Opinião
- 18 de agosto de 2022
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Ser cristão no Mianmar é enfrentar a perseguição todos os dias, de todos os lados
Por Regina Andrade
Os cristãos de Mianmar pedem constantemente oração por suas vidas, para que Deus ouça seu clamor e que o país volte a ser um lugar de paz para todos.
Ainda antes de fevereiro de 2021, ser cristão no Mianmar já era um desafio. Os cristãos que abandonam a fé dos antepassados para seguir a Jesus são perseguidos tanto pela família como por comunidades budistas, muçulmanas ou tribais. Aqueles que vivem em áreas rurais ou evangelizam, enfrentam oposição.
Desde o golpe militar, em fevereiro de 2021, as autoridades locais impuseram fortes restrições aos cultos, pelo medo de as pessoas usarem as reuniões para organizarem protestos e se mobilizarem contra o governo. No entanto, cristãos anseiam pela comunhão, por orar juntos e ouvir a palavra de Deus.
A violência e as atrocidades aumentaram mais do que nunca no país. As notícias da execução de Ko Jimmy e Phyo Zayar Thaw, líderes pró-democracia, na prisão de Insein em Yagon pelos militares mexeu com os sentimentos democráticos do país. As famílias deles não tiveram permissão para um último encontro antes da execução. E quando chegaram à prisão, não puderam ver nem sepultar os corpos.
Após o golpe militar, os combates continuaram em estados de maioria cristã como Kachin, Karen e ao norte de Shan. No estado de Chin, igrejas foram destruídas e cristãos mortos.
Centenas de seguidores de Jesus foram expulsos das regiões onde moravam e agora vivem em campos de deslocados onde não têm acesso a alimento e a cuidados de saúde.
Alguns cristãos estão envolvidos no Movimento de Desobediência Civil (MDL). De maneira pacífica, eles se opõem ao regime militar, mas enfrentam ataques violentos do governo atual. Casos de incêndios criminosos de igrejas e casas de cristãos são contabilizados desde o golpe militar no país.
A perseguição aos cristãos em Mianmar
Nas últimas décadas, a perseguição aos cristãos, especialmente nos estados Chin e Kachin, tem sido sistêmica. Quase 90% da população nessas áreas é cristã, e os militares budistas de Mianmar perseguem e cometem abusos contra os seguidores de Jesus, fechando igrejas e agredindo quem não renuncia a fé.
“Os cristãos enfrentam requisitos mais difíceis ao se candidatarem a serviços governamentais. As queixas encaminhadas à polícia pelos seguidores de Cristo são ignoradas na maioria dos casos. Eles também têm menos acesso a empréstimos e benefícios estatais do que cidadãos não cristãos. Mesmo em regiões de maioria cristã, as autoridades são frequentemente budistas”, conta um parceiro.
O Mianmar é o 12º país da Lista Mundial da Perseguição 2022 (LMP), que classifica os 50 países em que os cristãos são mais perseguidos.
Incêndio abala a fé dos cristãos em Mianmar
No meio da luta entre o exército birmanês e as forças nacionais de Mianmar, tropas birmanesas incendiaram uma das maiores igrejas da cidade de Thanthlang. De acordo com a mídia local, a Thantlang Baptist Church, em Thantlang foi reduzida a cinzas no dia 9 de junho.
Apesar de não haver vítimas, o incêndio abalou o coração dos cristãos em Mianmar. Uma parceira local da Portas Abertas relata que “essa notícia esmoreceu a alegria dos cristãos em Thantlang. Para alguns, a insatisfação com os militares aumentou, outros estão lamentando as perdas, outros questionam por que Deus permitiu que isso acontecesse e alguns procuram a Deus tentando encontrar esperança e segurança”.
Entre janeiro e março de 2022, ao menos 19 vilas foram atacadas. “Balas disparavam no céu. Desalojamentos aconteceram no Leste de Mianmar”. Casas, escolas, clínicas médicas e igrejas foram danificadas e destruídas pelo bombardeio. Ao menos oito igrejas foram deterioradas em ataques no estado de Kayah, segundo a Anistia Internacional.
Desde o golpe militar, em fevereiro de 2021, mais de 1.200 casas e 11 igrejas foram incendiadas em Thantlang, cidade do estado de Chin, em Mianmar. A igreja Thanglang Baptist Church tem mais de 600 famílias na sua membresia, era conhecida como a maior igreja do estado e contava com grande prestígio na comunidade. A maioria dos residentes da cidade de Thantlang fugiu em 2021 e agora vivem como refugiados ou deslocados internos nas áreas vizinhas.
Cristãos deslocados
Desde fevereiro de 2021, 566 mil pessoas foram deslocadas de casa, segundo dados recentes do Escritório para Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.
Recentemente, somente entre os dias 29 de abril e 1º de maio, 12 mil pessoas da etnia karen foram obrigadas por forças aéreas armadas a deixarem suas casas, informou o portal de informações UCAN. O estado de Kayin, ondes os karens vivem, enfrenta uma rebelião armada pela independência que já dura 60 anos.
Recentemente, somente entre os dias 29 de abril e 1º de maio, 12 mil pessoas da etnia karen foram obrigadas por forças aéreas armadas a deixarem suas casas, informou o portal de informações UCAN. O estado de Kayin, ondes os karens vivem, enfrenta uma rebelião armada pela independência que já dura 60 anos.
“A situação é terrível e a vida está ficando tenebrosa para as pessoas em Mianmar. As pessoas estão com medo. Os cristãos são alvos de radicais em todos o país, principalmente nos lugares onde são a maioria. Eles estão traumatizados pelo que está acontecendo e lutando para terem o básico para sobreviver”, relata uma parceira local da Portas Abertas.
Permanecendo firmes
Assim como a Igreja Primitiva, à qual a cada dia o Senhor acrescentava novos cristãos (Atos 2), mesmo em meio ao conflito na região central de Mianmar, cristãos estão encontrando formas de se reunir nas casas aos domingos para cultuar e muitas pessoas têm conhecido o evangelho nessas reuniões.
O parceiro local da Portas Abertas Piang (pseudônimo) está conduzindo cultos na região e disse: “Há três templos na vizinhança onde costumávamos nos reunir. Dois deles foram interditados pelo governo e o terceiro é muito distante para a maioria. Por isso, muitos cristãos se reúnem nas casas, como igrejas domésticas. Desde as restrições e mudanças, novos cristãos têm chegado e o número dos que creem continua crescendo”.
Piang também compartilhou que “recentemente, os militares e autoridades locais entraram na igreja no momento em que fazíamos o culto dominical e começaram a tirar fotos. Eles chamaram o pastor da igreja e líderes para o gabinete e disseram que não permitiriam que os cultos continuassem a acontecer, pois deveriam evitar multidões. Disseram que aquele era o alerta final e que não sabiam o que fariam se não fossem obedecidos”.
Cidadãos em vários locais de Mianmar intensificaram os protestos contra a junta militar que governa o país desde o golpe, enquanto isso, muitos cidadãos ficaram assustados e com medo pelo futuro do país. Guerra ininterrupta, fome e morte são alguns dos desafios presentes.
Organizações internacionais, grupos étnicos armados e as Forças de Defesa das Pessoas (PDF, da sigla em inglês) condenaram veementemente os militares por causa da execução dos líderes pró-democracia. As PDF também mencionarão que vingarão essas mortes. A morte dos líderes pode causar uma série de eventos, como a intensificação da luta nas regiões de conflito e início de novas lutas.
Mais de Deus
Mesmo com tantos desafios, a igreja persevera em Mianmar e conta com o apoio de organizações como a Portas Abertas, que atua na linha de frente servindo a Igreja Perseguida. Uma das ações da Portas Abertas, junto com parceiros locais, foi um acampamento infantil em que as crianças cristãs puderam esquecer um pouco a perseguição e toda a violência que o país está passando. As crianças cantaram, dançaram e ouviram histórias bíblicas durante os cultos realizados no acampamento.
Você também pode ajudar
Quando a perseguição ocorre por parte do Estado, até mesmo leis são utilizadas para atingir os cristãos. O Mianmar possui leis que regulam a conversão religiosa, proibindo que a maioria religiosa se converta a uma religião minoritária, geralmente o cristianismo. As chamadas leis anticonversão utilizam termos como “indução”, “à força” e “meios fraudulentos” para alegar que as pessoas se converteram ao cristianismo porque foram obrigadas ou receberam um benefício.
Portas Abertas oferece a esses cristãos um treinamento para que eles possam conhecer os seus direitos como cidadão e enfrentem a perseguição de forma legal e bíblica.
Conheça o projeto e participe orando e doando para esta causa.
Ore pelo Mianmar
Interceda para que Deus toque o coração dos líderes militares de Mianmar e lhes dê o desejo de trabalhar pela paz e pela reconciliação.
Ore para que a igreja local esteja em constante oração por Mianmar. Que Deus fortaleça e reanime cada cristão abatido pelos conflitos políticos.
Louve ao Senhor pelo treinamento de preparação para a perseguição que os parceiros da Portas Abertas realizaram. Agradeça a Deus pelos participantes que foram encorajados a lembrar sempre da paternidade de Deus.
História da foto crianças no Mianmar
Desde 2021, Mianmar está enfrentando turbulência política e parece que tudo parou, incluindo assistência médica, educação e instituições industriais.
O país inteiro está paralisado pelo medo. Muitos dos funcionários do governo, incluindo os professores das escolas, aderiram ao Movimento de Desobediência Civil (MDL), abandonando seus cargos como forma de protesto, recusando-se a trabalhar sob o governo militar.
Crianças em idade escolar em todo o país não podiam ir às escolas, muito menos sair para brincar ou se divertir como costumavam fazer. Muitas crianças nas áreas urbanas são tratadas dentro de suas casas, as crianças nas áreas afetadas pela guerra civil estão nas selvas, enquanto outras crianças vivem nos campos de deslocados e refugiados.
Enquanto isso, várias crianças de uma comunidade de crentes perseguidos estavam sentadas no chão de uma sala de palha. Os cristãos são um grupo minoritário perseguido por sua fé, afastados da educação e desenvolvimento. Crianças de famílias cristãs crescem oprimidas por sua fé e etnia.
Cercadas pela guerra, elas são expostas a atrocidades. Mesmo antes do golpe, as escolas da região não eram confiáveis. Apenas uma fração dos cristãos secretos sabia ler e é crucial que seus filhos saibam ler e escrever para seu futuro.
Parceiros de parceiros de OD organizaram aulas de alfabetização para filhos dos crentes. Maung Kyaw*, que também é cristão, se ofereceu para ensinar e ajudar as crianças a aprender alfabetização básica e histórias da Bíblia.
*Nomes alterados por motivo de segurança
*Fotos desfocadas por motivo de segurança
- Regina Andrade é assessora de imprensa de Portas Abertas.
SAUDADES DA IGREJA – COMO É BOM E AGRADÁVEL QUANDO O POVO DE DEUS SE JUNTA | REVISTA ULTIMATO
Está claro para todos que a pandemia alterou muitos aspectos da sociedade. O impacto dessas mudanças chega às igrejas, denominações e organizações paraeclesiásticas de diferentes maneiras. Retornar às reuniões presenciais será um desafio! Exigirá esforço e ânimo para vencer as dificuldades internas (dentro de nós) e as externas. Para muitas lideranças pastorais o contexto é desanimador. Há pastores emocionalmente esgotados. Liderar neste contexto complexo de mudança é uma prova cheia de obstáculos.
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