Opinião
- 02 de dezembro de 2019
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Precisamos de mais Georges Müllers e tias Dejas
Por Délnia Bastos
Com 87 anos, todos os dias da semana, às 10 e pouco da manhã1, nossa mãe, carinhosamente conhecida por tia Deja, recebe um ou mais colaboradores da Editora Ultimato para ouvir seus pedidos de oração e os pedidos relacionados à Ultimato e interceder por eles. Alguns pedidos são escritos e colocados numa caixinha. Este passou a ser o seu ministério principal desde que meu pai foi promovido para a glória três anos atrás. Minha irmã Klênia, diretora da Ultimato, organizou uma escala, de modo que isso agora faz parte da rotina da Editora. Aliás, quarta-feira é o dia dela e de dois cunhados (um deles meu esposo) participarem da escala. Minha mãe fala, toda importante: “Hoje é dia de orar com os diretores”.
Eu sempre valorizei a intercessão. Mas, confesso, nunca tinha me atentado para o fato de que ser intercessor é ser mais semelhante a Cristo. Sabemos que ser bondoso, perdoar, exercer paciência na provação – tudo isso significa semelhança a Cristo. Mas nunca tinha me ocorrido a questão da intercessão.
A Bíblia diz que temos um forte intercessor junto ao Pai (Lc 22.32; Rm 8.34; Hb 7.25)2. Jesus intercedeu muitas vezes em sua vida na Terra. Na Oração Sacerdotal, ele intercedeu por seus discípulos e por aqueles que se tornariam discípulos no futuro – ou seja, intercedeu até por nós! Jesus intercedeu por Pedro para que sua fé não esmorecesse por completo, quando ele passasse pela peneira de Satanás (Lc 22.31-32). Mesmo na sua hora mais difícil, no Jardim do Getsêmani, Jesus intercedeu por seus discípulos que estavam dormindo de tristeza (Lc 22.45). A Bíblia também afirma que o Espírito Santo intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26-27).
No caso de Pedro, Jesus intercedeu por ele e depois deu a ele a missão de interceder pelas ovelhas do rebanho: “tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos” (Lc 22.32); “apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21.15-17). Sem dúvida, uma das formas de apascentar ou cuidar do rebanho é intercedendo por ele. Pedro obedeceu, de “intercedido” transformou-se em “intercessor”. Tanto que, muito tempo depois, ele recomendou o mesmo aos outros pastores: “pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós” (1Pe 5.1-4).
Todos precisamos de intercessão e de interceder. A intercessão nos tira do egocentrismo e nos remete à necessidade dos outros, pelos quais devemos orar. A intercessão nos modela a sermos mais parecidos com o nosso Senhor.
Principalmente, nós, adultos, precisamos passar do leite espiritual (permanecermos “intercedidos”) para um alimento mais forte (sermos intercessores fiéis). Devemos lembrar dos jovens, adolescentes e crianças da nossa era que precisam tanto de intercessão! Devemos apresentá-los a Deus, com pedidos específicos por eles: por sua decisão por Cristo, pela perseverança na fé, por livramento de vícios, acidentes, doenças; pelos jovens que têm dedicado sua vocação a Deus. Há tanto para interceder! A lista não tem fim.
A Bíblia tem bons modelos de orações intercessórias. Além dos exemplos já citados e praticados pelo próprio Jesus, temos muitos outros. Somos chamados a interceder uns pelos outros, por mais trabalhadores para a Seara, pela paz na cidade, para que os dias de sofrimento sejam abreviados.
Que tal usarmos essas orações bíblicas e começarmos a praticá-las, principalmente pensando nas gerações seguintes à nossa?
Nossa mãe não foi a primeira a se tornar intercessora “na aposentadoria” (ela, de fato, só aposentou quando meu pai se foi). George Müller, com 70 anos, decidiu que era hora de se aposentar e dedicar-se exclusivamente à intercessão. Conta a história que ele possuía um caderno de notas com mais de 50.000 orações respondidas. Que Deus nos dê muitos George Müllers e tias Dejas que estejam na brecha, intercedendo pelas próximas gerações!
Notas
1. “Nossa” porque é mãe de cinco: minhas quatro irmãs e eu.
2. Inspirado na devocional de 11 de outubro, por Jonathan Simões Freitas. BONTEMPO, Marcos (org.). Refeições diárias: celebrando a reconciliação. Viçosa: Ultimato, 2018.
• Délnia Bastos, casada, mãe de três filhos e avó de um neto, serve na área de governança em algumas iniciativas de missão.
>> Conheça o livro A Missão de Interceder, de Durvalina Bezerra
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