Opinião
- 08 de janeiro de 2015
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Por um 2015 mais imaginativo. O que C. S. Lewis diria?
Muita coisa tem sido dita a cada início de ano sobre promessas, sonhos e projetos para o ano que se inicia, de modo que parece restar pouco a dizer sobre o tema. Eu fico me perguntando o que C. S. Lewis diria, se estivesse vivo, sem pretensão de me igualar a ele.
O ano de 2014 não foi fácil para ninguém: Perdemos a copa, o país foi assolado por escândalos na política, a Dilma foi reeleita, um avião simplesmente desapareceu, muitos cristãos perderam a vida em países dominados pelo islamismo radical. E a economia está à beira da recessão.
Como no artigo “Learning in wartimes” (aprendendo em tempos de Guerra) que Lewis escreveu em plena Segunda Guerra Mundial, certamente ele falaria das virtudes teologais: a fé, a esperança e o amor, por mais paradoxal que poderia parecer falar nisso naqueles tempos. Não vivemos uma guerra mundial, mas uma situação de guerra psicológica e espiritual. Sim, porque estamos cada vez mais dependentes da tecnologia: ninguém larga o celular por mais de cinco minutos, pessoas deixam de conversar para se comunicar pelo “what’s app” e pelo facebook, em que se postam fotos até mesmo das situações mais insignificantes. Essa coisa de postar fotos, que virou uma febre, faz com que as pessoas não olhem mais para as coisas e umas para as outras diretamente, mas só através das lentes.
Isso faz com que vivamos a meio palmo do chão e cada vez mais no mundo virtual e proporcionalmente menos na realidade. Nosso cotidiano é cada vez mais dominado pela tecnologia. Quem não vive “plugado” é considerado jurássico.
Ainda assim, insistia Lewis, temos razão para termos esperança pelo simples fato de pensarmos e por Deus não pedir licença para se revelar, até mesmo através da tecnologia.
Vamos tomar o exemplo do mundo virtual “Second Life”, que já fez sucesso, mas não vingou. Por quê? Porque esse mundo se aproximava demais da vida real. O próprio nome o diz: “vida paralela, virtual”. Com a diferença de que você pode fingir ser outra pessoa, escolhendo um avatar e as suas características e poderes. Você pode voar e tem outros poderes que não tem na vida real. Mas onde fica a imaginação, a criatividade, o fantástico? Uma realidade virtual que é cópia exata da realidade dos fatos se torna desinteressante como meio de entretenimento, pois para se entreter, você costuma buscar escapar da realidade dos fatos. O mesmo vale para os jogos muito realistas e também para os livros e filmes “realistas” demais, como as novelas, que na verdade distorcem a vida real. (Não estou me referindo aos livros e filmes baseados na vida real, pois a vida mesma é imaginativa).
Tolkien costumava dizer que existem três funções do uso da imaginação, principalmente na literatura e mais precisamente nos contos de fada:
1) Proporcionar escape do mundo ordinário. Quando se vai ler um livro ou assistir um filme ou mesmo jogar um jogo virtualmente, o que se está buscando é arejar a cabeça, não no sentido necessariamente de alienação, o que também pode vir a ser o caso, mas no de certo afastamento das coisas do cotidiano, adotando uma posição “de fora” da realidade, e olhando para ela com um óculos diferente. Bruno Bettelheim, em seu clássico Psicanálise dos Contos de Fada, foi o psicanalista que descobriu a importância do distanciamento de um problema para se conseguir trata-lo devidamente. É isso que provocam os contos de fada: uma viagem para um outro mundo, semelhante ao real, principalmente no aspecto ético e moral, mas outro. Assim, eles remetem à transcendência, regada a humor e bom-senso.
2) Proporcionar consolação através da alegria. Normalmente as histórias ou contos de fada possuem uma moral que apela para as virtudes da ética clássica (justiça, prudência, temperança e fortaleza) e mesmo para as virtudes teologais já mencionadas e essa moral tem a capacidade de nos consolar. É por isso que, quando acontece algo que entristece uma criança, um instinto nos diz para lhe contar uma história, para que ela fique mais alegre.
3) Recuperação ou cura. Foi Bettelheim também que descobriu o poder curador das histórias (e eu diria do lúdico em geral), ele que usava os contos de fada para curar crianças com deficiência mental.
É por todos esses motivos que o que eu recomendo para um 2015 mais significativo é que se contem mais histórias, não moralistas, mas efetivamente imaginativas, pois é assim que podemos encontrar esperança em meio às turbulências da sociedade da informação.
Para encerrar cito C.S. Lewis como mensagem de Ano Novo: “As coisas que estão porvir são melhores do que as que para trás ficaram”
O ano de 2014 não foi fácil para ninguém: Perdemos a copa, o país foi assolado por escândalos na política, a Dilma foi reeleita, um avião simplesmente desapareceu, muitos cristãos perderam a vida em países dominados pelo islamismo radical. E a economia está à beira da recessão.
Como no artigo “Learning in wartimes” (aprendendo em tempos de Guerra) que Lewis escreveu em plena Segunda Guerra Mundial, certamente ele falaria das virtudes teologais: a fé, a esperança e o amor, por mais paradoxal que poderia parecer falar nisso naqueles tempos. Não vivemos uma guerra mundial, mas uma situação de guerra psicológica e espiritual. Sim, porque estamos cada vez mais dependentes da tecnologia: ninguém larga o celular por mais de cinco minutos, pessoas deixam de conversar para se comunicar pelo “what’s app” e pelo facebook, em que se postam fotos até mesmo das situações mais insignificantes. Essa coisa de postar fotos, que virou uma febre, faz com que as pessoas não olhem mais para as coisas e umas para as outras diretamente, mas só através das lentes.
Isso faz com que vivamos a meio palmo do chão e cada vez mais no mundo virtual e proporcionalmente menos na realidade. Nosso cotidiano é cada vez mais dominado pela tecnologia. Quem não vive “plugado” é considerado jurássico.
Ainda assim, insistia Lewis, temos razão para termos esperança pelo simples fato de pensarmos e por Deus não pedir licença para se revelar, até mesmo através da tecnologia.
Vamos tomar o exemplo do mundo virtual “Second Life”, que já fez sucesso, mas não vingou. Por quê? Porque esse mundo se aproximava demais da vida real. O próprio nome o diz: “vida paralela, virtual”. Com a diferença de que você pode fingir ser outra pessoa, escolhendo um avatar e as suas características e poderes. Você pode voar e tem outros poderes que não tem na vida real. Mas onde fica a imaginação, a criatividade, o fantástico? Uma realidade virtual que é cópia exata da realidade dos fatos se torna desinteressante como meio de entretenimento, pois para se entreter, você costuma buscar escapar da realidade dos fatos. O mesmo vale para os jogos muito realistas e também para os livros e filmes “realistas” demais, como as novelas, que na verdade distorcem a vida real. (Não estou me referindo aos livros e filmes baseados na vida real, pois a vida mesma é imaginativa).
Tolkien costumava dizer que existem três funções do uso da imaginação, principalmente na literatura e mais precisamente nos contos de fada:
1) Proporcionar escape do mundo ordinário. Quando se vai ler um livro ou assistir um filme ou mesmo jogar um jogo virtualmente, o que se está buscando é arejar a cabeça, não no sentido necessariamente de alienação, o que também pode vir a ser o caso, mas no de certo afastamento das coisas do cotidiano, adotando uma posição “de fora” da realidade, e olhando para ela com um óculos diferente. Bruno Bettelheim, em seu clássico Psicanálise dos Contos de Fada, foi o psicanalista que descobriu a importância do distanciamento de um problema para se conseguir trata-lo devidamente. É isso que provocam os contos de fada: uma viagem para um outro mundo, semelhante ao real, principalmente no aspecto ético e moral, mas outro. Assim, eles remetem à transcendência, regada a humor e bom-senso.
2) Proporcionar consolação através da alegria. Normalmente as histórias ou contos de fada possuem uma moral que apela para as virtudes da ética clássica (justiça, prudência, temperança e fortaleza) e mesmo para as virtudes teologais já mencionadas e essa moral tem a capacidade de nos consolar. É por isso que, quando acontece algo que entristece uma criança, um instinto nos diz para lhe contar uma história, para que ela fique mais alegre.
3) Recuperação ou cura. Foi Bettelheim também que descobriu o poder curador das histórias (e eu diria do lúdico em geral), ele que usava os contos de fada para curar crianças com deficiência mental.
É por todos esses motivos que o que eu recomendo para um 2015 mais significativo é que se contem mais histórias, não moralistas, mas efetivamente imaginativas, pois é assim que podemos encontrar esperança em meio às turbulências da sociedade da informação.
Para encerrar cito C.S. Lewis como mensagem de Ano Novo: “As coisas que estão porvir são melhores do que as que para trás ficaram”
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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