Opinião
- 13 de abril de 2022
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Ressurreição: fato e significado
Por Mario Rost
Coloquemos diante do leitor tanto o fato como o significado da ressurreição de Jesus.
Ao longo da convivência com seus seguidores Jesus não guardou segredo sobre a aproximação de um momento de sacrifício físico (Marcos 14.3-9), a morte; mas também anunciou que ela seria revertida completamente para o início de uma realidade certa, vencedora e vitoriosa.
Certa vez (conforme Mateus 12), quando alguns escribas e fariseus vieram dizendo “Mestre, queremos ver algum sinal feito pelo senhor”, o Mestre apontou para o principal dos sinais/eventos de maravilha, a sua ressurreição dentre os mortos, que chamou de “sinal do profeta Jonas”. Talvez nem todos os ouvintes quisessem ouvir o anúncio da morte do Senhor Jesus pelo próprio Jesus; nem levaram a sério a história da ressurreição ao terceiro dia. Quem prestou atenção ao fato que se avizinhava?
Na época do fato, e ainda hoje, existe a tentativa de colocar a ressurreição de Jesus Cristo como peça de um discurso, de uma narrativa construída para atender os interesses da fé cristã. Mediante o suborno dos que deveriam guardar a sepultura, se fez circular a “notícia falsa” (fake news) de que enquanto os guardiões se entregavam ao sono, vieram alguns dos seguidores de Jesus e roubaram o seu corpo para sepultá-lo em outro lugar desconhecido (Mateus 28.11-13). A versão confirma a morte (anunciada), mas nega o fato da ressurreição, igualmente anunciada/predita.
Em movimento não menos nocivo, a ressurreição foi alegorizada, dizendo: “Ele está vivo, sim, na fé/na lembrança dos seguidores”. Ao considerarmos os relatos bíblicos do domingo de Páscoa, o Espírito Santo nos convence, também por argumentos lógicos/racionais, que a ressurreição é um fato objetivo, que independe da fé ou expectativa pessoal. Não é uma narrativa cuidadosamente engendrada por seguidores de Jesus.
O fato, a ressurreição de Jesus, se reveste de um significado para a compreensão de toda a relação de Deus com a humanidade e desta para com Deus. O fato une duas realidades ou dimensões da existência: a vida e a morte. Não as justapõe simplesmente, mas ensina que a vida vence a morte. É certo que nossa existência no mundo transcorre entre esses dois pontos, que podemos resumir assim: “eu vivo entre a vida e a morte”. A ressurreição de Jesus assegura que a vida triunfa sobre a outra. Eu também viverei, vencerei a morte.
Em duas de suas cartas, especialmente, o apóstolo Paulo desenvolve o papel da ressurreição na vida da igreja primitiva. Aos coríntios ele exorta com veemência que fundamentem sua fé e vida no fato de que Cristo foi ressuscitado (1Coríntios 15.1-34). Sem ressurreição não resta o que crer ou proclamar no mundo. E aos filipenses ressalta a pessoalidade dos benefícios dela: “Tudo o que eu quero é conhecer a Cristo e sentir em mim o poder da sua ressurreição. Quero também tomar parte nos seus sofrimentos e me tornar como ele na sua morte, com a esperança de que eu mesmo seja ressuscitado da morte para a vida” (Filipenses 3.10-11).
O leitor não deveria deixar de lembrar que morte e ressurreição de Jesus têm caráter vicário; ele vive-morre-e vive para que nós vivamos. Temos um precursor e substituto perfeito.
- Mário Rost, 62, nascido em Ijuí, RS, graduado em Teologia pelo Seminário Concórdia de Porto Alegre, RS, e Letras pela Universidade de São Paulo (USP), é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) e Gerente de Desenvolvimento Institucional da Sociedade Bíblica do Brasil (“Engajamento com a Bíblia”).
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