Opinião
- 21 de dezembro de 2023
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Que novidade esperar do novo ano?
Por William (Billy) Lane
Todos os anos passamos por essa mesma experiência: encerramos um ano com gratidão e olhamos para frente para o Novo Ano, que não é apenas novo por ser mais um ano, mas um do qual se esperam novas realizações. Os mais otimistas esperam grandes novidades e novas experiências do ano que se inicia. Os mais céticos ou pessimistas, não esperam muito. Se conformam com o fato de que o novo ano não trará nada de novo, apenas as mesmas rotinas, mesmas frustrações, mesmas amizades até que se consumam os 365 dias.
É verdade. Muito de nossa vida transcorre em uma sucessão de repetidos afazeres. As mesmas tarefas, os mesmos lugares, as mesmas amizades, a mesma igreja e muitas das mesmas experiências e vivências não parecem propiciar nada novo. Apesar de ocasionalmente mudarmos para um novo emprego, escola ou cidade, prevalecem as palavras do “Pregador”, o “Mestre”, o autor do livro bíblico de Eclesiastes, as quais reverberam esse sentimento: “O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol. Haverá algo de que se possa dizer: ‘Veja! Isto é novo!’? Não! Já existiu há muito tempo, bem antes da nossa época” (Ec 1.9-10, NVI).
Talvez a grande novidade de um novo ano é que ao se encerrar um ciclo e recomeçar outro, nossas forças são revigoradas para ‘começar de novo’ tudo outra vez. Acreditamos que pelo nosso esforço e trabalho podemos realizar coisas novas, mesmo sabendo das palavras do Pregador de que depois de avaliar “tudo o que as minhas mãos haviam feito e o trabalho que eu tanto me esforçara para realizar, percebi que tudo foi inútil, foi correr atrás do vento” (Ec 2.11a, NVI).
No entanto, a perspectiva judaica e cristã da história não é de um ciclo infindável e recorrente de fatos e vivências. Ainda que a natureza e a vida humana tenham os seus ciclos, a história caminha para um fim, um propósito. Por isso, o Pregador também diz: “Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu” (Ec 3.1). Deus fez “tudo apropriado ao seu tempo” (Ec 3.11a).
A mesmice do corriqueiro pode trazer para alguns enfado e até desespero. Porém, é justamente na repetição do mesmo que podemos estar mais atentos à novidade criativa do agir de Deus em nossas vidas. O Pregador diz que Deus “Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade” (Ec 3.11b) e, de certo modo, apesar de o ser humano não conseguir “compreender inteiramente o que Deus fez” (Ec 3.11c), é o conhecimento, o discernimento, o descortinar do propósito de Deus que renova nossas vidas a cada dia. Mesmo sabendo que “Aquilo que é, já foi, e o que será, já foi anteriormente” (Ec 3.15a), como o Pregador, podemos ter certeza de que “tudo o que Deus faz permanecerá para sempre; a isso nada se pode acrescentar, e disso nada se pode tirar. Deus assim faz para que os homens o temam” (Ec 3.14).
O ano será novo não só quando reiniciar o calendário, mas será novo, sobretudo, à medida que conseguirmos discernir a novidade do agir de Deus na nossa vida pessoal, familiar e eclesiástica, à medida, que conseguirmos nos desgarrar dos nossos vícios, sepultar nossa velha natureza e viver com o Cristo ressurreto em “novidade de vida” (Rm 6.4, ARA).
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Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O propósito bíblico da missão.
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