Opinião
- 18 de fevereiro de 2022
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Sequela Christi versus um cristianismo como distintivo ideológico
Por Luiz Fernando dos Santos
“E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E logo viu, e seguiu a Jesus pelo caminho” (Mc 10.52)
O cristianismo corre o sério risco em nossos dias de ser confundido, identificado e reduzido a um distintivo ideológico e político. Políticos e mesmo muitos líderes religiosos confundem os valores cristãos como família, relações heterossexuais, moralidade sexual em geral, liberdade de consciência e de expressão com o cristianismo, com o evangelho. Para ser bem franco, nem mesmo é preciso ser cristão para defender esses valores. Muçulmanos, judeus e mesmo ateus poderão fazê-lo e mormente o fazem sem a histeria de alguns que se dizem cristãos ou evangélicos.
O cristianismo perde muito da sua essência e da sua razão de ser quando reduz o seu conteúdo e a sua agenda à defesa apaixonada de bandeiras de qualquer causa, como os pobres, os marginalizados ou as minorias, como na Teologia da Libertação e em certa medida, na Teologia da Missão Integral. Posicionamentos muito acentuados à direita, com os ‘valores’ mencionados antes ou à esquerda, como nas ‘bandeiras’ acima, o cristianismo se apequena e se acrisola em mera ideologia. Mas, há também o real perigo da ortodoxia engessada, fossilizada e atomizada em forma de doutrinas, proposições e discursos sistematizados. Esse é o perigo de reduzir o cristianismo a meros silogismos, a ideias, palavras e conceitos teológicos e filosóficos.
São encontros que fogem muitíssimas vezes à lógica humana e para os quais, pouco ou nenhum preparo foi feito. Em João 1.37ss temos o primeiro encontro de Jesus com aqueles que seriam os seus discípulos. Foram ver onde ele morava, ficaram com ele aquele dia. O encontro foi tão marcante que João registrou até a hora “eram mais ou menos quatro horas da tarde” (v.39). Desse encontro e desse tempo passado com Jesus uma profunda transformação ocorreu na vida daqueles homens de tal maneira, que deixando para trás um estilo de vida, assumiram na companhia de Jesus um processo de aquisição de novos hábitos, uma nova visão de mundo e um jeito inédito de compreender o sentido da vida e os relacionamentos humanos.
Encontramos muitos outros episódios que provocaram uma reviravolta na vida dos que fizeram contato pessoal com o Senhor: a mulher samaritana de João 4, a adúltera de João 8, o publicano de Mateus 9 e muitos outros cegos, paralíticos, endemoniados e leprosos, foram profundamente tocados por Jesus. Esses encontros demonstram que ninguém passa indiferente pelo Cristo, mesmo os fariseus, saduceus, Herodes e Pilatos, que de alguma maneira tiveram suas almas e consciências afligidas quando seus olhos cruzaram com os do mestre da Galileia. Contudo, o encontro mais dramático do Novo Testamento é o do altivo, orgulhoso e presunçoso Saulo de Tarso, quase podemos afirmar que no seu encontro com Jesus ele literalmente caiu do cavalo. O processo após a cegueira provocada pela intensa luz, como registra o livro de Atos 9, foi longo, doloroso e virou a vida de Saulo de ponta cabeça. Em dado momento, na crise desse processo de conversão, o agora Paulo, talvez nem mais se reconhecesse como pessoa. Poderia até ser, que tomando consciência de sua maldade e vileza, tenha preferido a morte. Porém, o trabalho da graça pode mais e esse processo transformador em Cristo foi se aperfeiçoando até o fim de sua carreira.
Mas, claro, esse encontro não tem nada de místico ou se o tem, não o esgota. Quem encontra-se com Jesus também ouve, acata e põe em prática o que ele fala e ensina. Ninguém pode dizer que se encontrou salvadoramente com o Senhor à parte de acolher o seu evangelho. Ninguém pode dizer que o conhece e que o ama “se não guarda os seus mandamentos” (Jo 14.21).
Pertencer a Jesus e ser considerado um membro da sua família tem a ver com a prática da sua palavra (Mt 12. 46-50). O modo de praticar concretamente essa palavra recebida e crida é imitar a Jesus. O encontro com o Cristo, a audição constante da sua palavra, o andar na sua companhia não só nos afeiçoa, como também nos configura, nos leva a ter o “jeitão” de Jesus: “Ora, Pedro estava assentado fora, no pátio; e, aproximando-se dele uma criada, disse: Tu também estavas com Jesus, o galileu. Mas ele negou diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes. E, saindo para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: Este também estava com Jesus, o Nazareno. E ele negou outra vez com juramento: Não conheço tal homem. E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia” (Mt 26.69-73).
• Luiz Fernando dos Santos é casado com Sonia Regina e pai de Talita Raíssa. É pastor presbiteriano em Itapira, SP, e professor no Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, SP.
“E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E logo viu, e seguiu a Jesus pelo caminho” (Mc 10.52)
O cristianismo corre o sério risco em nossos dias de ser confundido, identificado e reduzido a um distintivo ideológico e político. Políticos e mesmo muitos líderes religiosos confundem os valores cristãos como família, relações heterossexuais, moralidade sexual em geral, liberdade de consciência e de expressão com o cristianismo, com o evangelho. Para ser bem franco, nem mesmo é preciso ser cristão para defender esses valores. Muçulmanos, judeus e mesmo ateus poderão fazê-lo e mormente o fazem sem a histeria de alguns que se dizem cristãos ou evangélicos.
O cristianismo perde muito da sua essência e da sua razão de ser quando reduz o seu conteúdo e a sua agenda à defesa apaixonada de bandeiras de qualquer causa, como os pobres, os marginalizados ou as minorias, como na Teologia da Libertação e em certa medida, na Teologia da Missão Integral. Posicionamentos muito acentuados à direita, com os ‘valores’ mencionados antes ou à esquerda, como nas ‘bandeiras’ acima, o cristianismo se apequena e se acrisola em mera ideologia. Mas, há também o real perigo da ortodoxia engessada, fossilizada e atomizada em forma de doutrinas, proposições e discursos sistematizados. Esse é o perigo de reduzir o cristianismo a meros silogismos, a ideias, palavras e conceitos teológicos e filosóficos.
O cristianismo é antes de tudo uma pessoa, um encontro real, verdadeiro com a pessoa de Jesus Cristo. As páginas do Novo Testamento, especialmente dos Evangelhos, estão saturadas desses encontros de tirar o fôlego, encontros arrebatadores, transformadores de pecadores com Jesus Cristo.
São encontros que fogem muitíssimas vezes à lógica humana e para os quais, pouco ou nenhum preparo foi feito. Em João 1.37ss temos o primeiro encontro de Jesus com aqueles que seriam os seus discípulos. Foram ver onde ele morava, ficaram com ele aquele dia. O encontro foi tão marcante que João registrou até a hora “eram mais ou menos quatro horas da tarde” (v.39). Desse encontro e desse tempo passado com Jesus uma profunda transformação ocorreu na vida daqueles homens de tal maneira, que deixando para trás um estilo de vida, assumiram na companhia de Jesus um processo de aquisição de novos hábitos, uma nova visão de mundo e um jeito inédito de compreender o sentido da vida e os relacionamentos humanos.
Encontramos muitos outros episódios que provocaram uma reviravolta na vida dos que fizeram contato pessoal com o Senhor: a mulher samaritana de João 4, a adúltera de João 8, o publicano de Mateus 9 e muitos outros cegos, paralíticos, endemoniados e leprosos, foram profundamente tocados por Jesus. Esses encontros demonstram que ninguém passa indiferente pelo Cristo, mesmo os fariseus, saduceus, Herodes e Pilatos, que de alguma maneira tiveram suas almas e consciências afligidas quando seus olhos cruzaram com os do mestre da Galileia. Contudo, o encontro mais dramático do Novo Testamento é o do altivo, orgulhoso e presunçoso Saulo de Tarso, quase podemos afirmar que no seu encontro com Jesus ele literalmente caiu do cavalo. O processo após a cegueira provocada pela intensa luz, como registra o livro de Atos 9, foi longo, doloroso e virou a vida de Saulo de ponta cabeça. Em dado momento, na crise desse processo de conversão, o agora Paulo, talvez nem mais se reconhecesse como pessoa. Poderia até ser, que tomando consciência de sua maldade e vileza, tenha preferido a morte. Porém, o trabalho da graça pode mais e esse processo transformador em Cristo foi se aperfeiçoando até o fim de sua carreira.
Quem não teve a sua vida transtornada quando recebeu a Cristo. Quem não viu todas as suas certezas e seguranças humanas serem pateticamente pulverizadas, quem não sofreu um processo doloroso, muitas vezes, de rupturas, renúncias da vida velha, não teve ainda um encontro real e verdadeiro com Jesus.
Mas, claro, esse encontro não tem nada de místico ou se o tem, não o esgota. Quem encontra-se com Jesus também ouve, acata e põe em prática o que ele fala e ensina. Ninguém pode dizer que se encontrou salvadoramente com o Senhor à parte de acolher o seu evangelho. Ninguém pode dizer que o conhece e que o ama “se não guarda os seus mandamentos” (Jo 14.21).
Pertencer a Jesus e ser considerado um membro da sua família tem a ver com a prática da sua palavra (Mt 12. 46-50). O modo de praticar concretamente essa palavra recebida e crida é imitar a Jesus. O encontro com o Cristo, a audição constante da sua palavra, o andar na sua companhia não só nos afeiçoa, como também nos configura, nos leva a ter o “jeitão” de Jesus: “Ora, Pedro estava assentado fora, no pátio; e, aproximando-se dele uma criada, disse: Tu também estavas com Jesus, o galileu. Mas ele negou diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes. E, saindo para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: Este também estava com Jesus, o Nazareno. E ele negou outra vez com juramento: Não conheço tal homem. E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia” (Mt 26.69-73).
Notem, Pedro era tão próximo, tão íntimo e tão presente junto ao Senhor, que até os “maneirismos” dele Pedro havia assumido. Mais tarde, Pedro sofrerá ao seu modo, a mesma morte do seu mestre. Será que existe tanto assim de Jesus em nós, desse encontro com ele em nós, que seríamos também facilmente denunciados e reconhecidos como um dos seus discípulos? Se você se encontrou com ele, agora nunca mais se separe dele. Caminhe com ele, ouça o que ele diz e deixe-se transformar. Pode até doer, mas vai valer a pena ter as sequelas de Cristo.
• Luiz Fernando dos Santos é casado com Sonia Regina e pai de Talita Raíssa. É pastor presbiteriano em Itapira, SP, e professor no Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, SP.
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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