Opinião
- 29 de agosto de 2019
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Quem precisa de um casamento criativo?
Por Pedro Dulci
Se eu disser que um casamento tem que ser criativo, o que você pensaria? “Novidades”, com certeza, aparecia em sua mente. Criativo é aquele casal que sempre “cria" para inovar sua rotina. “Monótono” é o casamento que não é criativo.
Essa imagem de criatividade nos joga em uma tirania da novidade. Ela faz parecer absolutamente tedioso para um casal viver com o mesmo cônjuge por décadas. A busca incansável por um casamento constantemente criativo esconde um medo terrível: da monotonia de uma vida presa a um relacionamento desinteressante.
O desastre é ainda maior quando essa imagem é transposta para a igreja. Não são poucos os que tiveram suas vidas conjugais feridas por instruções equivocadas que receberam nos famigerados encontros para casais.
Pregadores engraçadinhos entretêm a comunidade com piadas cheias de estereótipos e pornografia leve. O desespero da tirania da novidade adentra à igreja em aconselhamentos que orientam a busca por novidades que apimentem os matrimônios.
Eu não quero um casamento criativo.
Não com essa imagem de criatividade. Eu aprendi com C. S. Lewis, no livro A Imagem Descartada (Ed. É Realizações), que a tirania da novidade é uma característica da modernidade. Os artistas medievais, mergulhados na visão de mundo cristã, não tinham essa imagem de criatividade. Não tentavam criar significado para as obras. A beleza e a criatividade eram sinais, elas apontavam para onde o significado estava – em Deus.
Precisamos renovar as imagens do casamento. Carecemos de uma imaginação governada por imagens bíblicas. Só assim recuperaremos uma criatividade que não fica desesperada para dar novos significados à velha relação, mas que encontra todo o sentido do casamento na aliança de Deus com seu povo.
Esse é o meio de nos desvencilharmos da teologia da prosperidade afetiva que perpassa cursos de noivos e encontros para casais. Encontraremos no evangelho a estrutura, a beleza e o mistério da relação conjugal que tem na entrega de Jesus e na submissão da Igreja seus parâmetros. A esperança estará na nova vida em Cristo e não nos novos brinquedos do sex shop.
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Autor de Fé Cristã e Ação Política, Pedro Lucas Dulci, é filósofo e pastor presbiteriano. Casado com Carolinne e pai de Benjamin, desenvolve pesquisa em ética e filosofia política contemporânea e estudos sobre o diálogo entre ciência e religião, com estágio na Vrije Universiteit Amsterdam. É teólogo e coordenador pedagógico no Invisible College.
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