Opinião
- 11 de outubro de 2022
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Quem são os pacificadores
Por Ivan Abreu Figueiredo
Tal como um imã tornam-se algumas passagens da Palavra. Desperto pensando mais uma vez no Sermão do Monte, especificamente em Mateus 5, verso 9: "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus".
Tempos belicosos como os atuais ressaltam a importância dessa benção que não deixa de ser uma advertência. Dói muito a identificação do evangelho com um ativismo irrefletido em que a um patriotismo distorcido se junta o divisionismo atroz, o desprezo ao outro, a recusa a pelo menos tentar escutar suas razões e opiniões, a falta de escrúpulos em usar quaisquer meios para atingir objetivos.
O chamado a sermos pacificadores tem um cheiro de profissão de fé nas flores vencendo o canhão, como dito numa antiga canção popular.
Volto à infância, ao abraço paterno e materno que acalmaram tantas vezes, às mãos que conduzem crianças inquietas ao sono reparador, ajustando os lençóis do berço ou cama de descanso. Pulo para nossa inevitável tendência a buscar com quem se parecem bebês, crianças ou até adultos que chegamos a conhecer, afirmando serem "a cara" ou pelo menos terem traços característicos de filiação aos ascendentes. E aí o versículo se reveste de uma encantadora associação de ideias, na qual ao sermos pacificadores damos bandeira de nossa filiação e conexão visceral com o Pai, sendo dignos de ser reconhecidos e chamados seus filhos.
Cito agora John Stott, ao afirmar ficar "mais que explícito, através dos ensinamentos de Jesus a seus apóstolos, que jamais deveríamos nós mesmos procurar o conflito ou ser responsáveis por ele. Pelo contrário, somos chamados para pacificar, devemos ativamente ‘buscar’ a paz, ‘seguir a paz com todos’ e, até onde depender de nós, ‘ter paz com todos os homens’”
Emerge outra citação, agora dos Provérbios, segundo a qual "a palavra branda desvia o furor" (15.1), realidade que já vimos em ação muitas vezes desarmando as ciladas do ódio e discórdia.
O alinhamento de cristãos a um estado febril permanente de confronto marcado por insultos a quem pensa diferente e à idolatria cega que dá um cheque em branco permitindo todo tipo de rebaixamento de valores a líderes de ocasião com roupagem de defesa da fé é na verdade uma traição aos seus princípios.
Não é através desse tipo de alinhamento que se reconhecem os seguidores de Jesus. Seus rostos não trazem os traços duros nem as expressões hostis dos excessivamente ocupados em achincalhar oponentes reais ou imaginários. Os traços da filiação ao Pai, pelo contrário, suavizam nossos cenhos cansados dos embates cotidianos. Nossa conexão com Ele tinge nossas vozes de terna serenidade e firmeza na defesa de valores pelos quais vale a pena lutar. E nos capacita com força para opor-se à corrente de discórdia que grita tentando sequestrar para si as noções de pátria e família.
Os pacificadores servem ao país no florescer de seu trabalho ao levar cidadania aos necessitados, sem alarde, só pelo prazer de obedecer ao Pai. Sabem que promover a paz passa até pela incompreensão de muitos, mas seguem impávidos.
Aí, se alguém perceber em nós traços dEle, que coisa boa!
O livro de Stott que citei se chama Contracultura Cristã1, foi publicado há quase 50 anos, e reveste-se de muita atualidade no momento que estamos vivendo. Parecer-se com o Pai é de fato desenvolver uma cultura oposta aos "valores" grosseiros deste mundo.
Nota
1. Ultimato publicou a versão condensada de Contracultura Cristã: Lendo o Sermão do Monte com John Stott.
OS CRISTÃOS E O BEM COMUM – O QUE FAZ A VIDA SER BOA PARA TODOS? (JR 29.7)
O subtítulo da matéria de capa traz uma pergunta crucial: o que faz a vida ser boa para todos? A pergunta é crucial pelas respostas, mas também – e antes de tudo – por causa daqueles que fazem a pergunta. Quem faz este tipo de pergunta pensa além de si e de sua “tribo”. Quem pensa nos outros e se importa com eles compartilha da natureza de seu Pai misericordioso e justo.
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Ivan Abreu Figueiredo, médico, professor universitário, membro da Igreja Batista Plenitude, São Luís, MA.
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