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05 de fevereiro de 2021
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Povo de Deus: quem são os evangélicos e por que eles importam? (resenha)
Resenha
Por Roney de Carvalho Luiz
Juliano Spyer
Geração Editorial, 2020
![Foto: Luis Quintero | Pexels](/image/atualiza_home/principal/ultimas/opiniao/2021/02_fev/opi_05_02_21_roney_carvalho_evangelicos.jpg)
A cada ano, 14 mil igrejas evangélicas são abertas no Brasil e até 2032, continuando nesse ritmo, o número de evangélicos no país será superior ao de católicos. Esse crescimento é percebido em espaços institucionais, no legislativo e executivo, em escolas e nos meios de comunicação ao ponto de o voto evangélico ter sido decisivo nas eleições presidenciais de 2018.
O livro Povo de Deus apresenta os evangélicos de uma maneira que pouca gente vê, inclusive quem professa alguma das diferentes vertentes do protestantismo. A obra revela, sobretudo, a cegueira dos intelectuais, das classes médias e das elites brasileiras diante de um dos fenômenos de transformação social mais relevante no Brasil.
Spyer apontou pontos positivos e negativos do grupo social estudado, mas mostrou aquilo que é lugar-comum para sociólogos e antropólogos que estudam religião: que entrar para a igreja evangélica melhora as condições de vida dos brasileiros mais pobres o que inclui, entre outras coisas: fim do alcoolismo e consequentemente da violência doméstica, fortalecimento da autoestima e da disciplina para o trabalho e aumento do investimento familiar em educação e em cuidados com a saúde.
O livro é iniciado com uma introdução ao protestantismo e às tradições evangélicas pentecostais e neopentecostais. Perceba as fronteiras desses conceitos: protestante - termo ligado às igrejas históricas - e evangélico - termo ligado ao pentecostalismo, pois são tênues e disputadas, mas o consenso posiciona o cristianismo evangélico como fenômeno recente, mas abarcado na história do protestantismo. É importante olhar para esse grupo, pois são a maioria e suas igrejas têm hoje maior impacto no cotidiano dos brasileiros, evangélicos ou não, por causa de sua influência na política e nos meios de comunicação.
Saltaram-me aos olhos o resultado de pesquisas que mostram os evangélicos por perspectivas geralmente desprezadas – principalmente por brasileiros com maior acesso à educação superior – e a crítica de como a carreira política de alguns pastores se torna relevante para religiosos na medida em que as igrejas perdem seu poder de controlar os aspectos morais da sociedade. Para o autor, essa liderança evangélica se coloca na política seguindo aquilo que é conhecido como vocação, mas também, por oportunismo de alguns que se baseiam na defesa de pautas de costumes, geralmente colocando-se como protetores dos valores da família tradicional.
É possível que boa parte dos leitores apressados ou segmentados não entendam muito bem ou tenham dificuldades para assimilar os pressupostos sociológicos que Juliano apresenta no livro de forma nua e crua. Temas complexos como: preconceito de classe; mídia evangélica; religião mais negra do Brasil; traficantes de Jesus, sexualidade, ao mesmo tempo que coloca sobre os evangélicos, em geral, pobres, o signo de rede de proteção de bem-estar social informal, maior igualdade de gênero e incentivo para estudar.
Cabe ainda, no livro, uma crítica à atuação da bancada evangélica porque, diferente do que o nome sugere, esses parlamentares parecem falar em nome de toda comunidade, mas, na verdade, não representam e nem receberam os votos de muitos evangélicos. Mesmo com o crescimento desse grupo parlamentar, que hoje é um dos mais influentes no Planalto, a polarização política e religiosa é acentuada via um projeto de poder, que reduz a tolerância à diversidade e se alia a grupos da elite conservadora como a bancada da bala e a do boi, e em nome da defesa dos costumes não se envolve, enquanto grupo, na defesa de pautas como o combate à corrupção, ações de combate à pobreza e a defesa da justiça social.
![Povo de Deus - Juliano Spyer](/image/atualiza_home/principal/ultimas/por_escrito/2021/02_fev/povo_deus_capa.png)
O conteúdo do livro é interessante ao mostrar que essa generalização cria uma situação de antipatia da sociedade e de falta de diálogo. A força do livro reside na tentativa de ampliar o desconforto do leitor para que ele perceba a existência de um preconceito que também tem a ver com preconceito de classes. E sobretudo, ao lançar luz sobre a complexidade do fenômeno social e religioso dos evangélicos no Brasil, de tal forma que, esse Povo de Deus seja observado de uma maneira mais completa e respeitosa.
• Roney de Carvalho Luiz, coordenador do curso de teologia da Unicesumar.
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