ao mundo em geral, mas especialmente a Deus e às igrejas cristãs, incorporou-se à rotina de muitos conterrâneos que se auto definem de “esclarecidos”. Tornaram-se comuns assertivas que confundem separar Estado e Igreja com repelir a religião. Muitos parecem ter esquecido – se é que já souberam – que a separação de Estado e Igreja é uma reivindicação “religiosa” desde a reforma radical no século 16.
Poucas vezes faltam constatações efusivas de que é necessário um Estado que impõe claros limites à religião para garantir a livre e pacífica convivência de pessoas com cosmovisões diferentes. Abundam leituras sobre como a fé contraria uma vida livre e auto determinada, sobre as impertinências da fé e sobre como ela fornece fundamento ideológico a ações confusas e destrutivas.
Ainda assim estou convicto de que a frase do preâmbulo da nossa Constituição continua relevante. Não apenas porque corresponde à posição da maioria da população. Mas principalmente porque leva em conta uma verdade fundamental: nossa ordem livre e democrática está alicerçada na compreensão do homem como um ser livre com dignidade inalienável. Uma compreensão que seria inimaginável sem nossa tradição cristã, sem nossa fé e sem a Bíblia. É a compreensão que nossos constituintes tomaram por fundamento e que a nossa política deve proteger e respeitar.
Pois teríamos que aprender rapidamente a viver sem os direitos humanos e sem nosso estado constitucional democrático, se tivéssemos de viver sem o entendimento de que o homem é segundo a imagem e semelhança de Deus e se tivéssemos de passar sem as ideias de identidade pessoal e individualidade nascidas de tal entendimento. Por justamente este motivo, a conservação e proteção das nossas raízes religiosas não é um ato reacionário, retrógrado, nem direcionado contra a modernidade. Pelo contrário: é o melhor serviço que podemos prestar à nossa comunidade livre e esclarecida.
Existe outra razão pela qual religião e fé têm sua validade especial num mundo secularizado. O escritor russo Fjodor Dostojewski constatou que “sem Deus tudo é permitido”. Isto parece simples e inofensivo. Mas o século 20 ilustrou tragicamente o que esse “tudo” pode significar. Tornou evidente que qualquer sociedade humana precisa de um corretivo para domar o homem na sua loucura. É preciso reconhecer a imagem de Deus em cada ser humano (nascido ou por nascer) para que o homem não se torne predador ou exterminador do homem.
O Estado, suas instituições e personalidades precisam desse corretivo, por exemplo, quando desejam extirpar partidos que não lhes agradam. Precisamos lembrar-lhes constantemente que devem servir às pessoas, que eles em si mesmos não constituem um fim. Nossa economia precisa do corretivo; e nossa sociedade como um todo precisa do corretivo, pois da satisfação das necessidades individuais não resulta automaticamente uma vida repleta de sentido.
O preâmbulo de nossa Constituição documenta que sua promulgação aconteceu sob a proteção de Deus, aquele que no Salmo 91.14 diz: “Porque a mim se apegou, ... protegê-lo-ei, pois conhece o meu nome”. Continuemos sob esta proteção. Busquemos conhecê-lo ao invés de nos contentarmos com declarações do tipo: “Olha, eu acredito numa força superior que a gente pode chamar de Deus”.
• Karl Heinz Kienitz recebeu o doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. Trabalha como professor de engenharia em São José dos Campos. É membro da Primeira Igreja Batista naquela cidade. Karl mantém uma página na internet sobre fé e ciência no endereço www.freewebs.com/kienitz
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Tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica Federal de Zurique, Suíça. É professor de engenharia em São José dos Campos (SP). É editor do blog Fé e Ciência.
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Site: http://www.freewebs.com/kienitz/
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