Opinião
- 19 de outubro de 2010
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Sequidão
Rodrigo de Lima Ferreira
O ar anda muito seco. Aqui em Rondônia a coisa está virando calamidade. Quando se anda na rua, a garganta seca, mesmo você ficando de boca fechada. Os olhos ardem, a garganta arranha. O clima está nublado há dias, e é por causa da poeira suspensa. De noite, fica uma neblina que te impede de enxergar mais longe. E é neblina de pó, não de orvalho.
A grama das praças ficou marrom. Não sei como estão as plantações e os rebanhos, mas imagino que devam estar sofrendo bastante também. Há notícias de que ocorreram acidentes nas estradas daqui, de Goiás e do Mato Grosso por causa do ar seco, junto com as queimadas.
O ar está pesado, ruim para se respirar. Segundo uma amiga que mora em Brasília, a coisa por lá também não está nada fácil, até mesmo porque o clima naturalmente é bastante seco.
Sinto que o clima, o ar e o meio ambiente eclesiástico também apresentam tamanha sequidão. O nome de Jesus, que até há pouco tempo era central, hoje se tornou apenas mais um amuleto para de amealhar renda. A sagacidade de empresários religiosos que querem se fazer conhecidos como ministros de Deus e a sanha de gente calhorda em busca de notoriedade alcançam níveis alarmantes em nossa história recente. O conchavo, o jeitinho, o “quanto levo nessa” se tornaram padrão nos bastidores eclesiais brasileiros. Por sua vez, há também aqueles que, alijados da notoriedade ocupada no passado, passam-se por únicos e exclusivos profetas e pregoeiros do Evangelho genuíno, gerando, com isso, um sem-número de seguidores áulicos e faltosos de capacidade de discernimento, que se alimentam de sua bile despejada Brasil afora. Há também aqueles que creem e pregam que Deus é uma espécie de “Carolina” da música de Chico Buarque: o tempo passou e só Deus não viu, não agiu, não intercedeu, não exerceu sua soberania. Como um bobalhão, ficou sentado à beira do caminho lamentando sua impotência perante este mundo mau.
Enfim, o que há é uma sequidão. Os relacionamentos pessoais estão secos, quebradiços. O caráter de muita gente não suporta ser moldado, pois pode trincar. O relacionamento com Deus, então, resseca as vistas, a garganta, a pele.
O profeta Ezequiel demonstra, em sua profecia (Ez 37.1-15), o que realmente somos: ossos secos em um vale (Ez 37.11). A visão de ossos remete à imagem de morte, desolação, abandono. Ossos também são parte da estrutura de um corpo. A igreja de hoje está bem estruturada, com seus inúmeros departamentos, autarquias e diretorias internas; falta-lhe, porém, o fôlego de vida para que termine essa sequidão.
É hora de clamarmos a Deus, pedirmos perdão a ele, nos arrependermos de nossos maus caminhos. Deixar de usar o rebanho como moeda de troca eleitoreira ou como vitrine de nossa presunção. É hora de vivermos, novamente, a vida de refrigério que Deus nos dá (Sl 23.3a), sendo guiados por ele, e não por nossa própria carnalidade. É hora da igreja evangélica brasileira se converter ao Senhor e fugir de sua perene sequidão. Que Deus tenha misericórdia de nós!
• Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Rolim de Moura, RO. É autor de "Princípios Esquecidos" (Editora AGBooks). revdigao.wordpress.com
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O ar anda muito seco. Aqui em Rondônia a coisa está virando calamidade. Quando se anda na rua, a garganta seca, mesmo você ficando de boca fechada. Os olhos ardem, a garganta arranha. O clima está nublado há dias, e é por causa da poeira suspensa. De noite, fica uma neblina que te impede de enxergar mais longe. E é neblina de pó, não de orvalho.
A grama das praças ficou marrom. Não sei como estão as plantações e os rebanhos, mas imagino que devam estar sofrendo bastante também. Há notícias de que ocorreram acidentes nas estradas daqui, de Goiás e do Mato Grosso por causa do ar seco, junto com as queimadas.
O ar está pesado, ruim para se respirar. Segundo uma amiga que mora em Brasília, a coisa por lá também não está nada fácil, até mesmo porque o clima naturalmente é bastante seco.
Sinto que o clima, o ar e o meio ambiente eclesiástico também apresentam tamanha sequidão. O nome de Jesus, que até há pouco tempo era central, hoje se tornou apenas mais um amuleto para de amealhar renda. A sagacidade de empresários religiosos que querem se fazer conhecidos como ministros de Deus e a sanha de gente calhorda em busca de notoriedade alcançam níveis alarmantes em nossa história recente. O conchavo, o jeitinho, o “quanto levo nessa” se tornaram padrão nos bastidores eclesiais brasileiros. Por sua vez, há também aqueles que, alijados da notoriedade ocupada no passado, passam-se por únicos e exclusivos profetas e pregoeiros do Evangelho genuíno, gerando, com isso, um sem-número de seguidores áulicos e faltosos de capacidade de discernimento, que se alimentam de sua bile despejada Brasil afora. Há também aqueles que creem e pregam que Deus é uma espécie de “Carolina” da música de Chico Buarque: o tempo passou e só Deus não viu, não agiu, não intercedeu, não exerceu sua soberania. Como um bobalhão, ficou sentado à beira do caminho lamentando sua impotência perante este mundo mau.
Enfim, o que há é uma sequidão. Os relacionamentos pessoais estão secos, quebradiços. O caráter de muita gente não suporta ser moldado, pois pode trincar. O relacionamento com Deus, então, resseca as vistas, a garganta, a pele.
O profeta Ezequiel demonstra, em sua profecia (Ez 37.1-15), o que realmente somos: ossos secos em um vale (Ez 37.11). A visão de ossos remete à imagem de morte, desolação, abandono. Ossos também são parte da estrutura de um corpo. A igreja de hoje está bem estruturada, com seus inúmeros departamentos, autarquias e diretorias internas; falta-lhe, porém, o fôlego de vida para que termine essa sequidão.
É hora de clamarmos a Deus, pedirmos perdão a ele, nos arrependermos de nossos maus caminhos. Deixar de usar o rebanho como moeda de troca eleitoreira ou como vitrine de nossa presunção. É hora de vivermos, novamente, a vida de refrigério que Deus nos dá (Sl 23.3a), sendo guiados por ele, e não por nossa própria carnalidade. É hora da igreja evangélica brasileira se converter ao Senhor e fugir de sua perene sequidão. Que Deus tenha misericórdia de nós!
• Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Rolim de Moura, RO. É autor de "Princípios Esquecidos" (Editora AGBooks). revdigao.wordpress.com
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