Opinião
- 01 de agosto de 2024
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Precisamos de novos líderes: Resposta ao clamor do século 21
Parte da liderança é saber quando seguir. É preciso saber quando dar passagem
Por Tim Tucker
Muito se fala, escreve e ensina sobre liderança, mas a carência de excelência na liderança é evidente. Se buscamos uma geração de líderes como Cristo em nossas igrejas e na sociedade, precisamos abandonar a perspectiva secular de liderança e resgatar o modelo apresentado por Jesus. Nossa prioridade é sermos embaixadores de Cristo (2Co 5.20) num mundo que está clamando: precisamos de novos líderes!
Se nosso desejo é desconstruir os paradigmas de liderança do século 21 e reconstruir uma perspectiva de liderança centrada nas prioridades bíblicas em cada igreja e setor, é necessário que ocorram cinco mudanças de paradigma.1
Seguidores em primeiro lugar
Para sermos líderes como Cristo, nossa identidade principal não é a de líder, mas de seguidor. Grandes líderes cristãos são grandes seguidores.
Depois de lavar os pés dos seus discípulos, Jesus nos ensina: “Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz” (Jo 13.15). Suas palavras não significam que, literalmente, devemos encher baldes de água para lavar os pés dos nossos companheiros de trabalho! Jesus dá o exemplo de humildade ao lavar os pés encardidos de seus discípulos perplexos.2 Em outra ocasião, Jesus fala sobre a natureza antagônica de um líder do reino:
"Jesus os chamou e disse: “Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20.25-28).
Aqui, Jesus está desconstruindo o estilo de liderança contemporâneo e revelando, através do seu próprio exemplo, um modelo contracultural. Como escreveu o pastor e teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer: “O chamado ao discipulado não revela outro conteúdo que não seja o próprio Jesus Cristo, a ligação, a comunhão com ele. Porém, a existência do discípulo não consiste na veneração entusiástica de um bom Mestre, mas sim na obediência ao Filho de Deus”.3
Proponho que nos concentremos mais em sermos excelentes seguidores, e não em sermos líderes. Nossa eficácia como líderes será diretamente proporcional ao fato de sermos seguidores do líder-mestre, Jesus Cristo, guiados pelo Espírito.4
Podemos ver a personificação desse princípio no apóstolo Paulo, que exortou a igreja de Corinto dizendo: “Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo” (1Co 11.1). É inquestionável que Paulo tenha sido o maior líder cristão de todos os tempos porque foi o mais notável seguidor [de Cristo] da história cristã. Como conclui Afrika Mhlophe: “Um líder cristão eficaz é alguém que imita publicamente a vida de Jesus”.5
Caráter vem antes de carisma, competência e credenciais
Bono, o principal vocalista do U2, entende sobre sucesso. Sua banda vendeu 175 milhões de discos em todo o mundo ao longo de cinco décadas. Em sua autobiografia, Surrender, Bono adverte: “O sucesso deve vir acompanhado de um alerta de saúde – para os workaholics e para os que os cercam”.6 O perigo do sucesso é que ele pode corromper o caráter e levar a concessões que colocam em risco nosso testemunho como seguidores de Cristo.7
A quantidade de líderes sem caráter cresce de forma desenfreada no mundo de hoje, tanto fora como dentro da igreja. Um mundo cada vez mais conectado, associado à crescente popularidade do entretenimento estilo reality-show, tem promovido uma cultura de culto à celebridade. Lamentavelmente, essa cultura em que líderes conquistam seguidores através do seu perfil público, sem responder por suas vidas privadas, infiltrou-se na igreja.8
Eu creio que o caráter continua sendo a principal prioridade para os líderes:
Caráter vem antes de carisma: o carisma pode conquistar seguidores, mas, sem caráter, as pessoas podem ser prejudicadas por líderes que buscam suas próprias ambições egoístas.
Caráter vem antes de competência: os líderes devem procurar crescer em múltiplas áreas de competência; mas a competência sem caráter pode levar ao orgulho, a mais destrutiva influência sobre um líder.
Caráter vem antes de credenciais: qualificações e títulos podem significar credibilidade, mas permanecem em segundo plano em relação ao caráter do líder, que deve ser prioritariamente como o de Cristo, que depende de Deus, e não de suas credenciais.9
Gosto da forma como Yaw Perbi e Sam Ngugi expõem o que isso significa na prática: “Chegou a hora de ser total e inquestionavelmente fidedigno, responsável, confiável e honesto com o tempo, os recursos e as responsabilidades. A integridade transformará os nossos ministérios, as nossas sociedades e acelerará o evangelho entre as nações”.10
Perseverança sim, plataforma não
Francis Chan, recentemente, abriu uma conferência dizendo: “Este é um lugar muito perigoso para se estar […] é verdade, eu me refiro ao palco”. Ele afirma que pisar no palco é sempre como tomar um pouco de veneno.11
Ele tem razão! Nada pode colocar o caráter em maior perigo do que a adulação de fãs. Não importa se num palco diante de milhares de pessoas ou numa plataforma de mídia social onde podemos influenciar milhões. Pode ser tóxico, viciante e perigoso. Se nos concentrarmos na plataforma, é pouco provável que perseveremos como líderes cristãos. “Como líder cristão, o desafio é reconhecer que Jesus é a atração principal, e não você”.12
Os líderes centrados em Cristo não devem concentrar-se na popularidade e na aclamação do mundo, mas na perseverança fiel em todos os momentos da vida. Jesus é exemplo dessa fidelidade quando, no jardim do Getsêmani, pediu a Deus que removesse o fardo da cruz, mas ainda teve fé para dizer: “Não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42). A submissão a Deus é essencial para nos tornarmos líderes fiéis e perseverantes. Jesus olhou além da dor e do sofrimento, concentrando-se no prêmio: nossa salvação e restauração a Deus.13
Plataformas vêm e vão, a popularidade aumenta e diminui, mas a obra do Senhor permanece.14 O desafio é: seremos perseverantes e fiéis quando ninguém estiver olhando? Poderemos afirmar como Paulo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4.7)?
Interdependência sim, independência não
Durante um safari numa reserva de caça nos arredores de Nairobi, meus amigos quenianos avistaram um búfalo solitário e me alertaram do perigo. Mais tarde, li que os búfalos solitários têm mais probabilidade de atacar os caçadores do que recuar, pois não contam com a segurança do rebanho.
O líder solitário que luta sozinho por sua causa é um mito. Na realidade, um líder solitário é um líder perigoso. A independência não é uma virtude a ser cobiçada. Os líderes que são como Cristo devem ser responsáveis, transparentes e interdependentes. Se liderarmos do alto de uma torre de marfim, seremos um risco para nós mesmos, para aqueles que lideramos e para o próprio evangelho.
Parte integrante da liderança como a de Cristo é o reconhecimento de que também precisamos seguir outros. Devemos nutrir, de forma intencional, a disposição de renunciar a uma posição de liderança em favor de alguém que seja mais adequado para liderar numa situação específica. A liderança cristã não deve estar vinculada a hierarquias ou títulos. Trata-se, sim, de ter um coração humilde. Paulo simplesmente escreve: “Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo” (Ef 5.21).
O livro Upside Down, de Stacy Rinehart, me ajudou muito. Ele escreve:
“Praticamos a submissão mútua e somos rápidos em nos submeter uns aos outros […] Cada pessoa tem uma função e, quando essa função é necessária, essa pessoa se torna nosso líder […] Neste sentido, cada crente pode ser um líder na área do seu dom particular. Por outro lado, todo crente e líder também é um seguidor.”15
Outro autor afirma simplesmente: “Parte da liderança é saber quando seguir. Você precisa saber quando dar passagem.’16
Os outros, não eu mesmo
Nick Vujicic escreve: “Uma parte considerável do nosso mundo consiste em buscar conforto em vez de oferecê-lo. Ficamos facilmente tão envolvidos na busca da nossa própria felicidade que nos esquecemos de um dos principais mandamentos de Deus: a verdadeira felicidade vem de servir ao Senhor e a seus filhos”.17
Em resumo, a liderança como a de Cristo não tem você como foco!18 O grande evangelista Luis Palau coloca desta forma: “A medida do nosso serviço [aos outros] é a medida da nossa grandeza aos olhos de Deus”. 19
Essa é a chave! Não servimos aos outros para sermos vistos como grandes. Servimos porque seguimos o maior Servo de todos. Ou seja, isso é adoração. “O ministério não é uma tarefa, um programa ou uma produção. É um ato de adoração da parte de pessoas que reconhecem que a grande misericórdia de Deus as redimiu para um relacionamento com ele, para uma vida sacrificial e para o serviço aos outros”.20
A ambição egoísta opõe-se à liderança como a de Cristo. Devemos nos esforçar para agradar nosso Mestre servindo aos outros de modo sacrificial. Creio que esse seja o caminho para uma liderança frutífera, que será abençoada por Deus e renderá a ele toda a glória.
Em resumo, os líderes como Cristo devem esforçar-se para serem seguidores de Jesus que procuram desenvolver um caráter temente a Deus, perseverar apesar da oposição do mundo, buscar a interdependência com crentes que pensam da mesma forma e defender as necessidades dos outros acima das suas próprias. Espero que você procure ambiciosamente ser esse tipo de líder e ore para que esse tipo de líder surja em cada igreja e setor.
Notas
1. Muitas dessas lições aprendi servindo no The Message Trust, no despertamento de líderes transformacionais que não estão sob os holofotes públicos, mas que servem a Cristo sem chamar atenção, veja www.messageglobal.org.
2. Cf. Fl 2.3-8.
3. Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship (Londres, United Kingdom: SCM Press, 1959), 66.
4. Gosto da forma como Dallas Willard confirma a singularidade de Jesus: “Ele não é apenas legal, é brilhante. É o homem mais inteligente que já existiu. Hoje supervisiona o curso de toda a história mundial (Ap 1.5) enquanto simultaneamente prepara o restante do universo para o nosso futuro papel nele (Jo 14.2). Ele sempre tem as melhores informações sobre tudo e certamente também sobre todos os aspectos da vida humana”. Dallas Willard, The Divine Conspiracy (Nova York, NY: Harper Collins,2009), 110.
5. Afrika Mhlophe, A Passion for Position (Cidade do Cabo, África do Sul: Struik Christian Media, 2018), 216.
6. Bono, Surrender (Nova York City, NY: Knopf, 2022), 4.
7. Veja em Filipenses 2.5-11 o poema clássico de Paulo exaltando as virtudes da humildade de Cristo. Observe também Romanos 5.3-5 e Hebreus 12.4-11 que mostram claramente que o caráter cristão é formado no enfrentamento de duras dificuldades.
8. É de John Wooden a conhecida frase: “Preocupe-se mais com seu caráter do que com sua reputação, porque seu caráter é o que você realmente é, enquanto sua reputação é apenas o que os outros pensam que você é”. Citado em Brian D Biro, Beyond Success (Nova York City, NY: Berkley Publishing Group, 1977), xviii.
9. Outras considerações sobre as marcas do caráter cristão: https://www.biblicalleadership.com/resources/9-marks-of-the-character-of-a-servant-leader/
10. Yaw Perbi & Sam Ngugi, Africa to the Rest (Maitland, FL: Xulon Press, 2022), 91.
11. The Power of a Quiet Life | Francis Chan (youtube.com).
12. Afrika Mhlophe, A Passion for Position (Cidade do Cabo, África do Sul: Struik Christian Media, 2018), 216 e veja Colossenses 3.17.
13. Veja Hebreus 12.2. ”Porque ele jamais perdeu o alvo de vista — aquele fim jubiloso com Deus. Ele foi capaz de vencer tudo pelo caminho: a cruz, a vergonha, tudo mesmo”. (Bíblia A Mensagem).
14. Jesus conhecia a natureza inconstante das multidões, compare João 12.12–13 e João 19.15.
15. Stacy T. Rinehart, Upside Down (Carol Stream, IL: Navpress, 1998) 93, 106.
16. Em George Barna, Master Leaders (Carol Stream, IL: Tyndale House Publishers, 2009), 88.
17. Nick Vujicic, Unstoppable (Colorado Springs, CO: WaterBrook Press, 2012), 208.
18. Adaptação da frase do bestseller de Rick Warren The Purpose Driven Life (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2002).
19. Luis Palau e Paul J. Pastor, A Life on Fire (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2019), 111.
20. Rinehart 1998:118.
Artigo publicado no site Movimento Lausanne. Reproduzido com permissão.
REVISTA ULTIMATO | PARA QUE SERVE A TEOLOGIA?
A resposta à pergunta “Para que serve a teologia?” revela que ela serve a Deus, exaltando-o como Senhor. Serve a igreja, ajudando-a a conhecer e a adorar seu Deus. Serve o mundo, revelando a verdadeira fonte de sabedoria, beleza, sentido e salvação.
A teologia é resultado de esforço acadêmico e também do convívio singular entre cristãos; envolve profundo estudo, mas também ocorre na singela e comprometida leitura das Escrituras. Depende do Espírito, por isso implica humildade. Ajuda a conhecer a Deus e a amá-lo.
É disso que trata a matéria de capa da edição 408 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» A Grande História - Um Convite para Professores Cristãos, Rick Hove, Heather Holleman
» Desafios da Liderança Cristã, John Stott
» O Discipulado na Igreja Local, Randy Pope e Kitti Murray
Por Tim Tucker
Muito se fala, escreve e ensina sobre liderança, mas a carência de excelência na liderança é evidente. Se buscamos uma geração de líderes como Cristo em nossas igrejas e na sociedade, precisamos abandonar a perspectiva secular de liderança e resgatar o modelo apresentado por Jesus. Nossa prioridade é sermos embaixadores de Cristo (2Co 5.20) num mundo que está clamando: precisamos de novos líderes!
Se nosso desejo é desconstruir os paradigmas de liderança do século 21 e reconstruir uma perspectiva de liderança centrada nas prioridades bíblicas em cada igreja e setor, é necessário que ocorram cinco mudanças de paradigma.1
Seguidores em primeiro lugar
Para sermos líderes como Cristo, nossa identidade principal não é a de líder, mas de seguidor. Grandes líderes cristãos são grandes seguidores.
Depois de lavar os pés dos seus discípulos, Jesus nos ensina: “Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz” (Jo 13.15). Suas palavras não significam que, literalmente, devemos encher baldes de água para lavar os pés dos nossos companheiros de trabalho! Jesus dá o exemplo de humildade ao lavar os pés encardidos de seus discípulos perplexos.2 Em outra ocasião, Jesus fala sobre a natureza antagônica de um líder do reino:
"Jesus os chamou e disse: “Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20.25-28).
Aqui, Jesus está desconstruindo o estilo de liderança contemporâneo e revelando, através do seu próprio exemplo, um modelo contracultural. Como escreveu o pastor e teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer: “O chamado ao discipulado não revela outro conteúdo que não seja o próprio Jesus Cristo, a ligação, a comunhão com ele. Porém, a existência do discípulo não consiste na veneração entusiástica de um bom Mestre, mas sim na obediência ao Filho de Deus”.3
Proponho que nos concentremos mais em sermos excelentes seguidores, e não em sermos líderes. Nossa eficácia como líderes será diretamente proporcional ao fato de sermos seguidores do líder-mestre, Jesus Cristo, guiados pelo Espírito.4
Podemos ver a personificação desse princípio no apóstolo Paulo, que exortou a igreja de Corinto dizendo: “Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo” (1Co 11.1). É inquestionável que Paulo tenha sido o maior líder cristão de todos os tempos porque foi o mais notável seguidor [de Cristo] da história cristã. Como conclui Afrika Mhlophe: “Um líder cristão eficaz é alguém que imita publicamente a vida de Jesus”.5
Caráter vem antes de carisma, competência e credenciais
Bono, o principal vocalista do U2, entende sobre sucesso. Sua banda vendeu 175 milhões de discos em todo o mundo ao longo de cinco décadas. Em sua autobiografia, Surrender, Bono adverte: “O sucesso deve vir acompanhado de um alerta de saúde – para os workaholics e para os que os cercam”.6 O perigo do sucesso é que ele pode corromper o caráter e levar a concessões que colocam em risco nosso testemunho como seguidores de Cristo.7
A quantidade de líderes sem caráter cresce de forma desenfreada no mundo de hoje, tanto fora como dentro da igreja. Um mundo cada vez mais conectado, associado à crescente popularidade do entretenimento estilo reality-show, tem promovido uma cultura de culto à celebridade. Lamentavelmente, essa cultura em que líderes conquistam seguidores através do seu perfil público, sem responder por suas vidas privadas, infiltrou-se na igreja.8
Eu creio que o caráter continua sendo a principal prioridade para os líderes:
Caráter vem antes de carisma: o carisma pode conquistar seguidores, mas, sem caráter, as pessoas podem ser prejudicadas por líderes que buscam suas próprias ambições egoístas.
Caráter vem antes de competência: os líderes devem procurar crescer em múltiplas áreas de competência; mas a competência sem caráter pode levar ao orgulho, a mais destrutiva influência sobre um líder.
Caráter vem antes de credenciais: qualificações e títulos podem significar credibilidade, mas permanecem em segundo plano em relação ao caráter do líder, que deve ser prioritariamente como o de Cristo, que depende de Deus, e não de suas credenciais.9
Gosto da forma como Yaw Perbi e Sam Ngugi expõem o que isso significa na prática: “Chegou a hora de ser total e inquestionavelmente fidedigno, responsável, confiável e honesto com o tempo, os recursos e as responsabilidades. A integridade transformará os nossos ministérios, as nossas sociedades e acelerará o evangelho entre as nações”.10
Perseverança sim, plataforma não
Francis Chan, recentemente, abriu uma conferência dizendo: “Este é um lugar muito perigoso para se estar […] é verdade, eu me refiro ao palco”. Ele afirma que pisar no palco é sempre como tomar um pouco de veneno.11
Ele tem razão! Nada pode colocar o caráter em maior perigo do que a adulação de fãs. Não importa se num palco diante de milhares de pessoas ou numa plataforma de mídia social onde podemos influenciar milhões. Pode ser tóxico, viciante e perigoso. Se nos concentrarmos na plataforma, é pouco provável que perseveremos como líderes cristãos. “Como líder cristão, o desafio é reconhecer que Jesus é a atração principal, e não você”.12
Os líderes centrados em Cristo não devem concentrar-se na popularidade e na aclamação do mundo, mas na perseverança fiel em todos os momentos da vida. Jesus é exemplo dessa fidelidade quando, no jardim do Getsêmani, pediu a Deus que removesse o fardo da cruz, mas ainda teve fé para dizer: “Não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42). A submissão a Deus é essencial para nos tornarmos líderes fiéis e perseverantes. Jesus olhou além da dor e do sofrimento, concentrando-se no prêmio: nossa salvação e restauração a Deus.13
Plataformas vêm e vão, a popularidade aumenta e diminui, mas a obra do Senhor permanece.14 O desafio é: seremos perseverantes e fiéis quando ninguém estiver olhando? Poderemos afirmar como Paulo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4.7)?
Interdependência sim, independência não
Durante um safari numa reserva de caça nos arredores de Nairobi, meus amigos quenianos avistaram um búfalo solitário e me alertaram do perigo. Mais tarde, li que os búfalos solitários têm mais probabilidade de atacar os caçadores do que recuar, pois não contam com a segurança do rebanho.
O líder solitário que luta sozinho por sua causa é um mito. Na realidade, um líder solitário é um líder perigoso. A independência não é uma virtude a ser cobiçada. Os líderes que são como Cristo devem ser responsáveis, transparentes e interdependentes. Se liderarmos do alto de uma torre de marfim, seremos um risco para nós mesmos, para aqueles que lideramos e para o próprio evangelho.
Parte integrante da liderança como a de Cristo é o reconhecimento de que também precisamos seguir outros. Devemos nutrir, de forma intencional, a disposição de renunciar a uma posição de liderança em favor de alguém que seja mais adequado para liderar numa situação específica. A liderança cristã não deve estar vinculada a hierarquias ou títulos. Trata-se, sim, de ter um coração humilde. Paulo simplesmente escreve: “Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo” (Ef 5.21).
O livro Upside Down, de Stacy Rinehart, me ajudou muito. Ele escreve:
“Praticamos a submissão mútua e somos rápidos em nos submeter uns aos outros […] Cada pessoa tem uma função e, quando essa função é necessária, essa pessoa se torna nosso líder […] Neste sentido, cada crente pode ser um líder na área do seu dom particular. Por outro lado, todo crente e líder também é um seguidor.”15
Outro autor afirma simplesmente: “Parte da liderança é saber quando seguir. Você precisa saber quando dar passagem.’16
Os outros, não eu mesmo
Nick Vujicic escreve: “Uma parte considerável do nosso mundo consiste em buscar conforto em vez de oferecê-lo. Ficamos facilmente tão envolvidos na busca da nossa própria felicidade que nos esquecemos de um dos principais mandamentos de Deus: a verdadeira felicidade vem de servir ao Senhor e a seus filhos”.17
Em resumo, a liderança como a de Cristo não tem você como foco!18 O grande evangelista Luis Palau coloca desta forma: “A medida do nosso serviço [aos outros] é a medida da nossa grandeza aos olhos de Deus”. 19
Essa é a chave! Não servimos aos outros para sermos vistos como grandes. Servimos porque seguimos o maior Servo de todos. Ou seja, isso é adoração. “O ministério não é uma tarefa, um programa ou uma produção. É um ato de adoração da parte de pessoas que reconhecem que a grande misericórdia de Deus as redimiu para um relacionamento com ele, para uma vida sacrificial e para o serviço aos outros”.20
A ambição egoísta opõe-se à liderança como a de Cristo. Devemos nos esforçar para agradar nosso Mestre servindo aos outros de modo sacrificial. Creio que esse seja o caminho para uma liderança frutífera, que será abençoada por Deus e renderá a ele toda a glória.
Em resumo, os líderes como Cristo devem esforçar-se para serem seguidores de Jesus que procuram desenvolver um caráter temente a Deus, perseverar apesar da oposição do mundo, buscar a interdependência com crentes que pensam da mesma forma e defender as necessidades dos outros acima das suas próprias. Espero que você procure ambiciosamente ser esse tipo de líder e ore para que esse tipo de líder surja em cada igreja e setor.
Notas
1. Muitas dessas lições aprendi servindo no The Message Trust, no despertamento de líderes transformacionais que não estão sob os holofotes públicos, mas que servem a Cristo sem chamar atenção, veja www.messageglobal.org.
2. Cf. Fl 2.3-8.
3. Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship (Londres, United Kingdom: SCM Press, 1959), 66.
4. Gosto da forma como Dallas Willard confirma a singularidade de Jesus: “Ele não é apenas legal, é brilhante. É o homem mais inteligente que já existiu. Hoje supervisiona o curso de toda a história mundial (Ap 1.5) enquanto simultaneamente prepara o restante do universo para o nosso futuro papel nele (Jo 14.2). Ele sempre tem as melhores informações sobre tudo e certamente também sobre todos os aspectos da vida humana”. Dallas Willard, The Divine Conspiracy (Nova York, NY: Harper Collins,2009), 110.
5. Afrika Mhlophe, A Passion for Position (Cidade do Cabo, África do Sul: Struik Christian Media, 2018), 216.
6. Bono, Surrender (Nova York City, NY: Knopf, 2022), 4.
7. Veja em Filipenses 2.5-11 o poema clássico de Paulo exaltando as virtudes da humildade de Cristo. Observe também Romanos 5.3-5 e Hebreus 12.4-11 que mostram claramente que o caráter cristão é formado no enfrentamento de duras dificuldades.
8. É de John Wooden a conhecida frase: “Preocupe-se mais com seu caráter do que com sua reputação, porque seu caráter é o que você realmente é, enquanto sua reputação é apenas o que os outros pensam que você é”. Citado em Brian D Biro, Beyond Success (Nova York City, NY: Berkley Publishing Group, 1977), xviii.
9. Outras considerações sobre as marcas do caráter cristão: https://www.biblicalleadership.com/resources/9-marks-of-the-character-of-a-servant-leader/
10. Yaw Perbi & Sam Ngugi, Africa to the Rest (Maitland, FL: Xulon Press, 2022), 91.
11. The Power of a Quiet Life | Francis Chan (youtube.com).
12. Afrika Mhlophe, A Passion for Position (Cidade do Cabo, África do Sul: Struik Christian Media, 2018), 216 e veja Colossenses 3.17.
13. Veja Hebreus 12.2. ”Porque ele jamais perdeu o alvo de vista — aquele fim jubiloso com Deus. Ele foi capaz de vencer tudo pelo caminho: a cruz, a vergonha, tudo mesmo”. (Bíblia A Mensagem).
14. Jesus conhecia a natureza inconstante das multidões, compare João 12.12–13 e João 19.15.
15. Stacy T. Rinehart, Upside Down (Carol Stream, IL: Navpress, 1998) 93, 106.
16. Em George Barna, Master Leaders (Carol Stream, IL: Tyndale House Publishers, 2009), 88.
17. Nick Vujicic, Unstoppable (Colorado Springs, CO: WaterBrook Press, 2012), 208.
18. Adaptação da frase do bestseller de Rick Warren The Purpose Driven Life (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2002).
19. Luis Palau e Paul J. Pastor, A Life on Fire (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2019), 111.
20. Rinehart 1998:118.
- Tim Tucker é diretor de desenvolvimento da África na The Message Trust e escritor. Tucker tem doutorado em Teologia Prática pela North-West University e o desenvolvimento de líderes é uma de suas paixões. Casado com Christina com quem tem quatro filhos, vive na Cidade do Cabo, África do Sul.
Artigo publicado no site Movimento Lausanne. Reproduzido com permissão.
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A resposta à pergunta “Para que serve a teologia?” revela que ela serve a Deus, exaltando-o como Senhor. Serve a igreja, ajudando-a a conhecer e a adorar seu Deus. Serve o mundo, revelando a verdadeira fonte de sabedoria, beleza, sentido e salvação.
A teologia é resultado de esforço acadêmico e também do convívio singular entre cristãos; envolve profundo estudo, mas também ocorre na singela e comprometida leitura das Escrituras. Depende do Espírito, por isso implica humildade. Ajuda a conhecer a Deus e a amá-lo.
É disso que trata a matéria de capa da edição 408 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» A Grande História - Um Convite para Professores Cristãos, Rick Hove, Heather Holleman
» Desafios da Liderança Cristã, John Stott
» O Discipulado na Igreja Local, Randy Pope e Kitti Murray
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Ricardo Barbosa