Opinião
- 22 de dezembro de 2023
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Saúde é vida em abundância
Por René Padilla
“Não adoecer” não é o único sinal de saúde. Saúde abarca o corpo, a mente, o espírito e as relações sociais.
“Não adoecer” não é o único sinal de saúde. Saúde abarca o corpo, a mente, o espírito e as relações sociais.
Um enfoque comum para a saúde a relaciona intrinsecamente com as doenças físicas e mentais: a pessoa que não está doente goza de boa saúde. Um enfoque muito mais apropriado é o que a relaciona com a vida. Mas o que é a vida?
Em nossa sociedade dominada pelo consumismo, a vida geralmente é confundida com o “bem-estar material”: o “gozar a vida” é identificado com o usufruir do prazer produzido pelas coisas que se possui. Nesse contexto, as palavras de Jesus ganham vigência: “A vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc 12.15). O rico louco da parábola que precede essas palavras não entendia esse princípio e, consequentemente, se dedicou a acumular riquezas. Fez delas o seu deus e se esqueceu do Deus vivo e verdadeiro. “Mas Deus lhe disse: Louco! Esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” (v. 20).
Sob um ponto de vista antropológico, a vida humana se constitui em uma unidade inseparável do biológico, do psicológico e do espiritual do ser humano. O próprio Deus é a fonte da vida e fez o ser humano como um ser psicossomático e espiritual, com a capacidade de se relacionar com o Criador, com o próximo e com a criação. Para entender o sentido da vida, portanto, é necessário vê-la à luz dessa tripla relação para a qual Deus a criou originalmente e a continua sustentando.
Se a vida é concebida em termos relacionais, desaparece o perigo de confundir o gozar a vida com o usufruir de bens materiais. Eles têm o seu lugar: são indispensáveis para a vida. Porém, muito acima deles estão as relações que definem a qualidade de vida: a abundância de bens materiais é superada pela abundância de vida. O Antigo Testamento se refere a ela com o termo “Shalom”, que transmite a ideia de harmonia da pessoa com Deus, com o próximo e com a criação. E o seu rico conteúdo é captado por Jesus Cristo quando define a sua própria missão em termos de tornar possível que as pessoas “tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo 10.10).
O enfoque mais apropriado para entender a saúde é o que a relaciona com a visão cristã da vida em abundância. Falar de saúde não é simplesmente não estar doente ou possuir muitos bens materiais, mas sim usufruir da plenitude de vida segundo o propósito de Deus.
Infelizmente, pode parecer que, hoje, os fatores que conspiram contra a vida se multiplicaram. Com a globalização da economia de mercado, a distância entre pobres e ricos aumentou, e há grandes setores da população mundial que não podem suprir as suas necessidades básicas. A injustiça e a opressão se espalham como uma erva daninha, reinam a desnutrição e a fome, e as doenças proliferam.
Nesta situação, como seguidores de Cristo, não podemos nos limitar a falar do amor de Deus e a nos abster de expressar esse amor em ações concretas a favor dos necessitados com o objetivo de facilitar a manutenção da sua saúde psicossomática. E, claro, tampouco podemos esquecer que o propósito de Deus abarca a totalidade da vida humana e que, consequentemente, a plenitude de vida – “Shalom” – requer que o pão que alimenta o corpo seja acompanhado do Pão da vida. É para esse objetivo que a missão integral aponta, buscando a plenitude de vida mediante a restauração completa da imagem de Deus em homens e mulheres feitos para viver em relação com o Criador, com o próximo e com a criação.
Artigo originalmente publicado na Revista Ultimato edição 352, janeiro/fevereiro.
Artigo originalmente publicado na Revista Ultimato edição 352, janeiro/fevereiro.
REVISTA ULTIMATO | DOENÇAS QUE FAZEM SOFRER TAMBÉM OS QUE CREEM
Todas as pessoas – também os que creem – correm o risco de adoecer mentalmente. Há multidões na igreja lutando com problemas de saúde mental. Felizmente, há esperança e ajuda: profissionais da saúde, recursos terapêuticos e medicamentos. Os cristãos podem contar ainda com a ajuda extraordinária de seu Deus. E a igreja deve proporcionar um espaço seguro para estes.
É disso que trata a matéria de capa da edição 405 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
É fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de O Que É Missão Integral? e colunista da revista Ultimato.
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